Economia

Brasil fechou 2022 com 1,5 milhão de trabalhadores em aplicativos de serviço, diz pesquisa

Dados de um novo módulo da PNAD Contínua atestam que trabalhadores plataformizados trabalham mais horas e têm maior proporção de informalidade

Créditos: EBC
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Em 2022, o Brasil tinha um contingente de 1,5 milhão de pessoas trabalhando para aplicativos de serviços como transporte de passageiros ou entrega de comida. O número representava 1,7% da população ocupada no setor privado, que chegava a 87,2 milhões.

O levantamento foi feito pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. As estatísticas, divulgadas nesta quarta-feira 25 pelo IBGE, são experimentais, ou seja, estão em fase de teste e sob avaliação.

52,2% dos trabalhadores (ou 778 mil) exerciam o trabalho principal por meio de aplicativos de transporte de passageiros, em ao menos um dos dois tipos listados (de táxi ou não). Já 39,5% (ou 589 mil) eram trabalhadores de aplicativos de entrega de comida ou produtos, enquanto os trabalhadores de aplicativos de prestação de serviços somavam 13,2% (197 mil).

Ainda de acordo com a pesquisa, a proporção de trabalhadores plataformizados do sexo masculino (81,3%) era muito maior que a dos trabalhadores ocupados no setor privado (59,1%). O grupo de 25 a 39 anos correspondia a quase metade (48,4%) das pessoas que trabalhavam por meio de plataformas digitais.

A maioria dos trabalhadores plataformizados possui níveis intermediários de escolaridade, principalmente no nível médio completo ou superior incompleto (61,3%). Já a população sem instrução e com fundamental incompleto era a menor entre os plataformizados (8,1%), mas correspondia a 22,8% do total de ocupados.

Cerca de 77,1% dos ocupados plataformizados são trabalhadores por conta própria e 9,3% são empregados do setor privado sem carteira assinada.

Condições de trabalho

Os dados também evidenciaram que os trabalhadores plataformizados trabalham mais horas e têm maior proporção de informalidade.

No quarto semestre de 2022, o rendimento médio mensal dos trabalhadores plataformizados (2.645 reais) estava 5,4% maior que o rendimento médio dos demais ocupados (2.510).

Para os dois grupos menos escolarizados, o rendimento médio mensal real das pessoas que trabalhavam por meio de aplicativos de serviço ultrapassava em mais de 30% o rendimento das que não faziam uso dessas ferramentas digitais. Por outro lado, entre as pessoas com o nível superior completo, o rendimento dos plataformizados (4.319 reais) era 19,2% inferior ao daqueles que não trabalhavam por meio de aplicativos de serviços (R$ 5.348).

Os plataformizados trabalhavam habitualmente, em média, 46 horas por semana no trabalho principal, uma jornada 6,5 horas mais extensa que a dos demais ocupados (39,5 horas).

Enquanto 60,8% dos ocupados no setor privado contribuíam para a Previdência, apenas 35,7% dos plataformizados eram contribuintes. Ao mesmo tempo, a proporção de trabalhadores plataformizados informais (70,1%) era superior à do total de ocupados no setor privado (44,2%).

A região Norte se destacou pela maior proporção de trabalhadores por aplicativos de transporte particular de passageiros (excluindo os de táxi): representavam 61,2%, 14 pontos percentuais a mais que a média nacional. A região também foi a que marcou a menor proporção de pessoas que trabalhavam com aplicativos de serviços gerais ou profissionais (5,6%, menos da metade do índice no País). Esse tipo de aplicativo se concentrava no Sudeste, com 61,4% do total dos plataformizados ocupados nas plataformas.

Para Unicamp e MPT, estatísticas ajudarão a fomentar o debate envolvendo trabalho

O novo módulo da PNAD Contínua é fruto de um Acordo de Cooperação Técnica com a Universidade Estadual de Campinas e o Ministério Público do Trabalho.

Para José Dari Krein, economista, pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho e professor do Instituto de Economia da Unicamp, a pesquisa aponta uma realidade que já é estudada pelos pesquisadores.

“Os trabalhadores controlados por empresas de plataforma digital de fato aparecem em condição pior do que a média geral do mercado de trabalho”, afirma. “Seus dados apontam a urgência de repensar a sociedade em um contexto de crise profunda, frente à necessidade de realizar uma transição ecológica e de superar uma crescente desigualdade social.”

Para a procuradora Clarissa Ribeiro Schinestsck, o ineditismo da pesquisa representa um importante passo para subsidiar o debate envolvendo o trabalho em plataformas digitais.

“As estatísticas abrem a possibilidade para a criação de políticas públicas efetivas e para o planejamento da atuação dos órgãos de defesa do trabalho decente, ao mesmo tempo que demonstram claramente a informalidade nesse tipo de trabalho, a forte dependência dos trabalhadores em relação às plataformas, jornadas mais elevadas e rendimento menor do que os trabalhadores ‘não plataformizados’ do setor privado.”

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