Justiça
Braga Netto nega ter entregue dinheiro em caixa de vinho e acusa Cid de mentir em depoimento
O ex-ministro de Bolsonaro e candidato a vice na chapa do PL em 2022 está preso no Rio e, por isso, prestou depoimento por videoconferência
O general Walter Braga Netto, ex-ministro de Jair Bolsonaro e candidato a vice-presidente em 2022 na chapa do PL, afirmou em depoimento ao Supremo Tribunal Federal na tarde desta terça-feira 10 que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, mentiu ao dizer que ele entregou dinheiro para financiar atividades ligadas às manifestações que contestaram o resultado das eleições presidenciais de 2022.
Segundo o general da reserva do Exército, era comum políticos pedirem para pagar contas de campanha e o ajudante de ordens pediu o valor que ele imaginou que seria para isso. Como o partido não tinha recursos, o assunto “morreu”. “Eu não tinha contato com empresários, então não pedi para ninguém, e não dei dinheiro nenhum para o Cid”, afirmou.
Na segunda-feira 9, Cid confirmou o que tinha dito à PF, de que repassou ao major Rafael de Oliveira uma caixa de vinho com dinheiro vivo. A entrega teria sido feita a pedido de Walter Souza Braga Netto, que deu o dinheiro a Cid.
Segundo o ex-ajudante de ordens, antes de receber o dinheiro, ele foi até o general e perguntou se o PL poderia ajudar com recursos para acampamentos de apoiadores do ex-presidente.
Netto então indicou o contato de um tesoureiro da agremiação política, que disse a Cid que o partido não poderia ajudar manifestantes. Em seguida, Braga Netto teria aparecido com o dinheiro, que teria sido conseguido com empresários ligados ao agronegócio.
Além disso, Braga Netto também negou ter planejado medidas para “neutralizar” autoridades como parte da trama golpista em sua casa no dia 12 de novembro de 2022. Segundo ele, o encontro com os “kids pretos” Hélio Ferreira Lima e Rafael Martins de Oliveira foi uma “visita de cortesia”.
Ataques a chefes militares
Em seu depoimento, Braga Netto afirmou que nunca pressionou os chefes da Forças Armadas para aderirem ao plano golpista. “Jamais ordenei ou coordenei ataques a nenhum dos chefes militares. Pelo contato que eu tinha com eles, se eu tivesse que falar alguma coisa, eu falaria pessoalmente”, disse.
Ao ser confrontado com por Moraes sobre mensagens que indicariam um ataque aos chefes das Forças, os prints são “desconexos” e nunca determinou nem coordenou nenhum tipo de ataque contra Freire Gomes (Exército), Baptista Junior (Força Aérea) ou Almir Garnier (Marinha).
O réu ainda classificou os atos golpistas de 8 de Janeiro como ‘vandalismo’ e afirmou que não esperava o quebra-quebra, já que as manifestações de conservadores são ‘ordeiras’. “Eu estava no veterinário naquela hora. Meu filho ligou e contou o que estava acontecendo (…) quando eu vi, aquilo me horrorizou, aquilo ali pra mim é vandalismo“, disse.
Braga Netto foi o último interrogado e o único do grupo a prestar depoimento por videoconferência, uma vez que está preso no Rio de Janeiro. Todos os demais foram ouvidos presencialmente na sede do Tribunal em Brasília.
Veja a íntegra do depoimento
O militar é um dois oito réus do chamado núcleo crucial da trama golpista. O general foi apontado, durante a investigação da trama, como o elo de Bolsonaro com os golpistas acampados em frente ao quartel do Exército em Brasília. Ele também teria financiado o grupo que monitorava Alexandre de Moraes e planejava sequestrar o ministro.
As duas acusações constam na denúncia da Procuradoria-Geral da República e reafirmadas por Mauro Cid, delator da trama, durante o interrogatório no Supremo, realizado na segunda-feira 9.
Além de Braga Netto, foram interrogados pelo STF os seguintes réus:
- Mauro Cid (delator);
- Alexandre Ramagem,
- Almir Garnier,
- Anderson Torres,
- Augusto Heleno,
- Jair Bolsonaro, e
- Paulo Sérgio Nogueira.
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