Política
Sem citar Bolsonaro, Mourão culpa imprensa e governadores por crise
‘Nenhum [país] vem causando tanto mal a si mesmo como o Brasil’, escreveu Mourão, sem citar cenário caótico suscitado pelo presidente


Em um artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, culpa a imprensa, os governadores, as instituições e figuras públicas que se manifestam contra as ações do governo pela situação na qual o Brasil se encontra em relação à pandemia de coronavírus. Segundo ele, “nenhum [país] vem causando tanto mal a si mesmo como o Brasil.”. Os desmandos e as crises políticas causadas pelo presidente Jair Bolsonaro sequer são citadas pelo vice-presidente.
Para Mourão, a imprensa deve dar o mesmo espaço a opiniões “contrárias e favoráveis ao governo” em relação ao isolamento social e à retomada da economia. Enquanto o mundo segue sem tratamento específico ou uma vacina pronta para o coronavírus, o isolamento social é apontado como a única medida que diminui o contágio em massa, que pode sobrecarregar o sistema público de saúde. Para Mourão, no entanto, a falta dos dois lados gera “descrédito e reação, deteriorando-se o ambiente de convivência e tolerância que deve vigorar numa democracia”.
Seguindo a linha discursiva de Bolsonaro, que critica os governadores e prefeitos por decretos de quarentena e demais recomendações de distanciamento social, Mourão afirma que tais medidas foram impostas de maneiras “desordenadas” e cita os impactos econômicos do fechamento do comércio. Não menciona, porém, os dados de quantas vidas foram salvas por conta do isolamento ou até mesmo quantos brasileiros já morreram em decorrência da covid-19.
Há, também, críticas à imagem deteriorada do País no exterior – o que, para Mourão, é culpa de figuras públicas que expressam indignação e possuem amplitude em seus discursos. “Enquanto os países mais importantes do mundo se organizam para enfrentar a pandemia em todas as frentes, de saúde a produção e consumo, aqui, no Brasil, continuamos entregues a estatísticas seletivas, discórdia, corrupção e oportunismo.”, escreve o vice-presidente.
No entanto, publicações científicas e a imprensa internacional têm destacado o Brasil como um País desarticulado por conta de Jair Bolsonaro. A popularidade do governo também sentiu o baque: segundo a última Pesquisa CNT, a reprovação ao governo bateu em 43,4% que consideram a gestão federal como péssima ou ruim, enquanto 22,9% a classificam como regular e 32% acham que o governo é ótimo ou bom.
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