Saúde

O pensamento traduzido

Cientistas fizeram uma tetraplégica comandar um braço biônico. Desta vez, com precisão e controle inéditos

Futuro. Tal tecnologia poderia devolver a visão, a audição e até mesmo a sensibilidade perdida
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Há pouco mais de um ano, o cientista brasileiro que chefia um dos grupos pioneiros no desenvolvimento de tecnologia, que permite que pacientes paralíticos movimentem seus membros, professor Miguel Nicolelis, da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, já previa avanços expressivos no futuro próximo. Um grande salto aconteceu recentemente. Cientistas da Universidade de Pittsburgh, também nos Estados Unidos, conseguiram fazer com que uma paciente de 52 anos, Jan Scheuermann, tetraplégica, incapaz de qualquer movimento dos membros inferiores e superiores, comandasse um braço biônico. Ela fez com que a mão trouxesse até a sua boca um pedaço de chocolate. E o mordeu com radiante satisfação. Mas qual seria a novidade, se já tínhamos mostrado algo semelhante nas pesquisas do professor Nicolelis?

A qualidade do movimento, a precisão e o controle fino pelo cérebro da paciente foram impressionantes. Os implantes de componentes eletrônicos no sistema nervoso estão revolucionando a medicina. Poucas semanas atrás, outro grupo de cientistas, trabalhando na Suíça, implantou eletrodos na retina de uma pessoa cega. Após algum tempo de adaptação e treino, o paciente conseguiu enxergar novamente. Apesar de a qualidade da imagem ainda estar longe da perfeição e da nitidez desejadas, as pessoas que viviam por anos na escuridão não conseguem conter a emoção. Distinguir silhuetas, sombras e formas, é o primeiro passo para o que poderá ser o caminho e o futuro de uma visão útil.

Voltando ao feito de Scheuermann, os neurocientistas, que a tratam, mapearam seu cérebro com o auxílio de um aparelho de ressonância magnética funcional, para precisar o local mais apropriado para a colocação dos chips. Neurocirurgiões da Universidade de Pittsburgh realizaram uma pequena operação para implantar os microeletrodos na superfície do cérebro, exatamente em cima da área responsável pelo comando de movimentação do membro superior. Esses eletrodos transmitem, em tempo real, as ondas elétricas geradas pelos neurônios naquela área do cérebro, cada vez que Scheuermann comandava seu braço. Após duas semanas de treinamento da paciente, para mentalmente operar o equipamento, um computador com sofisticado programa de software recebia esses sinais e fazia a tradução praticamente -instantânea dos comandos de Jan, e a -enviava ao braço robótico.

A melhora dessa tradução foi o salto mais impressionante realizado pelos pesquisadores de Pittsburgh. O comando foi obedecido com fluidez e precisão nunca antes alcançadas. Os resultados desse estudo foram publicados na prestigiosa revista médica Lancet. Abriu-se um horizonte infinito de possibilidades para o controle mental de próteses e implantes artificiais. Os autores do estudo deixam muito claro o potencial dessa tecnologia, mas alertam sobre as limitações técnicas ainda existentes. São os primeiros passos para devolver os movimentos aos paralíticos, a visão aos cegos e a audição aos surdos. Os cientistas estão trabalhando atualmente em modelos que possam, eventualmente, permitir informações de retorno ao cérebro. Permitiriam que informações sobre temperatura, textura e consistência de objetos tocados pelas próteses, sejam transmitidas de volta ao cérebro. Devolveriam, assim, a sensibilidade perdida com a paralisia.

Apesar de todos ficarmos maravilhados com essas realizações fantásticas, surgem as dúvidas e as preocupações de legisladores e especialistas em ética médica. Os custos desses procedimentos, obrigação de autoridades públicas em fornecer essas opções a todos os deficientes da sociedade, e o possível uso indevido dessa tecnologia, levando pessoas normais a aumentar a eficiência de braços ou pernas. Isso sem mencionar a discriminação contra deficientes físicos. Questões importantes cuja discussão, em paralelo às conquistas científicas, avança a passos largos. Já se programam congressos e simpósios dedicados a esse tema. Trataremos dessas controvérsias em futuros artigos. Aguardem!

Há pouco mais de um ano, o cientista brasileiro que chefia um dos grupos pioneiros no desenvolvimento de tecnologia, que permite que pacientes paralíticos movimentem seus membros, professor Miguel Nicolelis, da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, já previa avanços expressivos no futuro próximo. Um grande salto aconteceu recentemente. Cientistas da Universidade de Pittsburgh, também nos Estados Unidos, conseguiram fazer com que uma paciente de 52 anos, Jan Scheuermann, tetraplégica, incapaz de qualquer movimento dos membros inferiores e superiores, comandasse um braço biônico. Ela fez com que a mão trouxesse até a sua boca um pedaço de chocolate. E o mordeu com radiante satisfação. Mas qual seria a novidade, se já tínhamos mostrado algo semelhante nas pesquisas do professor Nicolelis?

A qualidade do movimento, a precisão e o controle fino pelo cérebro da paciente foram impressionantes. Os implantes de componentes eletrônicos no sistema nervoso estão revolucionando a medicina. Poucas semanas atrás, outro grupo de cientistas, trabalhando na Suíça, implantou eletrodos na retina de uma pessoa cega. Após algum tempo de adaptação e treino, o paciente conseguiu enxergar novamente. Apesar de a qualidade da imagem ainda estar longe da perfeição e da nitidez desejadas, as pessoas que viviam por anos na escuridão não conseguem conter a emoção. Distinguir silhuetas, sombras e formas, é o primeiro passo para o que poderá ser o caminho e o futuro de uma visão útil.

Voltando ao feito de Scheuermann, os neurocientistas, que a tratam, mapearam seu cérebro com o auxílio de um aparelho de ressonância magnética funcional, para precisar o local mais apropriado para a colocação dos chips. Neurocirurgiões da Universidade de Pittsburgh realizaram uma pequena operação para implantar os microeletrodos na superfície do cérebro, exatamente em cima da área responsável pelo comando de movimentação do membro superior. Esses eletrodos transmitem, em tempo real, as ondas elétricas geradas pelos neurônios naquela área do cérebro, cada vez que Scheuermann comandava seu braço. Após duas semanas de treinamento da paciente, para mentalmente operar o equipamento, um computador com sofisticado programa de software recebia esses sinais e fazia a tradução praticamente -instantânea dos comandos de Jan, e a -enviava ao braço robótico.

A melhora dessa tradução foi o salto mais impressionante realizado pelos pesquisadores de Pittsburgh. O comando foi obedecido com fluidez e precisão nunca antes alcançadas. Os resultados desse estudo foram publicados na prestigiosa revista médica Lancet. Abriu-se um horizonte infinito de possibilidades para o controle mental de próteses e implantes artificiais. Os autores do estudo deixam muito claro o potencial dessa tecnologia, mas alertam sobre as limitações técnicas ainda existentes. São os primeiros passos para devolver os movimentos aos paralíticos, a visão aos cegos e a audição aos surdos. Os cientistas estão trabalhando atualmente em modelos que possam, eventualmente, permitir informações de retorno ao cérebro. Permitiriam que informações sobre temperatura, textura e consistência de objetos tocados pelas próteses, sejam transmitidas de volta ao cérebro. Devolveriam, assim, a sensibilidade perdida com a paralisia.

Apesar de todos ficarmos maravilhados com essas realizações fantásticas, surgem as dúvidas e as preocupações de legisladores e especialistas em ética médica. Os custos desses procedimentos, obrigação de autoridades públicas em fornecer essas opções a todos os deficientes da sociedade, e o possível uso indevido dessa tecnologia, levando pessoas normais a aumentar a eficiência de braços ou pernas. Isso sem mencionar a discriminação contra deficientes físicos. Questões importantes cuja discussão, em paralelo às conquistas científicas, avança a passos largos. Já se programam congressos e simpósios dedicados a esse tema. Trataremos dessas controvérsias em futuros artigos. Aguardem!

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