Política

Vereadora de Belém é ameaçada de morte: ‘Não adianta chamar Flavio Dino, vamos chacinar todos vocês’

Eleita a vereadora mais jovem de Belém, então com 21 anos, em 2020, Beatriz Caminha iniciou a vida política no movimento estudantil

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A vereadora de Belém (PA), Beatriz Caminha, do PT, está há duas semanas sem sair de casa. Há duas semanas, ela recebeu por e-mail, em sua conta institucional, uma série de ameaças de morte. O alerta de sua assessoria de imprensa chegou quando ela estava pronta para sair para o trabalho. “Naquele momento eu precisei parar e recalcular toda minha vida. Foi um baque”.

As mensagens ameaçavam não só a ela, mas também a instituição onde ela estuda, a Universidade Federal do Pará. No mês de abril, o país se viu refém de uma sequência de  ataques contra escolas – três deles, mortais. Os agressores anunciavam “um massacre” contra “cotistas, negros, índios, pardos, gays, lésbicas, trans e travestis”, e terminavam exaltando o Massacre de Columbine, ocorrido nos Estados Unidos em 1999. Dada a gravidade da mensagem, a vereadora acionou imediatamente o reitor e o vice-reitor da universidade, mas não teve resposta. 

Além de Caminha, as ameaças também foram direcionadas à uma assessora do mandato dela, Carla Lima, e à deputada estadual Lívia Duarte, do PSOL. A vereadora acredita que os agressores a conhecem e tem informações também sobre sua rotina na universidade – segundo ela, a mensagem continha detalhes que só alguém próximo poderia conhecer.

Como não teve resposta da reitoria, acionou a instituição via ofício, e recebeu de volta uma mensagem evasiva. “Eles disseram que o documento foi encaminhado para o serviço de inteligência da universidade”, lamenta. “E ficou por isso mesmo.” 

Eleita a vereadora mais jovem de Belém, então com 21 anos, em 2020, Beatriz Caminha iniciou a vida política no movimento estudantil. Estudante do curso de Arquitetura, integrou o Centro Acadêmico, e foi coordenadora do Diretório Central dos Estudantes da UFPA, cargo que foi ocupado depois por Carla Lima, sua assessora também ameaçada. 

Desde que o crime ocorreu, elas não voltaram à faculdade e nem à Câmara de Vereadores, porque não há nenhuma resposta concreta da polícia que garanta segurança para que possam retomar a rotina anterior. O episódio está sob investigação da Polícia Federal no âmbito de crime cibernético. 

Nunca foi fácil ser uma mulher negra, lésbica e muito jovem ocupando espaços institucionais, destaca ela. Mas, agora, a violência chegou a um nível extremo, que a obrigou a alterar toda a sua rotina. “Não foi um episódio isolado, já ocorreram uma série de episódios que ameaçam minha integridade.” 

A vereadora tem sua trajetória política marcada pela defesa da Educação, do direito à cidade e da igualdade racial e de gênero, e se recusa a ser pautada pela violência política. “Apesar de não acreditar que possa existir democracia enquanto houver violência política, eu não vou deixar que isso paute a minha trajetória”. Para a vereadora, o Estado precisa dar uma resposta ao caso, porque não se trata de uma questão individual. “Não quero uma nota de solidariedade. Quero uma resposta concreta, não só pela possibilidade de me matarem, mas também pelo fato de ter sido ameaçada.” 

Caminha vê com preocupação a ascensão da extrema-direita no país, e acredita que o crescimento e fortalecimento dos movimentos de minoria, como o movimento negro e de mulheres são compreendidos como uma ameaça pelos extremistas. “Na medida em que a gente se organiza e passa a atuar de forma muito qualificada, cresce também o discurso de ódio. E esse discurso não está direcionado só à minha atuação política, mas a tudo que eu represento”. E acrescenta: “Não querem destruir só o nosso corpo, querem destruí quem a gente é”. 

Agora, a vereadora está formulando um projeto de protocolo a ser adotado pela Câmara Municipal em caso de violência política contra os parlamentares. “A ideia é conseguir debater isso com os outros vereadores e estabelecer o que a Câmara deve fazer para determinados casos”. Tão logo ela volte a atuar no âmbito do parlamento, irá protocolar a proposta.

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