Saúde

Coronavac tem eficácia geral de 50,38%, anuncia Butantan

A taxa mínima recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e também pela Anvisa é de 50%

Foto: Divulgação/Governo de São Paulo
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O Instituto Butantan anunciou nesta terça-feira 12 que a vacina Coronavac, desenvolvida no Brasil em parceria com a chinesa Sinovac, tem eficácia geral de 50,38%. A taxa mínima recomendada pela Organização Mundial da Saúde  e também pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária é de 50%.

Os testes foram feitos em 12.508 voluntários no país, todos profissionais de saúde.

“[O teste] não é a vida real exatamente. É um teste artificial, no qual selecionamos dentro das populações possíveis, selecionamos aquela população que a vacina poderia ser testada com a barra mais alta. A gente quer comparar os diferentes estudos, mas é o mesmo que comparar uma pessoa que faz uma corrida de 1km em um trecho plano e uma pessoa que faz uma corrida de 1 km em um trecho íngreme e cheio de obstáculos. Fizemos deliberadamente para colocar o teste mais difícil para essa vacina, porque se a vacina resistir a esse teste, iria se comportar infinitamente melhor em níveis comunitários”, disse o diretor de pesquisa do Instituto Butantan, Ricardo Palácios.

Na coletiva de imprensa, o diretor do instituto, Dimas Covas, reforçou a necessidade de início da vacinação.

“O Butantan pretende que essas vacinas sejam destinadas ao público. Não temos ações na Bolsa, não temos outro objetivo que não oferecer à população oferecer uma vacina eficiente. Nenhuma companhia apresentou dados como bamos apresentar aqui antes de ter a autorização para uso emergencial. Nenhuma! Nem no exterior, nem aqui no Brasil. Isso mostra o nosso total comprometimento com o desenvolvimento dessa vacina, nossa total transparência no processo. Uma vacina que foi duramente criticada por ser desenvolvida em parceria com a China, como isso fosse um pecado. Ousamos, fomos à frente, nos arriscamos, mas as vacinas estão em solo brasileiro. Estão aqui no Butanta. Seis milhões prontas, quatro milhões em processamento. Vacina para o povo do Brasil: esse é o nosso objetivo”, afirmou.

“Precisamos urgentemente começar a vacinação. A vacina está disponível. Por que não usá-la? Por que atrasar o uso desta vacina? Ela tem segurança, tem eficácia, tem todos os requisitos que justificam seu uso emergencial”, continuou Covas.

Em conversa com CartaCapital, José Cássio de Moraes, doutor em Saúde Pública e professor da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, apontou os benefícios individuais e coletivos.

“Se conseguirmos reduzir em cerca de 60% a ocorrência de formas sintomáticas e graves da doença, teríamos um benefício individual, já que reduziria o risco da forma grave ou mesmo morrer. Além do benefício coletivo imediato de aliviar o nosso sistema de saúde já sobrecarregado. O valor se aproxima do índice da vacina contra a Influenza (gripe), para previnir formas graves”, afirmou.

“As vacinas disponíveis contra a Covid-19 visam reduzir as formas graves e nenhuma delas se propõe reduzir a transmissão. Por isso, é importante a manutenção das medidas não farmacêuticas, como distanciamento social, uso de máscara e a não aglomeração”, acrescentou Moraes.

Na quinta-feira 7, o governo de São Paulo divulgou que os estudos apontaram que a vacina protege 78% das pessoas que a tomam contra a Covid-19.

De acordo com o governo, o imunizante garantiu a proteção total (100%) contra mortes, casos graves e internações nos voluntários vacinados que foram contaminados. Nenhum dos infectados precisou de internação hospitalar, informou o Instituto Butantan.

Autorização emergencial

Na sexta-feira 8, o Butantan protocolou na Anvisa o pedido de autorização para uso emergencial da Coronavac.

Em resposta, no sábado 9, a agência alegou que o instituto não enviou a documentação completa, mas que a análise da solicitação seguiria normalmente.

O governador João Doria, então, cobrou “senso de urgência” da Anvisa na liberação da vacina.

Em nota, a Anvisa reforçou que “a submissão dos documentos técnicos previstos no Guia é condição necessária para viabilizar a avaliação, conclusão e a deliberação sobre a autorização de uso emergencial das vacinas”. A agência também informou que já estava em contato com o Butantan para discutir “prazos e cronogramas para apresentação dos dados faltantes”. No sábado, as equipes técnicas da agência e do instituto realizaram duas reuniões para tratar da questão.

O diretor do Butantan, Dimas Covas, também pediu agilidade.

“Eu não tenho pretensão em relação a essa vacina. Ela precisa chegar no braço do brasileiro, o quanto antes possível. Se vai ser A, B ou C, eu vou ficar satisfeito. Temos seis milhões de doses de vacina na prateleira e isso não está sendo usado. Isso dói no meu coração”, afirmou em entrevista ao UOL.

Covas também minimizou os questionamentos sobre os resultados detalhados dos testes do imunizante no Brasil. “Não existe dúvida sobre a eficácia clínica da Coronavac. Se você quer saber o efeito, é este efeito que foi anunciado: 78% para caso leves e 100% para casos graves e moderados. Essa é a eficácia, isso que importa, a eficácia clínica. Se esse é um dado secundário, isso são detalhes do estudo científico, não tem a ver com a validade no público”, completou.

Custo benefício

Para o professor José Cássio, a CoronaVac e a vacina da AstraZeneca/Oxford, que tem a Fundação Oswaldo Cruz como responsável no País, são as de melhor custo-benefício.

“As vacinas da Aztrazeneca e a Coronavac podem ser conservadas de 2° C a 8° C, que são as temperaturas que os imunizantes do nosso calendário são mantidos. Do ponto de vista de logística e para nossa realidade, elas têm uma possibilidade maior de conservação”, disse Moraes.

“A vacina da Pfizer, por exemplo, tem que ser mantida a -70° C e nas unidades básicas de saúde não têm como mantê-las, pela logística de conservação mais complicada. A da Moderna pode ser mantida a -20° C e as UBS também não têm geladeiras para esse tipo de conservação. Se a gente for investir em compra de freezers específicos, teríamos um grande investimento que só serviria para essas vacinas”, explica.

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