Saúde

Situação da pandemia no Brasil pode piorar no verão, diz pesquisador

Sete capitais brasileiras possuem uma ocupação superior a 90% em unidades de terapia intensiva

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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O Brasil superou nesta sexta-feira 11 as 180 mil mortes pelo novo coronavírus, em meio a um repique da doença que levou vários estados a adotarem novas medidas preventivas, apesar de o presidente Jair Bolsonaro garantir que o país está “no finalzinho” da pandemia.

 

Nas últimas 24 horas, o Ministério da Saúde notificou a morte de 672 pessoas, elevando o total de vítimas fatais no país a 180.437, um balanço superado apenas pelos Estados Unidos, o país mais enlutado pela Covid-19, que já matou mais de 1,5 milhão de pessoas no mundo.

Os contágios no Brasil somam 6.836.227, com 54.428 novos casos nas últimas 24 horas.

As curvas de mortes e casos registraram uma ascensão preocupante nas últimas semanas.

A média de mortes em sete dias é de 635 contra 324 há exatamente um mês, em 11 de novembro. Este foi seu mínimo desde o pico da pandemia, entre junho e agosto, quando eram registradas mais de 1.000 mortes diárias.

Especialistas alertam para um cenário que poderá ser ainda mais sombrio após as reuniões familiares no final do ano e com o verão que se inicia, neste país de 211,8 milhões de habitantes.

“(A situação) pode piorar quando chegar o verão porque tem até mais circulação de pessoas, não há medidas de controle e parte das políticas de isolamento foram desmontadas”, explica à AFP o pesquisador Christovam Barcellos, da Fiocruz.

A previsão contrasta com a do presidente Jair Bolsonaro, que desde o início da pandemia criticou as medidas de confinamento por causa do seu impacto econômico e afirmou na quinta-feira que o país vive “o finalzinho da pandemia”.

“O presidente está equivocado, não sei de onde tira isso, nenhum indicador mostra isso. Nós estamos vivendo um período de inflexão para cima, estávamos caindo, agora estamos subindo” nos números, acrescenta Barcellos.

Novas restrições

“As pessoas estão sendo muito estimuladas a se deslocar para fazer compras de Natal, para comemorar o Natal e o Ano Novo, com confraternizações e saídas a restaurantes”, afirma o pesquisador José David Urbáez, da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Alguns estados e municípios estão tentando conter o processo de flexibilização iniciado quando a pandemia tinha dado sinais de ter recuado – atingindo em novembro uma média de 330 mortes por dia – após ter permanecido em um patamar de mais de 1.000 falecimentos, entre junho e agosto.

O estado do Mato Grosso do Sul ordenou toque de recolher noturno a partir da próxima segunda-feira, por quinze dias.

No Rio de Janeiro, onde os shoppings receberam permissão para funcionar 24 horas em dezembro, a prefeitura proibiu estacionar nas praias aos finais de semana e feriados.

Os relatórios indicam, ainda, que sete das 27 capitais brasileiras possuem uma ocupação superior a 90% em unidades de terapia intensiva (UTI).

A superlotação das UTIs responde a “uma desmobilização dos serviços de saúde” após o surgimento da pandemia.

“Muitos profissionais foram demitidos, hospitais de campanha e equipamentos foram desmontados. Isso é muitíssimo preocupante”, observa Barcellos.

Falsa tranquilidade

A perspectiva de uma vacina no curto prazo é uma faca de dois gumes, que provoca uma falsa segurança, alertam os especialistas.

“Dizem que podemos ficar tranquilos porque a vacina está perto”, mas “o discurso deveria ser mais o de ‘fique em casa, que a vacina já está chegando”, ressalta o infectologista Urbáez.

A eventual autorização de uma vacina também se tornou outra fonte de confronto político.

Bolsonaro questiona a possível utilização da Coronavac, vacina do laboratório chinês Sinovac, que realiza sua terceira e última fase de estudos em São Paulo, governado por João Doria, seu adversário político.

“Todas esses movimentos fracionados não vão ter o impacto da dimensão que se requer”, porque para ter um impacto relevante de uma campanha de vacinação, é necessária uma “coordenação nacional”, explica Urbáez.

O infectologista faz questão de lembrar à população o básico: “Estamos numa pandemia, com um vírus altamente transmissível, que tira a vida dos mais vulneráveis e por isso temos que nos proteger e não ir festejar o final deste ano”.

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