Saúde

Novas variantes do coronavírus têm melhor adaptação aos humanos e preocupam cientistas

CartaCapital ouviu especialistas sobre aumento no número de mortes e casos devido à maior taxa de transmissão

Apoie Siga-nos no

A nova cepa brasileira do coronavírus, identificada primeiramente no Amazonas em dezembro de 2020, preocupa os cientistas por ser mais transmissível e por atingir também os mais jovens. A variante, que é mais resistente, pode ser a responsável pelo aumento significativo de casos em janeiro, a ponto de colapsar o sistema de saúde do estado.

O pesquisador Felipe Naveca, da Fiocruz do Amazonas, explica que os vírus normalmente passam por um processo de evolução muito mais rápido que qualquer outro organismo, principalmente os que têm como genoma o RNA, como é o caso do coronavírus.

“Isso é um reflexo da adaptação do vírus ao ser humano, já que ele veio de um animal. Se eu tenho um vírus agora adaptado ao ser humano, vai se espalhar muito mais”, diz.

Além da mutação brasileira, outras variantes foram encontradas no Reino Unido e na África do Sul. O pesquisador explica que nos três locais as mudanças ocorreram de forma semelhante, o que acende um alerta para possíveis novas alterações em outras regiões.

“Quanto mais pessoas infectadas, mais mutações vão ocorrer. Por isso que é importante diminuir circulação do vírus agora”, afirma o pesquisador.

O aumento dos casos no Brasil está associado à nova cepa?

Com mais de 280 mil óbitos por Covid-19, o Brasil viu os números de infectados e mortos dispararem após a confirmação da variante. Segundo especialistas, há um risco iminente de colapso do sistema de saúde em vários estados.

Para o médico sanitarista e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) Gonzalo Vecina, a mutação brasileira é a responsável pelo aumento dos casos, mas há também outros fatores.

“O que vemos é que os vírus estão evoluindo para nos combater, estão mais transmissíveis e agressivos. Com certeza isso gera uma maior disseminação, mas coincide também com um maior relaxamento social. É o cenário perfeito para a tempestade que está acontecendo ultimamente no Brasil”, afirma.

Pesquisadores da Fiocruz coletaram cerca de mil amostras dos estados de Alagoas, Ceará, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Pelos resultados, os cientistas acreditam que a nova cepa já se encontra em todo o País, com prevalência nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste.

Mais jovens infectados

Além do aumento dos casos, a mudança no grupo atingido pela Covid-19 chamou a atenção dos pesquisadores. As pessoas mais jovens, que não são do grupo de risco, começaram a ter sintomas mais graves da doença.

Naveca não descarta que o aumento de infectados pode estar associado à mutação do coronavírus, mas acredita que o comportamento dos mais jovens pode ser a resposta central para a situação.

“Os mais jovens abandonaram as restrições. Não temos certeza se é biológico ou comportamental. Talvez as duas coisas. Nós baixamos a guarda antes da hora, justamente no momento que temos um vírus mais transmissível em circulação”, afirma o pesquisador.

Gonzalo segue o mesmo entendimento sobre o assunto. “O vírus é mais transmissíveis e os jovens estão menos despreocupados. São os que mais estão saindo neste momento de cansaço da pandemia. Essa é a principal razão. As crianças voltando às aulas, com maior exposição, é natural que os casos aumentem”, afirma.

As vacinas combatem a nova cepa?

Cientistas temem que as novas cepas escapem de anticorpos gerados pelas vacinas, diminuindo a eficácia dos imunizantes.

Até o momento, no entanto, as informações são positivas. Dados preliminares de um estudo realizado na Universidade de Oxford, na Inglaterra, indicam que a vacina contra a Covid-19 da AstraZeneca é eficaz contra a variante brasileira, por exemplo.

A CoronaVac, do laboratório chinês Sinovac, também se mostrou eficaz contra a mutação, de acordo com estudo feito pelo Instituto Butantan e divulgado por uma fonte da Reuters. As duas análises indicam que as vacinas não precisarão ser modificadas.

“As vacinas continuam protegendo, mas até quando? Pode surgir uma que escape da vacina, e ai teremos um problema muito sério. Precisamos agilizar a vacinação, as medidas restritivas e não continuar arriscando”, esclarece Naveca.

A prevenção muda?

Uma outra preocupação que surgiu entre os cientistas é a prevenção da nova cepa do coronavírus. Se o vírus é mais transmissível, as máscaras ainda são eficazes?

Naveca explica que ainda não há um estudo, mas as medidas de prevenção devem continuar as mesmas: uso de máscara, álcool em gel e evitar aglomerações.

“Se a quantidade da nova cepa aumentar, pode ser que as máscaras não consigam segurar a transmissão, mas ainda não há estudo que prove isso”, diz o pesquisador.

Ele alerta sobre o uso correto das proteções. “A máscara de pano tem que ser de 3 camadas. Uma só não vai ter um nível de proteção suficiente. É preciso proteger o contorno todo do rosto e nunca utilizá-la abaixo do nariz. Mas, mesmo com máscara, se a pessoa tiver em um ambiente fechado e aglomerado, as chances de se contaminar são muito maiores”, diz.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo