Política

Sem muito a perder, Boulos topa ‘sabatina’ de Marçal em busca de fato novo

A dois dias do segundo turno e com uma situação desfavorável nas pesquisas, o candidato do PSOL tenta avançar sobre o espólio do ex-coach

Sem muito a perder, Boulos topa ‘sabatina’ de Marçal em busca de fato novo
Sem muito a perder, Boulos topa ‘sabatina’ de Marçal em busca de fato novo
Fotos: Renato Pizzutto/Band
Apoie Siga-nos no

O candidato Guilherme Boulos (PSOL) topou participar de uma espécie de sabatina comandada por Pablo Marçal (PRTB) nesta sexta-feira 25, a dois dias do segundo turno em São Paulo.

“Aceitei o desafio e estarei nesta sexta ao meio-dia no Youtube do Pablo Marçal pra ser sabatinado por ele. O Nunes vai aparecer ou sumir?”, escreveu Boulos, no início da noite desta quinta, ao confirmar sua presença no insólito evento. Também convidado, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) não comparecerá.

Trata-se de uma estratégia tão inusual quanto polêmica, especialmente ao levar em consideração o embate entre Boulos e Marçal no primeiro turno. No ápice do jogo sujo, o ex-coach publicou um documento falso contra o oponente na antevéspera da eleição.

Em uma edição do programa Roda Viva, na TV Cultura, em agosto, Boulos disse ver Marçal como um criminoso. “Já percebi que estamos lidando com um bandido, e é assim que vou tratar ele até o fim dessa eleição”, prometeu na ocasião.

Terceiro colocado em 6 de outubro, Marçal voltou a inundar as redes sociais com seus conteúdos “motivacionais”, promovendo os cursos que vende pela internet. A conversa marcada para esta sexta-feira, a apenas dez horas do debate entre Boulos e Nunes na TV Globo, parece mais uma jogada para se manter nos holofotes do noticiário político. O ex-coach já deixou claro: para ele, 2026 começou.

Do lado de Boulos, há um interesse muito mais imediato: gerar fatos novos que comovam o eleitor paulistano nos instantes finais da eleição. Pesquisas Quaest e Datafolha publicadas entre a quarta-feira 23 e esta quinta 24 até indicam uma queda na distância para Nunes, mas o prefeito conserva uma vantagem relativamente confortável a esta altura.

A matemática é simples: Marçal conquistou 1.719.274 votos, universo muito próximo aos 1.776.127 de Boulos e aos 1.801.139 de Nunes. É um espólio que desequilibra o segundo turno – neste momento, a favor do candidato do MDB.

Segundo o levantamento Datafolha desta quinta, 74% dos eleitores de Marçal migraram para Nunes. Eram 77% na semana passada, mas o dado ainda significa um poderoso trunfo. Na outra ponta, oscilou de 8% para 11% o total de “marçalistas” que apertarão 50 neste domingo 27.

Boulos enxerga a “sabatina” desta sexta, portanto, como mais uma forma de tentar atrair paulistanos que optaram por Marçal não por se alinharem necessariamente com a extrema-direita, mas motivados por um desejo difuso de mudança.

Não à toa, o psolista apostou em uma inserção na TV com personagens identificados como eleitores de Marçal trocando o boné com a letra “M” por outro com a letra “B”. Da estética dos programas à incorporação de propostas sobre empreendedorismo, passando por uma postura mais incisiva nas agendas, Boulos buscou nas últimas semanas seduzir uma fatia do eleitorado que não conseguiu cativar no primeiro turno.

Se Nunes decidir comparecer de última hora à “sabatina” de Marçal, será impossível prever o desfecho do programa. Se cumprir sua palavra e não participar, o prefeito será, mais uma vez, tachado de “covarde” e “fujão” pela improvável dupla da atração.

“Não me recuso a dialogar com ninguém, acho que o diálogo faz parte da democracia”, disse o postulante do PSOL em um compromisso de campanha nesta quinta. “Cada um que arque pela forma com que dialoga, postura que dialoga, respeito ou desrespeito com que dialoga. Comigo será sempre com respeito.”

Marçal, por sua vez, promete que o encontro será “justo” e “imparcial”. Sua postura ao longo de todo o primeiro turno, entretanto, torna difícil confiar na civilidade.

Sem inserções na TV, a live com Marçal e o debate na TV Globo serão as últimas cartas na manga de Boulos, após o apagão em São Paulo arranhar, mas não derrubar Nunes nas pesquisas. A rejeição ao psolista segue alta (55% no Datafolha, ante 37% do adversário), o que, aliado à diferença nas intenções de voto, faz com que o deputado tenha pouco a perder na tal “sabatina”.

“O Boulos já tem o nosso voto, ele precisa dos votos da galera que votou no Marçal”, resumiu um seguidor do candidato do PSOL ao endossar a decisão de dividir a tela com o ex-coach.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.

O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.

Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.

Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo