Política

‘Chega de sermos massa de manobra’, diz coronel da PM sobre Bolsonaro

‘Seremos usados e depois abandonados com uma mão na frente e outra atrás’, alerta o policial aos colegas de farda

Foto: Reprodução
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Em vídeo recente que circula nas redes sociais, o tenente-coronel da reserva da Polícia Militar de SP Paulo Ribeiro se contrapõe às convocatórias para os atos golpistas do dia 7 de setembro e alerta colegas de farda para que não caiam ‘num canto da sereia’ de Jair Bolsonaro. Na publicação, também cobra que policiais deixem de ser manipulados por ‘aventureiros irresponsáveis’ com ‘objetivos espúrios’. A informação é do jornal Folha de S. Paulo.

“Chega de sermos massa de manobra. Foi por isso que eu me levantei e resolvi usar minha voz para denunciar que estamos prestes a sermos usados de forma grave, que é a quebra da ordem institucional do país”, afirma Ribeiro na mensagem que viralizou entre os policiais militares. “Seremos usados e depois abandonados com uma mão na frente e outra atrás”, completa o oficial em tom de alerta.

O oficial também conversou com o jornal na quinta-feira 26 e criticou o caráter golpista das manifestações em 7 de setembro, incentivado ‘por pessoas de caráter duvidoso’. Para ele, ‘o silêncio dos bons’ é o que tem as posições da parcela bolsonarista ecoar mais forte dentro das instituições.

Pessoas de caráter duvidoso têm feito uma leitura limitada do primeiro artigo da Constituição que diz que todo poder emana do povo. Com isso, querem convencer pessoas desprovidas de conhecimento que elas podem fazer uma tomada da Bastilha. É preciso lembrar do restante desse parágrafo que diz que esse poder é exercido por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos da Constituição”, critica o PM.

Para ele, nenhum policial militar da ativa deveria participar das manifestações, ainda que estejam de folga e sem farda, como muitos alegam que estarão. “Na condição de policial militar, não adianta eu estar de folga ou à paisana porque, enquanto eu estiver na ativa, eu represento uma instituição e minhas expressões e opiniões têm de estar de acordo com essa condição. E quanto maior a posição na hierarquia, mais peso terá minha influência como formador de opinião e maior será a minha responsabilidade penal, civil ou administrativa em relação a ela”, destaca.

Ribeiro diz ainda não concordar que a polícia seja 80% bolsonarista, como afirmam, mas sim que essa parcela faz ‘mais barulho’ dentro das corporações.

“Esse pessoal indisciplinado é pouco, mas é barulhento. E, neste momento de crise, o que mais está nos atrapalhando é o silêncio dos bons. Nosso pessoal que é respeitador está muito calado. Temos que mostrar que estamos aqui e precisamos lutar pela legalidade do país”, cobra o oficial.

Segundo o policial, o apoio dos ‘barulhentos’ a Jair Bolsonaro é fruto de uma ilusão vendida pelo mesmo durante a campanha e também resultado do erro de gestão de governadores.

“Bolsonaro usa um discurso de empoderamento e de onipotência de policiais. Aqueles que não têm discernimento político suficiente não percebem que aquilo que ele fala não tem lastro, não passa de venda de fumaça. Bolsonaro é um vendedor de ilusões”, opina. “E povo conspira com quem acha que o protege. E essa adesão também se deve, em parte, a um abandono a que nós, forças policiais, estamos submetidos há mais de 25 anos no estado de São Paulo”, acrescenta.

Para o oficial, o governador João Doria (PSDB) “tem responsabilidade pessoal” nessas ameaças golpistas vindas de sua polícia, pois “abriu mão de uma condução efetiva da segurança pública e das forças policiais dando chance para que outro aventureiro” oferecesse apenas “um discurso raso”.

Ribeiro diz ainda não acreditar que os colegas embarquem em uma aventura golpista e que logo ‘cairão na real’ sobre a ilegalidade destas manifestações, mas lamenta que pessoas usem a instituição de forma irresponsável. “Isso pode fazer da polícia terra arrasada, uma instituição desacreditada e manipulada”, finaliza.

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