Por meio de uma denúncia pública de assédio sexual em uma viagem da empresa Uber, a hashtag #MeuMotoristaAssediador chegou às redes.
A escritora e militante feminista Clara Averbuck foi vítima de um estupro na noite de domingo 27, em São Paulo, quando voltava para casa por meio do aplicativo que conecta motoristas com passageiros.
“Virei estatística”, escreveu. “O nojento do motorista do uber aproveitou meu estado, minha saia, minha calcinha pequena e enfiou um dedo imundo em mim, ainda pagando de que estava ajudando ‘a bêbada’”.
Averbuck conta que ainda não decidiu se fará a denúncia formal por não querer se submeter a violência que é ir na Delegacia da Mulher. “Não quero impunidade de criminoso sexual mas também não quero me submeter à violência de estado. Justamente por ter levado tantas mulheres na delegacia é que eu sei o que me espera. Estou ponderando”.
A partir do relato a escritora lançou a hashtag #MeuMotoristaAssediador, que visa tornar público casos de assédios ocorridos em aplicativos semelhantes.
A reportagem entrou em contato com a central de atendimento da empresa e foi informada que o único canal para denúncias é por meio do site, e que não existe nenhum número de contato que preste socorro à usuária vítima de assédio. Segundo a empresa, o motorista foi banido e ela está prestando apoio à vítima.
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A postagem da escritora sensibilizou as redes sociais. A vereadora Sâmia Bomfim, proponente da CPI da Violência Contra à Mulher, conta que em seu gabinete recebe diversas denúncias de mulheres vítimas de violência que não sabem como recorrer às autoridades. “A cidade precisa avançar na política de combate ao assédio e abuso sexual nos transportes públicos e iniciar o debate sobre a mesma prática nos transportes via aplicativo”, afirma.
Bomfim afirma ainda que uma forma de diminuir esses números pode ser feita por meio de avaliação para as mulheres sobre a temática de gênero, campanhas permanentes de conscientização de passageiros e motoristas, além da possibilidade de pedir uma motorista mulher.
Gabriela Correa, CEO do aplicativo Lady Driver, também foi uma vítima. Assediada por um motorista, Correa optou por não realizar a denúncia por ter iniciado a corrida em um local comum ao seu dia-dia.
Com medo de novos casos de assédio, passou a procurar viagens oferecidas apenas por mulheres. Após perceber a pouca oferta, a administradora decidiu fundar um aplicativo que colocava mulheres motoristas em contato com passageiras, batizado de Lady Driver. “Quis ajudar as mulheres. Da mesma maneira que passageiras podem ser assediadas, motoristas podem sofrer em seu local de trabalho”, conta.