Justiça
Trama golpista: Moraes rejeita preliminares e mantém validade da delação de Mauro Cid
O ministro afirmou que não houve coação e criticou contradições levantadas pelas defesas no 3º dia de julgamento do caso no STF


O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, relator do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de outros integrantes do chamado núcleo crucial da trama golpista, rejeitou nesta terça-feira 9 as preliminares apresentadas pelas defesas. Em seu voto, Moraes afastou alegações de cerceamento de defesa, de nulidade da delação do tenente-coronel Mauro Cid e de supostas contradições nos depoimentos.
Ao tratar do acordo de colaboração, Moraes destacou que “sua regularidade e voluntariedade foi amplamente debatida na sessão de recebimento da denúncia”. O ministro frisou que a própria defesa de Cid havia reconhecido a ausência de coação. As novas alegações, segundo o relator, não se sustentam. “Não há nenhum vício sobre o acordo ser proposto pela Polícia Federal com o colaborador”, disse.
As defesas também argumentaram que Mauro Cid teria prestado oito delações contraditórias. Moraes rechaçou essa versão e explicou que os depoimentos foram divididos pela PF conforme os temas – como o caso das joias, a fraude em comprovantes de vacina e a preparação para o 8 de Janeiro. “Ou não leram os autos, ou beira a litigância de má-fé”, afirmou o relator, mantendo a validade da colaboração premiada.
Na mesma linha, Moraes também afastou a tese de cerceamento de defesa e a acusação de “document dumping”, levantada pela defesa do deputado Alexandre Ramagem. Os advogados do parlamentar, neste ponto, questionavam a quantidade de itens a serem analisados em um intervalo curto de tempo.
Outro ponto levantado foi a acusação de que houve cerceamento de defesa no tratamento dado às acareações. Moraes afastou a alegação de nulidade por não ter sido divulgada a acareação entre Walter Braga Netto e Mauro Cid. Segundo ele, os argumentos apresentados – sobre supostos gestos do colaborador, como abaixar a cabeça – não são relevantes para a análise. “Estamos num julgamento jurídico e não psicológico”, declarou.
Moraes também criticou a tese de que o juiz deveria manter postura passiva durante o processo. “A ideia de que o juiz deve ser uma samambaia durante o processo é uma alegação esdrúxula”, afirmou, reforçando ainda que advogados não podem censurar ministros do Supremo sobre a quantidade de perguntas feitas aos depoentes.
Em sua fala, o relator destacou ainda que todas as provas utilizadas pelos julgadores estiveram desde o início acessíveis às defesas. “Todas as provas, absolutamente todas as provas usadas por esses julgadores, todas elas estão desde o início disponíveis e as defesas tiveram total acesso”, disse Moraes.
Com as preliminares rejeitadas pelo relator, o julgamento deve prosseguir com a análise de mérito, em que a Primeira Turma decidirá pela absolvição ou condenação dos réus. O ministro Luiz Fux, no entanto, indicou que poderá se manifestar novamente sobre as preliminares quando iniciar seu voto. Assista ao julgamento:
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Veja quem são os deputados presentes no 3º dia de julgamento de Jair Bolsonaro no STF
Por Vinícius Nunes
Lula viaja ao Amazonas no dia da retomada do julgamento de Bolsonaro
Por CartaCapital