Saúde
Adulteração de bebidas com metanol: como funciona, quais sintomas e como se proteger
A Secretaria de Saúde de São Paulo investiga ao menos 22 casos relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas e 5 mortes


O Brasil assiste a um surto alarmante de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas vendidas em São Paulo. A Secretaria Estadual de Saúde investiga ao menos 15 casos de intoxicação por metanol relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas no estado e 5 mortes.
Segundo o governo paulista, são 22 casos ao todo, entre confirmados e suspeitos. Dos óbitos, um deles está confirmado para a ingestão de metanol em bebidas alcoólicas batizadas, e quatro ainda tem a causa investigada, sendo 3 casos na cidade de São Paulo e um em São Bernardo do Campo.
Casos de contaminação por álcool adulterado não são novidade. Outros surtos marcaram o país, como as 35 mortes por cachaça adulterada na Bahia, em 1999, e o caso da cerveja Belorizontina, em Minas Gerais, em 2020, que deixou dez mortos e quase vinte pessoas com sequelas graves.
Desta vez, a contaminação deixou vítimas jovens, de classe média, em áreas centrais da capital, um sinal de que a rede de falsificação alcançou novos espaços e bebidas destiladas mais caras, como gin, whisky e vodka.
O Ministério da Saúde monitora os casos. A orientação é que todas as unidades de saúde, em especial a rede de urgência e emergência, sigam o protocolo de notificação para casos suspeitos de intoxicação com agente tóxico de origem externa.
Como funciona a adulteração
O consultor de marketing Adalberto Viviani, colunista de CartaCapital com mais de 20 anos de experiência no mercado de bebidas, explica que a adulteração se espalha justamente nas brechas da cadeia de distribuição.
“Há alguma garantia quando falamos de empresas grandes. Já as adegas podem comprar de fornecedores variados. As bebidas destiladas muitas vezes não têm distribuidores específicos; elas são distribuídas por intermediários, e aí todo mundo acaba vendendo de tudo”, explica. “E é esse o risco.”
Essa cadeia clandestina envolve desde fábricas que destilam ou misturam produtos em tonéis de plástico (muitas vezes reaproveitados e contaminados com metanol) até operadores que reaproveitam garrafas ‘marcadas’ compradas em lixões para dar ar de legitimidade ao produto.
Os falsificadores, explica Viviani, preferem os destilados porque exigem menos processos e permitem lucro maior e mais rápido. “Pegar uma cerveja barata, passar para um tonel, tirar o rótulo, fazer uma nova etiqueta, colocar tampinha… Daria muito mais trabalho.”
Apesar da enorme repercussão e da gravidade dos casos, os nomes dos estabelecimentos envolvidos não têm sido divulgados pela imprensa. Para Viviani, falta transparência. “Não é para ferrar o bar”, argumenta. “É para que outros bares e consumidores saibam que há risco se não comprarem de distribuidores e adegas conhecidos. Quem se ferra de verdade, se nada for feito, é o consumidor.”
As vítimas
Uma reportagem exibida no Fantástico, da TV Globo, no domingo 28, trouxe à tona histórias de vítimas da contaminação por bebidas adulteradas com metanol. O caso mais grave é o de Rafael, internado há 28 dias após consumir uma bebida comprada em uma adega com amigos. Segundo relato da mãe, o jovem está em coma, cego e respirando com ajuda de aparelhos. Os médicos consideram os danos irreversíveis.
Um dos amigos, Diogo Marques, também foi hospitalizado. Ele passou três dias internado e chegou a relatar perda temporária da visão depois de ingerir a mesma bebida. Diferentemente de Rafael, conseguiu se recuperar. A Polícia Civil investiga o caso e já apreendeu bebidas no estabelecimento para perícia.
Outra vítima, a jovem Rhadarani Domingos, relatou ao programa ter sofrido intoxicação grave após beber três caipirinhas durante uma confraternização em uma área nobre da capital. Internada, ela também perdeu a visão, sofreu uma convulsão e precisou ser intubada.
Quais são os sintomas da intoxicação por metanol?
- Visão turva ou perda de visão, podendo evoluir para cegueira.
- Mal-estar generalizado.
- Náuseas, vômitos e dores abdominais.
- Sudorese intensa.
A intoxicação pode levar à morte se não houver atendimento rápido.
O que fazer se apresentar sintomas?
- Procure imediatamente um serviço de emergência médica.
- Contate ao menos um dos canais de apoio:
- Disque-Intoxicação da Anvisa: 0800 722 6001
- CIATox (Centro de Informação e Assistência Toxicológica) da sua cidade
- CCI-SP (Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo): (11) 5012-5311 ou 0800-771-3733
Como reduzir o risco ao consumir bebidas alcoólicas?
- Sempre peça para o drink ser preparado na sua frente.
- Verifique a garrafa e se o lacre está íntegro.
- Prefira consumir em bares, restaurantes e adegas de confiança.
- Evite bebidas de procedência duvidosa ou vendidas a preços muito abaixo do mercado.
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