Política

Comissão da Câmara repudia Bolsonaro por dizer que proteção de idosos não é da conta do Estado

Presidente defendeu que famílias ponham idosos ‘num canto’; ‘inaceitável’, diz a deputada federal Lídice da Mata sobre a fala

Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados
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A presidência da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa (Cidoso) da Câmara dos Deputados publicou uma nota de repúdio contra o presidente Jair Bolsonaro por dizer que “cada família tem que proteger seus idosos, não jogar isso para o Estado”, em relação ao combate ao novo coronavírus.

A declaração de Bolsonaro ocorreu durante entrevista ao programa Brasil Urgente, da emissora Band. Na ocasião, o presidente afirmou que os estados que decretaram quarentena cometeram excessos e defendeu a volta à normalidade por parte de pessoas que não componham o grupo de risco.

“A população, não só eu, está reclamando que foi excessivo. Quem tem abaixo dos 40 anos de idade não tem que se… Lógico, tem que se preocupar para não transmitir o vírus para outros. Mas para ele, para a sua vida, é quase zero esse risco”, disse o presidente.

Em seguida, Bolsonaro recomendou que as pessoas coloquem os idosos “num canto” e que os mais jovens retornem ao trabalho.

“Devemos sim, em primeiro lugar, cada família cuidar dos mais idosos. Não pode deixar na conta do Estado. Cada família tem que botar o teu vovô, a tua vovó, num canto, e evitar o contato com ele a menos de dois metros. É isso o que tem que ser feito. O resto tem que trabalhar. Porque o que está havendo é a destruição de empregos no Brasil”, argumentou.

O documento assinado pela deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA), presidente da Comissão, classifica a declaração de Bolsonaro como “inaceitável” e destaca que a população mais velha é a mais vulnerável à doença.

“Essa população, que contribuiu a vida toda pelo desenvolvimento do país, agora precisa, sim, de todo o apoio do Estado, e não só das famílias”, sustenta a parlamentar.

Lídice lembra que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população idosa no Brasil aumentou 19,5% entre 2012 e 2017, saltaando de 25,4 milhões para mais de 30 milhões de pessoas. Em albergues públicos, cita a deputada, são mais de 60 mil pessoas idosas residentes.

“Reforçamos nosso repúdio à fala do presidente da República, ao mesmo tempo em que reiteramos todos os pedidos feitos, enquanto parlamentar e também pela Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa da Câmara, para que as pessoas idosas, bem como os profissionais de saúde e de Instituições de Longa Permanência de Idosos (ILPIs) sejam priorizados no recebimento de equipamentos, testes e todas as providências necessárias à preservação da vida”, reivindicou a parlamentar.

A postura insistente de Bolsonaro em defender o isolamento vertical, voltado apenas para idosos, é criticada por diferentes autoridades públicas. Em consecutivas oportunidades, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que o governo federal não pode defender o isolamento vertical, enquanto não apresenta um projeto para impedir que os idosos se contaminem através dos jovens que voltarem ao trabalho.

O próprio Exército publicou um estudo em que afirma que o modelo horizontal de isolamento (voltado também a quem não compõe o grupo de risco) “tem se apresentado mais eficiente para atender as demandas emergenciais de saúde pública”. No documento de 22 páginas, o Centro de Estudos Estratégicos do Exército (CEEEx) diz que “o Estado será o grande protagonista de auxílio e de recuperação econômica”, com soluções que agilizem a transferência de renda e demais ações que reduzam eventuais pressões sociais.

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