Justiça
STF julga veto de Dino a emendas de Eduardo Bolsonaro e Alexandre Ramagem
A decisão barrou a execução de R$ 80 milhões indicados por deputados já cassados; julgamento vai até fevereiro
O Supremo Tribunal Federal inicia nesta sexta-feira 19 o julgamento, em plenário virtual, da decisão do ministro Flávio Dino que proibiu a União de receber, liberar ou executar emendas parlamentares indicadas pelos ex-deputados federais Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Alexandre Ramagem (PL-RJ). A análise será feita por todos os ministros da Corte e vai até o dia 6 de fevereiro, por conta do recesso do Judiciário.
A decisão monocrática de Dino, tomada no início do mês a pedido do PSOL, está em vigor, mas precisa ser referendada pelo plenário para continuar válida. O caso tramita no âmbito da ação que declarou inconstitucional o chamado orçamento secreto.
Os ministros avaliam se é constitucional o veto à execução de cerca de 80 milhões de reais em emendas impositivas indicadas por Eduardo e Ramagem ao Orçamento de 2026. Mesmo sendo emendas de pagamento obrigatório, Dino determinou que o governo federal não poderia sequer receber as indicações feitas por eles.
Na decisão, o ministro argumentou que os dois deputados não exerciam, de fato, o mandato, por estarem fora do País há meses, o que violaria os princípios da legalidade, moralidade administrativa e representação democrática. Para Dino, a destinação de recursos públicos por meio de emendas pressupõe presença institucional, responsabilidade política e exercício regular da função.
O julgamento no STF ocorre um dia após a Mesa Diretora da Câmara declarar a perda do mandato de Eduardo e Ramagem, em decisão administrativa assinada pelo presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), e outros quatro integrantes da cúpula. Apenas o vice-presidente Altineu Côrtes (PL-RJ) votou contra.
Eduardo Bolsonaro foi cassado por acúmulo de faltas: segundo dados oficiais da Câmara, ele deixou de comparecer a cerca de 80% das sessões deliberativas em 2025. Desde março, vive nos Estados Unidos, sob a alegação de perseguição judicial, mas tem conspirado junto a autoridades americanas para articular sanções contra o Brasil e ministros do STF, especialmente Alexandre de Moraes.
Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência, perdeu o mandato por determinação do próprio Supremo, após ser condenado a 16 anos de prisão por integrar o núcleo crucial da trama golpista. A sentença previa expressamente a perda do mandato. Foragido nos Estados Unidos, ele chegou a enviar ofício à presidência da Câmara pedindo que a Casa ignorasse a decisão do STF e autorizasse o exercício do mandato de forma remota.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também
Quem são os substitutos de Eduardo Bolsonaro e Alexandre Ramagem, cassados pela Câmara
Por CartaCapital
Ao cassar Eduardo e Ramagem, Motta desiste de desafiar Moraes após choque de realidade com Zambelli
Por Leonardo Miazzo



