Política

Senador protocola o pedido de convocação de Carlos Wizard, o ‘Mr. Cloroquina’, à CPI da Covid

Defensor de medicamentos ineficazes e próximo da médica Nise Yamaguchi, o empresário tem potencial para piorar a dor de cabeça do governo

Jair Bolsonaro e Carlos Wizard. Foto: Reprodução/Redes Sociais
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O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) protocolou nesta segunda-feira 17 um requerimento de convocação do empresário Carlos Wizard à CPI da Covid, a fim de esclarecer um possível sistema de ‘aconselhamento paralelo’ do governo de Jair Bolsonaro em meio à pandemia.

O grupo, segundo indicações de oitivas já promovidas pela comissão, defendia a utilização de medicamentos ineficazes contra a Covid-19 e teorias negacionistas como a da chamada ‘imunidade de rebanho’.

Para que se concretize a convocação, o pedido de Vieira tem de ser endossado pela maioria dos integrantes da CPI.

“Para que seja possível esclarecer os detalhes de um ‘ministério paralelo da saúde’, responsável pelo aconselhamento extraoficial do Governo Federal com relação às medidas de enfrentamento da pandemia, incluindo a sugestão de utilização de medicamentos sem eficácia comprovada e o apoio a teorias como a da imunidade de rebanho, faz-se necessária a oitiva do Sr. Carlos Wizard Martins, alegadamente membro de referido grupo”, justifica o parlamentar do Cidadania.

Wizard, conhecido por fundar uma rede de escolas de idiomas, atuou como conselheiro do general Eduardo Pazuello durante sua passagem pelo Ministério da Saúde. Em junho do ano passado, foi convidado pelo então ministro a ocupar a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos da pasta, mas não chegou a assumir o cargo.

A desistência veio na esteira de polêmicas e infundadas declarações sobre o novo coronavírus. Em 6 de junho, afirmou que o governo Bolsonaro não pretendia “desenterrar mortos”, ao rebater as acusações de subnotificação de dados. Também insinuou, sem provas, que estados e municípios teriam cometido fraudes nos números.

“Temos uma equipe de inteligência no ministério. Essa equipe encontrou indícios de que alguns municípios e estados estão inflacionando os dados para receber benefícios federais, isso é lamentável”, declarou Wizard.

Ao recusar a secretaria, ele pediu desculpas pelas alegações que “tenham sido interpretadas como desrespeito aos familiares das vítimas da Covid-19 ou profissionais de saúde que assumiram a nobre missão de salvar vidas”.

No ano passado, mesmo diante do agravamento da pandemia, não hesitou em defender posições contrastantes com as recomendações de especialistas. Em agosto, em entrevista à IstoÉ, criticou o confinamento, medida de sucesso em diversos países, sob a justificativa de que “o homem, por natureza, é um animal social, e o lockdown, longo e contínuo, provoca problemas psíquicos de difícil cura posterior”.

Na mesma ocasião, defendeu o chamado ‘tratamento precoce’ contra a Covid, o qual supostamente impediria que os pacientes evoluíssem “da fase um, que é praticamente uma síndrome gripal, para a fase dois ou três, quando precisará ser intubada e usar corticoides, o que pode levar ao óbito”.

Wizard é próximo da médica Nise Yamaguchi, defensora de primeira hora da cloroquina no tratamento contra o novo coronavírus, a despeito da ausência de validação científica. Foi ela quem, segundo o depoimento do presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, à CPI da Covid se ‘mobilizou’ para alterar a bula do medicamento, a fim de contemplar uma recomendação de prescrição para pacientes com Covid-19.

“Esse documento foi comentado pela doutora Nise Yamaguchi, o que provocou uma reação até um pouco deseducada ou deselegante minha”, relembrou Barra Torres. “Quando houve uma proposta de uma pessoa física de fazer isso, me causou uma reação mais brusca. A reunião não durou mais depois disso”.

A CPI já aprovou um convite a Yamaguchi para que ela explique sua defesa de tratamentos rejeitados por ampla maioria da comunidade científica. Por ser um convite, e não uma convocação, a médica não cometerá crime caso minta na comissão.

2021 e a segunda onda da Covid-19 no Brasil chegaram, mas o bilonário Carlos Wizard não mudou o disco. Em entrevista à CNN Brasil em 13 de março, afirmou lamentar “muito o problema de colapso e por resistência do tratamento precoce, que foi recomendado pelo Ministério da Saúde, e que houve tanta resistência”.

Após a reportagem da emissora relembrar a ele que não existe qualquer comprovação de eficácia do ‘tratamento precoce’, Wizard emendou: “Eu acredito, eu sigo, eu defendo e eu pratico. De 15 em 15 dias, eu tomo o meu tratamento profilático, com hidroxicloroquina e ivermectina. Eu tomo vitamina D diariamente”.

Naquela entrevista, ainda afirmou ter sido chamado de ‘Mister Cloroquina’ e, questionado se aprovava o apelido, disse que gosta “de ser chamado de uma pessoa que defende a vida”. Em sua provável convocação à CPI da Covid, será inquirido pelos parlamentares sobre essa e outras declarações e, a depender das respostas, poderá ampliar o conjunto probatório sobre um ‘Ministério da Saúde paralelo’. Esse serviço extraoficial, apontam alguns senadores, pode estar no centro do desastroso manejo do combate a uma doença que já ceifou a vida de 435 mil pessoas no Brasil.

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