Política
Sob pressão de ruralistas, ministro diz não ver objeto que justifique abertura de CPI contra o MST
Paulo Teixeira disse a CartaCapital que o requerimento a solicitar a instalação do colegiado “não tem objeto”; parlamentares bolsonaristas pressionam pela instalação


As recentes ocupações do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra entraram na mira de parlamentares bolsonaristas, que protocolaram na Câmara um pedido de abertura de CPI para investigar a organização. O presidente da Casa, Arthur Lira (PP), leu o requerimento que instala o colegiado na noite desta quarta-feira 26 .
Ainda assim, mesmo diante da pressão de ruralistas, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira (PT), diz não ver objeto que justifique a abertura da CPI. “Acho que [o requerimento] não tem objeto. Ele [Arthur Lira] vai voltar atrás, isso não vai dar certo. Não tem como isso dar certo”, diz a CartaCapital.
Teixeira ainda cita as desocupações, negociadas pelo movimento com integrantes do governo, como fator importante para enfraquecer a articulação dos deputados ligados ao agronegócio. “[O MST] ocupou a Suzano, ocupou a Embrapa, mas depois saiu. Então, não tem objeto”, completa.
Para ser instalada, a comissão precisa cumprir alguns requisitos, como a existência de um objeto de investigação bem definido.
De autoria do Tenente-Coronel Zucco (Republicanos-RS), o requerimento de abertura do colegiado para investigar as iniciativas do MST conta com 171 assinaturas, entre elas as de parlamentares do PSD e do União Brasil – partidos contemplados com ministérios.
A pressão pela instalação da CPI se intensificou nos últimos dias com as ações dos sem terra. Inicialmente, como mostrou CartaCapital, Lira resistia à ideia por acreditar que ela atrapalharia o andamento de pautas importantes na Casa, a exemplo da nova regra fiscal.
O deputado alagoano disse a parlamentares da Frente Parlamentar da Agropecuária que a área jurídica da Câmara havia dado parecer favorável à instalação. Antes de decidir, Lira procurou interlocutores do Planalto para avisar que abriria a CPI caso o governo não contivesse as iniciativas do MST.
Agora, com a sinalização pública de que leria o requerimento, parlamentares da oposição passaram a articular os integrantes da CPI. Nos bastidores, o deputado Ricardo Salles (PL) é cotado como relator da comissão, enquanto Zucco ficará com a presidência.
Por outro lado, o clima no PT é de “preocupação zero”, embora lideranças acreditem que a criação do colegiado tem o objetivo de “criminalizar o movimento” e contribuir com “mais preconceito e ataques infundados”. A principal preocupação da legenda por ora é a comissão mista que apura os atos golpistas do 8 de Janeiro.
À reportagem, o MST disse que não irá se manifestar sobre o assunto.
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