Saúde

A vacina do Butantan pode ajudar a conter o surto de dengue no Brasil?

Em três meses, o País chegou à marca de 1 milhão de casos prováveis da doença; a expectativa é que a vacina esteja disponível no início de 2025

Foto: Governo de São Paulo/Divulgação
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A explosão de casos de dengue no Brasil já fez que ao menos sete estados decretassem situação de emergência em saúde pública. Além do Distrito Federal, Acre, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Santa Catarina, estão com emprego urgente de medidas de prevenção e contenção de riscos.

Ao todo, o País já chegou a 1 milhão de casos de dengue nos três primeiros meses de 2024. Um aumento de 390% comparado ao mesmo período do ano passado, quando o País registrava 207.475 casos.

Apesar do Ministério da Saúde já ter garantido a disponibilização de vacinas contra a dengue no SUS, a quantidade dos imunizantes só será suficiente para vacinar 10% das cidades do País.

A primeira remessa da vacina Qdenga, produzida pelo laboratório japonês Takeda, contém apenas 720 mil doses. Ao todo, nesta primeira fase, a pasta deve receber 1,32 milhão de doses do imunizante. 

No entanto, levando em conta que o imunizante precisa de duas doses e deve ser aplicado com intervalo mínimo de três meses, foi preciso selecionar como público-alvo a faixa etária de 10 a 14 anos, que concentra o maior número de hospitalização por dengue, cerca de 16,4 mil de janeiro de 2019 a novembro de 2023, segundo o Ministério da Saúde. 

Também foram selecionados pela pasta 521 municípios brasileiros que possuem maior incidência e transmissão do vírus. A vacinação já começou em pelo menos oito capitais.

A preocupação é que, com o aumento expressivo de casos, o País também registre mais mortes por casos graves da doença, que podem causar hepatite e insuficiência renal, além do quadro de dengue hemorrágica, o mais letal. 

Estes já subiram 196,7% em 2024 na comparação com o ano passado, conforme o boletim do Ministério da Saúde divulgado em 20 de fevereiro. Até a publicação da matéria, o total de óbitos confirmados pela doença é de 207.

Por conta disso, foram intensificados os testes para o lançamento de uma vacina nacional, a Butantan-DV, que promete prevenir os casos graves da doença. 

As pesquisas estão na terceira fase e devem ser enviadas à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para o processo de solicitação do registro definitivo. 

Um estudo publicado na revista científica The New England Journal of Medicine mostrou que a vacina contra a dengue do Instituto Butantan tem eficácia de 79,6% na prevenção dos sintomas da doença

Os dados foram obtidos depois da aplicação de uma única dose do imunizante nos participantes dos ensaios clínicos, relativos à fase 3 dos estudos. A proteção durou dois anos.

A eficácia geral do imunizante é semelhante à da Qdenga (80,2%), vacina contra a doença incorporada na rede pública. 

O diretor do instituto, o infectologista Esper Kallás, conta que, para acelerar a disponibilização, foi firmado um acordo para a submissão contínua dos testes à Anvisa, permitindo que o Butantan apresente dados e documentos em etapas, à medida que o trabalho de pesquisa vai avançando.

“Estamos em diálogo permanente com o Ministério da Saúde e a Anvisa, seguindo as diretrizes também da Secretaria de Estado da Saúde, para colaborar nos esforços coletivos de enfrentamento da dengue”, afirmou Kallás.

A Anvisa disponibilizou ainda um canal para atendimento ao Butantan, a fim de organizar as reuniões técnicas e o procedimento para a submissão dos documentos.

As vantagens da vacina brasileira 

Sobre a eficácia da vacina e os principais resultados, Kallás explica que o principal diferencial do imunizante do Butantan, é conseguir proteger contra os quatro tipos de vírus da dengue com uma única dose. Essa vantagem, além de aumentar a proteção, contribui para a implementação do Programa Nacional de Imunizações

“Quando falamos de vacina da dengue, estamos, na verdade, falando de quatro vacinas ao mesmo tempo. Esse é o aspecto mais difícil: fazer com que quatro vacinas contra os quatro tipos de vírus da dengue andem em caminhos paralelos e induzindo à proteção de forma equilibrada”, detalha Kallás.

O imunizante do Butantan usa a técnica de vírus atenuado, que induz a produção de anticorpos sem causar a doença nem reações adversas importantes. Em uma só dose, portanto, há quatro vírus da dengue enfraquecidos.

A vacina é feita em parceria com o Instituto Nacional de Saúde americano (chamado pela sigla NIH) e pela farmacêutica multinacional MSD. 

Em um primeiro momento, o NIH licenciou a tecnologia do imunizante para o Butantan em 2009, cedendo as patentes e os materiais biológicos das quatro cepas virais do produto. 

Em 2018, o instituto brasileiro assinou um acordo com a MSD para acelerar os estudos e o registro da vacina.

A fase 1 dos ensaios clínicos da Butantan-DV foi desenvolvida pelo NIH entre 2010 e 2012 nos Estados Unidos. 

Já a fase 2 foi conduzida entre 2013 e 2015 no Brasil. Ambas mostraram que o imunizante em desenvolvimento é seguro.

Mais de 16 mil pessoas monitoradas em 16 centros de pesquisa do Brasil participaram da etapa, a última antes da submissão da vacina à Anvisa.

Outra vantagem da vacina do Butantan é que a faixa etária dos participantes dos estudos vai de 2 a 59 anos, enquanto a Qdenga é indicada somente a partir dos quatro anos. 

Quando a vacina vai estar disponível?

A previsão do Instituto Butantan é que, entre junho e julho, o pedido de registro seja submetido para análise da Anvisa. Após a submissão, são necessárias articulações com a Agência em relação aos processos internos e à capacidade de produção do Butantan. 

“A vacina vai demorar um tempo ainda, em um processo de diálogo com a Anvisa a respeito de resultados e ajustes, além da melhoria dos nossos processos”, ressalta Kállas.

Apesar disso, é esperado que a vacina esteja disponível no início de 2025. 

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