Política

Amazônia tem 62 ataques a jornalistas desde os assassinatos de Dom e Bruno

Segundo o levantamento, 40 homens, 18 mulheres e quatro equipes foram alvo de violência na região

O Indigenista Bruno Araújo e o jornalista Dom Phillips. Foto: Daniel Marenco | Reprodução
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Um levantamento divulgado pela organização Repórteres Sem Fronteiras aponta que desde o assassinato do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Araújo no Vale do Javari (AM), em 5 de junho de 2022, 62 casos de ataques contra jornalistas na Amazônia foram registrados.

As informações são preliminares e constam de um estudo do Observatório de Violações da Liberdade de Imprensa na Amazônia.

Segundo o levantamento, 40 homens, 18 mulheres e quatro equipes foram alvo de violência na região. Em ao menos 13 casos, houve agressão física.

Os ataques incluem cinco ameaças de morte, três atentados a sedes de veículos e quatro processos judiciais com decisões arbitrárias contra os profissionais da imprensa.

Ainda de acordo com o relatório, mais da metade dos agressores é declaradamente de extrema-direita, a exemplo de “membros do crime organizado, trabalhadores de empresas de mineração, de garimpos, setores agroindustriais e turísticos”.

Dom e Bruno foram mortos enquanto viajavam para entrevistar líderes indígenas e ribeirinhos em comunidades próximas ao Vale do Javari. O jornalista preparava um livro sobre a Amazônia, enquanto Bruno – licenciado da Funai desde 2020 – trabalhava como consultor técnico da Univaja.

Suspeito de ser o mandante do crime, o empresário Rubens Villar Pereira obteve habeas corpus da Justiça e está em liberdade provisória desde outubro do ano passado, após pagar uma fiança de 15 mil reais.

Atualmente, três pessoas acusadas de participação nas mortes estão presas, à espera de julgamento. Há três semanas, o ex-presidente da Funai, Marcelo Xavier, e o ex-vice presidente Alcir Amaral Teixeira foram indiciados por omissão no caso.

Entidades e organizações cobram mais segurança

Em meio às solenidades da data, entidades e organizações da sociedade civil se reuniram, em São Paulo, para exigir do governo federal mais segurança a jornalistas e respostas à violência na Amazônia Legal.

Jornalistas do Forbbiden Stories – consórcio de veículos e repórter na cobertura colaborativa dos crimes ambientais na região fronteiriça do Vale do Javari – e entidades de classe apontam “negligência” do governo federal ante a mecanismos “inoperantes” de proteção a jornalistas e povos indígenas locais.

“O Estado brasileiro não é ausente, é inoperante”, disse o jornalista Rodrigo Pedroso, citando a atuação de dois batalhões do Exército na região. “Quando questionamos as operações dos pelotões responsáveis pela segurança local, nos enviam dados sobre de efetivo e combustível, por exemplo. Mas para que?”, questiona.

Embora o Brasil tenha subido posições no mais recente ranking do Repórteres Sem Fronteiras, que mapeia globalmente a liberdade de expressão, ainda está abaixo dos 100 primeiros países classificados pelo indicador. “O assassinato de Bruno e Dom não é um caso isolado, faz parte de um cenário sistêmico e estruturado contra as vozes que denunciam abusos e violações de denúncia contra os povos indígenas”, lamenta Artur Romeu, diretor do escritório da América Latina do RSF.

Rodrigo Portella, porta-voz do Observatório Nacional da Violência contra Jornalistas, ligado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, ressalta que o governo Lula busca criar políticas para fortalecer a integridade legal e física de jornalistas no Brasil – especialmente e em regiões sensíveis como a do Vale do Javari.

O observatório, explicou, busca articular uma rede de cooperação técnica de assessoria jurídica gratuita entre governo federal e jornalistas de todo o país. “Queremos trazer não só a grande imprensa, mas também jornalistas independentes e periféricos”, afirmou.

Em breve, será lançado um canal de denúncias contra violações contra jornalistas, segmentado por tipo de infração.

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