Política

Senado adia votação de PEC dos Combustíveis após relator excluir trecho sobre estado de emergência

Ex-líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) havia proposto um trecho que poderia dar ‘cheque em branco’ para o governo distribuir verbas públicas em ano de eleição

Senado adia votação de PEC dos Combustíveis após relator excluir trecho sobre estado de emergência
Senado adia votação de PEC dos Combustíveis após relator excluir trecho sobre estado de emergência
À tribuna, em discurso, o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
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O Senado Federal adiou para a tarde da quinta-feira 30 a votação sobre a chamada “PEC dos Combustíveis”, apelido dado à Proposta de Emenda Constitucional 016/2022, que prevê o aumento de benefícios sociais a partir de uma flexibilização das regras de aplicação de verbas públicas.

Relator da PEC, o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) decidiu derrubar um artigo que determinava que as medidas observariam “a não aplicação de qualquer vedação ou restrição prevista em norma de qualquer natureza”.

A eliminação do trecho ocorreu após pressão da oposição.

Para parte dos senadores, o dispositivo poderia autorizar o governo federal a aplicar recursos públicos sem a vigilância da lei. A crítica vem na esteira de acusações da oposição de que o presidente Jair Bolsonaro (PL) tenta “comprar” o voto dos eleitores no ano em que tenta um novo mandato. O Tribunal Superior Eleitoral, no entanto, proíbe a ampliação de programas sociais em ano de disputa eleitoral.

“As restrições eleitorais e orçamentárias não seriam observadas”, afirmou o senador Jean Paul Prates (PT-RN). “O governo poderia remanejar esses recursos para o que ele quisesse, fazer publicidade dos benefícios com esses recursos, porque não haveria restrição. Quando ele derruba isso do texto, diminui o ‘cheque em branco’.”

Em discurso, Coelho declarou que decidiu suprimir o trecho após ser procurado pelos senadores petistas Jaques Wagner (BA) e Paulo Rocha (PA).

“Eu tenho compromisso com a normalidade democrática, com a defesa das instituições do nosso país, e estou aberto para fazer o aperfeiçoamento no artigo que tem poucas linhas e que foi analisado por todas as assessorias das bancadas”, afirmou. “Compreendendo as preocupações que também são minhas, nós vamos suprimir o inciso IV.”

Após a declaração, o senador Eduardo Braga (MDB-AM) concordou que se tratava de um “cheque em branco”, mas disse ter dúvidas se somente a supressão do trecho “resolve e saneia a questão jurídica”. Além disso, propôs a inclusão de motoristas de táxi e de transportes por aplicativos no recebimento dos benefícios.

Ao apresentar o relatório de análise, Coelho, que era líder do governo Bolsonaro no Senado até dezembro, defendeu a decretação do estado de emergência no País. A condição permitiria o governo a driblar a legislação eleitoral e liberar as verbas necessárias para ampliar o Auxílio Brasil, o vale-gás e o “voucher caminhoneiro”.

A estimativa do senador é de que as medidas representem um impacto de 38,7 bilhões de reais nos cofres públicos. Segundo ele, o dinheiro deve vir de “receitas extraordinárias” do governo.

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