Política

TCU pode determinar nesta semana que Bolsonaro devolva joias à União

A Corte deve analisar o tema em sessão na quarta-feira 15; a determinação do ministro Augusto Nardes é alvo de um recurso

(Foto: Evaristo SA/AFP) (Foto: Evaristo SA/AFP)
Apoie Siga-nos no

O plenário do Tribunal de Contas da União deve julgar nesta quarta-feira 15 a decisão do ministro Augusto Nardes de permitir que Jair Bolsonaro (PL) mantenha em seu acervo as joias de luxo recebidas como um suposto presente da Arábia Saudita.

A Corte pode reverter a decisão e determinar que o ex-presidente seja obrigado a devolver os itens à União.

Na última sexta-feira 10, o Ministério Público junto ao TCU recorreu da determinação liminar de Nardes. Segundo o subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado, a medida adotada “não é suficiente para preservar o interesse público e o patrimônio da União no presente caso”.

“Avalio que permitir que o ex-presidente seja o guardião desse valioso acervo, ainda que como fiel depositário, com todo respeito, configura uma opção temerária e que não resguarda adequadamente o interesse público e o patrimônio da União”, escreveu Furtado. “Sendo, pois, prova material de supostos crimes, é imprescindível que estejam sob o escrutínio da autoridade policial, para fins periciais, e não na posse do investigado.”

Segundo Rocha, o TCU deve determinar que Bolsonaro encaminhe ao Ministério da Casa Civil, em até cinco dias, o conjunto de joias sauditas armazenadas em seu acervo pessoal. Caso a eventual ordem não seja acatada pelo ex-presidente, a pasta deveria adotar providências para garantir a restituição dos itens.

No curso da investigação, a tendência é de que o TCU se baseie em uma decisão de 2016 que fixou uma jurisprudência sobre o tema. Por essa ótica, joias como o pacote feminino de 16,5 milhões de reais enviado pelos sauditas e o conjunto masculino recebido por Bolsonaro não podem ser vistos como itens de “natureza personalíssima”.

Há sete anos, um julgamento na Corte reforçou diretrizes sobre a incorporação de presentes recebidos por presidentes ao patrimônio da União, com exceção de itens “personalíssimos”, a exemplo de medalhas, ou de consumo direto, como bonés, camisetas e perfumes. Joias de vultosos valores não entram na lista.

O processo foi relatado por Walter Alencar. À época, ele mencionou diretamente joias como itens que fogem por completo da noção de “personalíssimos”.

“Imagine-se, a propósito, a situação de um Chefe de Governo presentear o Presidente da República do Brasil com uma grande esmeralda de valor inestimável ou um quadro valioso. Não é razoável pretender que, a partir do título da cerimônia, os presentes, valiosos ou não, possam incorporar-se ao patrimônio privado do Presidente da República, uma vez que ele os recebe nesta pública qualidade”, diz um trecho de seu voto.

Em outro momento, o ministro reforçou: “Gostaria (…) de deixar claro que ‘acervo documental privado de presidente da República’ é uma coisa; presentes materiais, consistentes em objetos tridimensionais e obras de arte, oferecidos por governo estrangeiro ou dignitários, é outra, aliás, totalmente diversa”.

Na semana passada, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) tentou defender o pai no caso das joias exatamente com o argumento de que a caixa seria “personalíssima, independentemente do valor”.

A jurisprudência do TCU indica, entretanto, ser improvável a Corte atestar a legitimidade da decisão de Bolsonaro de manter em seu acervo pessoal um conjunto da marca suíça de luxo Chopard, a conter:

  • um relógio com pulseira em couro;
  • um par de abotoaduras;
  • uma caneta rosa gold;
  • um anel; e
  • um masbaha (espécie de rosário) rose gold.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo