Economia
Tarifa de Trump não tem precedentes e exige reação do Brasil no mesmo nível, diz Ricupero
A nova taxa de 50% inviabliza, segundo o ex-ministro, qualquer exportação brasileira aos norte-americanos


Ao decidir taxar em 50% a importação de produtos brasileiros, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, adota uma medida sem precedentes e obriga o governo Lula (PT) a reagir no mesmo nível, avalia Rubens Ricupero, ex-embaixador do Brasil em Washington.
Em sua primeira manifestação oficial após o novo tarifaço, o Palácio do Planalto afirmou que “qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica“.
“Não conheço nenhum precedente comparavel. Trata-se de fato extremamente grave, o mais grave nas relações entre os dois países”, disse Ricupero a CartaCapital.
O anúncio de Trump ocorreu por meio de uma carta aberta a Lula publicada nas redes sociais. Houve, de acordo com o ex-ministro, “uma intervenção inaceitável contra a soberania nacional, o que justifica devolver a mensagem”.
No documento, Trump voltou a chamar de “caça às bruxas” o processo no Supremo Tribunal Federal contra Jair Bolsonaro (PL) pela tentativa de golpe de Estado. O magnata classificou o tratamento ao ex-presidente como uma “vergonha internacional” e disse que o julgamento “não deveria acontecer”.
“Além da agressão política e da tomada de posição em favor de um condenado pela Justiça brasileira, também configura uma agressão econômica seríssima”, reforça Ricupero. “A tarifa punitiva de 50% inviabiliza qualquer exportação brasileira aos Estados Unidos e obriga o Brasil a reagir no mesmo nível.”
O ex-ministro Rubens Ricupero em entrevista a CartaCapital, em junho de 2024.
Com passagens pelo Ministério da Fazenda, pelo Meio Ambiente e pela secretaria-geral da Conferência da ONU sobre Comércio e Desenvolvimento, Ricupero já havia afirmado a CartaCapital na terça-feira 8 — antes da divulgação da nova tarifa — que as declarações públicas de Trump em defesa de Bolsonaro fortalecem a narrativa de Lula em defesa da soberania nacional, uma bandeira que sempre rende dividendos políticos em tempos de tensão.
Na segunda-feira 7, Trump usou sua rede, a Truth Social, para acusar pela primeira vez uma “caça às bruxas” contra Bolsonaro no processo sobre a trama golpista. O republicano foi além: afirmou que os Estados Unidos acompanhariam o caso “muito de perto”.
A resposta de Lula veio rápida e firme: “Somos um país soberano. Não aceitamos interferência ou tutela de quem quer que seja. Temos instituições sólidas e independentes. Ninguém está acima da lei — sobretudo os que atentam contra a liberdade e o Estado de Direito”.
Para Ricupero, a declaração de Trump foi “inadmissível”, e a reação do Planalto, “na medida certa”. Mais do que isso: “No fundo, é um presente para Lula. Reforça muito sua plataforma como defensor da soberania nacional”, pontua. “O Brasil, historicamente, sempre rejeitou esse tipo de intervenção estrangeira.”
Bolsonaro e seus aliados — inclusive figuras como Tarcísio de Freitas (Republicanos) — não devem colher frutos concretos com o apoio trumpista, aposta. Apesar do entusiasmo da extrema-direita, a maioria da população brasileira tende a rejeitar ingerências externas.
“Eleitoralmente, isso favorece Lula. Dá a ele um argumento a mais: pode levantar, com toda a legitimidade, a bandeira da soberania. Para a direita, é até contraproducente insistir nesse discurso.”
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