Política

Simone Tebet tenta se cacifar após crise no PSDB e saída de Moro, mas enfrenta resistências no MDB

Baixa rejeição e apelo no eleitorado feminino pesam a seu favor, mas lideranças emedebistas ensaiam movimentos na direção do ex-presidente Lula e do presidente Jair Bolsonaro

Foto: Reprodução/Redes Sociais
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Em meio a brigas internas do PSDB e à saída de Sergio Moro (União Brasil) da corrida presidencial, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) se movimenta na tentativa de ocupar esse vácuo e aglutinar a chamada terceira via em torno de seu nome. Ontem, numa sinalização de apoio à emedebista, o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB) indicou que poderia ser vice na chapa da senadora. Enquanto estrategistas de campanha sustentam que ela pode encabeçar uma chapa competitiva, por ter baixa rejeição e apelo junto ao eleitorado feminino, lideranças regionais do próprio MDB resistem a aderir a Tebet, e ensaiam movimentos na direção do ex-presidente Lula (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Aliados de Tebet têm reforçado, nos bastidores, que uma eventual chapa com Leite seria mais competitiva do que com o ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB), que venceu as prévias tucanas, mas tem maior rejeição. As cúpulas de MDB e PSDB têm conversado com o União Brasil, sobre uma candidatura única à Presidência. Na última semana, Tebet havia defendido o resultado das prévias e chamado Doria de candidato “legítimo” do PSDB. Ao GLOBO, a senadora indicou uma mudança de tom:

—Cada partido tem autonomia para tomar as suas próprias decisões e avaliá-las ou reavaliá-las de acordo com os interesses dos envolvidos — disse a senadora.

Tebet diz estar à disposição para ser cabeça de chapa ou vice, a depender do entendimento dos partidos, e aliados da senadora avaliam que as prévias do PSDB escolheram um pré-candidato a presidente, mas não a vice. O raciocínio converge com o do entorno de Leite, para o qual a articulação do centro estaria acima das prévias. Este argumento, porém, é classificado como “golpe” pelo grupo de Doria. A senadora evita tomar lado no racha tucano, que se desdobrou, na prática, em duas pré-candidaturas da sigla. Tucanos como o senador Tasso Jereissati (CE) e o ex-senador José Aníbal já defenderam o nome de Tebet.

— Hoje só há dois candidatos do centro democrático (após saída de Moro): eu e o PSDB — disse a senadora.

Ontem, em entrevista à Rádio Eldorado, Leite declarou que ela “tem toda a condição de ser uma liderança nesse projeto” de convergência do centro e disse que pretende “buscar o entendimento” com a senadora. Apesar de classificar como “prematuro” o debate sobre formação de chapa, Leite se disponibilizou a participar de uma composição “como vice-presidente, se for o caso”.

— Minha manifestação é sobre a necessidade de todos terem disposição para conversar e assumirem qualquer papel. Inclusive de não estar na chapa — disse Leite, ao ser questionado sobre as declarações à rádio.

Aliados de Leite sustentam ainda que um atrativo para a convergência nacional com Tebet pode ser a eleição ao governo gaúcho, na qual o MDB lançou como pré-candidato Gabriel Souza, ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Souza é próximo a Leite, e disputa com o recém-empossado governador Ranolfo Vieira Jr. (PSDB) o posto de candidato à sucessão.

— Entendo que uma chapa Simone e Eduardo poderia facilitar a unidade do centro democrático nas eleições, mas temos que respeitar as decisões do PSDB que é um partido importante desse campo — afirmou.

Doria e Moro também têm feito acenos à emedebista. Aliados do ex-governador de São Paulo lembram que ele tem boa relação com Tebet e com o presidente do MDB, Baleia Rossi, que bancou internamente a pré-candidata, apesar dos apelos para liberar apoios a Bolsonaro ou a Lula nos estados. Já o ex-juiz encontrou-se com Tebet na sexta, depois de migrar para o União Brasil.

Ciro Gomes (PDT), que busca ser alternativa a Lula e Bolsonaro, elogia Tebet, mas descarta dialogar com o que chama de “viúvas do bolsonarismo”, recado para Doria e Moro.

— Ela tem legitimidade para postular, mas o MDB está com o Lula. Não sou terceira via— disse o pedetista.

O apoio de lideranças emedebistas a Lula se concentra na região Nordeste, onde o ex-presidente registra seus maiores percentuais de intenções de voto, segundo pesquisas. Dos nove estados nordestinos, em seis o MDB deve aderir ao petista já no primeiro turno. Alguns caciques que defendem composições com Lula, como o senador Renan Calheiros (AL) e o ex-senador Eunício Oliveira (CE), sequer foram procurados por Tebet.

Em outros dois estados, o MDB concilia um apoio formal a Tebet com presença no palanque petista. Em Pernambuco, o deputado estadual Jarbas Filho, filho do senador Jarbas Vasconcelos (MDB-PE), migrou para o PSB dentro de um acordo para que o MDB faça campanha para Tebet e possa também se juntar ao palanque de Lula no estado. No Maranhão, nomes como Roseana Sarney e Edison Lobão Filho concorrerão à Câmara e costuram alianças com candidatos ao governo apoiados por Lula.

— Essa eleição será muito vinculada à disputa nacional, que por enquanto está polarizada. Mas a Simone está trabalhando, vamos ver se ela deslancha. A decisão sobre apoios será tomada pelos parlamentares — disse o deputado Hildo Rocha (MDB-MA).

Na Bahia, o ex-deputado emedebista Lúcio Vieira Lima, que participou da articulação que levou o MDB para a chapa do pré-candidato do PT ao governo, Jerônimo Rodrigues, avalia que o partido “não pode desconsiderar” a força da polarização.

— O povo não é burro, sabe quais são as ideias de Bolsonaro e de Lula, e que isso será relevante para um futuro governo da Bahia — afirmou.

Bolsonaro, por sua vez, terá palanques com emedebistas no Distrito Federal, com o governador Ibaneis Rocha, e no Acre, onde a deputada federal Mara Rocha tenta articular uma candidatura ao governo. No Paraná e em Roraima, o partido desenhou alianças que também preveem palanques compartilhados com Bolsonaro.

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