Sociedade

‘Datafolha acompanha a total descoordenação do governo’

Para o cientista político Rui Tavares Maluf, a tendência é de que a queda na aprovação de Jair Bolsonaro se acentue

‘Datafolha acompanha a total descoordenação do governo’
‘Datafolha acompanha a total descoordenação do governo’
Presidente Jair Bolsonaro (Foto: Carolina Antunes/PR)
Apoie Siga-nos no

A queda acentuada na aprovação do presidente Jair Bolsonaro apresentada pela pesquisa Datafolha desta sexta-feira 22 passa, necessariamente, pelo fim do auxílio emergencial e pelo avanço descontrolado da Covid-19, levando a cenas dramáticas como as de Manaus, que sofre com a escassez de oxigênio nos hospitais. A avaliação é do cientista político Rui Tavares Maluf, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.

“Isso vem acompanhado de algo que está muito claro, que é a total descoordenação do governo na condução desse processo. Isso tende a afetar por enquanto, como o Datafolha mostrou, as pessoas mais esclarecidas, que têm medo do coronavírus. Não é um medo de pânico, mas de informação. Tanto que o Datafolha mostra que naquele segmento das pessoas com perfil bolsonarista, a avaliação continua praticamente estável”, afirmou o professor.

De acordo com o levantamento, 40% dos brasileiros avaliam Bolsonaro como ruim ou péssimo, ante 31% que o consideram bom ou ótimo.

Entre os entrevistados que dizem ter muito medo de contrair a Covid-19, a rejeição a Bolsonaro subiu de 41% em dezembro para 51%, enquanto a aprovação caiu de 27% para 20%. Já no grupo dos que dizem não ter medo, seguindo a retórica bolsonarista, os dados são estáveis em relação ao levantamento anterior: 21% o rejeitam (eram 18%) e 55% o aprovam (eram 53%).

“Agora, nada é eterno. Independentemente de a vacina estar potencialmente disponível – e ela chegará -, é muito claro que as dificuldades continuarão muito grandes. Nesse ponto, governos estaduais, como o de São Paulo, estão muito mais responsáveis em relação a isso”, acrescenta Maluf.

Para o especialista, a insistência de Bolsonaro em um discurso mais “radical” contra a Covid-19 pode funcionar sobre uma parte do eleitorado, “que é muito mal informada”.

“Os alertas dos governos estaduais, do governo de São Paulo, por exemplo, em relação ao fim do ano, já eram muito claros quanto ao cuidado que se deveria ter para as festas natalinas. E aquela cena do presidente desembarcando do jet-ski na Praia Grande é muito simbólica: um monte de gente em volta dele, ele segurando criancinhas, todo mundo sem máscara. E os resultados estão aí”.

Segundo Maluf, no entanto, Bolsonaro pode interromper a tendência de queda se conseguir encampar a recriação de um benefício nos moldes do auxílio emergencial. “É possível que essa queda, que em princípio tende a se manter ou se acentuar, possa vir a ter uma inflexão e ele volte a ter uma ascensão. [Mas] Eu acho que vai se tornando muito aguda a descoordenação do governo”, finaliza.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo