Política

Sargento nega ligação com ato golpista, mas admite ter subido a rampa do Congresso no 8 de Janeiro

Luis Marcos dos Reis também afirmou que dinheiro repassado a Mauro Cid era ‘consórcio’ entre amigos

Depoimento do sargento do Exército Luis Marcos dos Reis à CPMI do 8 de Janeiro. Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
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O sargento do Exército Luis Marcos dos Reis, que integrava a equipe de Ajudância de Ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), negou envolvimento em esquema de falsificação de cartões de vacina contra a Covid-19 e disse que não participou dos atos de 8 de Janeiro. A declaração foi concedida em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito sobre os ataques golpistas, nesta quinta-feira 24.

O militar foi preso em maio pela Polícia Federal em uma operação que investiga fraudes no cartão de vacina de Bolsonaro. Neste mês, um relatório mostrou que Reis fez uma movimentação atípica de 3,3 milhões de reais entre fevereiro de 2022 e maio deste ano. A maior parte do dinheiro foi repassada para Mauro Cid, ex-chefe da Ajudância de Ordens de Bolsonaro.

“Jamais tive ou tenho envolvimento direto ou indireto, nem mesmo conhecimento, sobre suposto esquema de falsificação de cartão de vacinação envolvendo o nome do ex-presidente ou qualquer membro de sua família”, declarou. “Ficará evidenciado que jamais contribuí para o vandalismo que sucedeu na Praça dos Três Poderes no 8 de Janeiro, que não depredei nenhum patrimônio, que não cometi qualquer ato de vandalismo ou de desrespeito à ordem emanada por integrantes dos órgãos de segurança pública.”

“Não financiei, planejei, coordenei, estimulei, instruí, dei suporte ou tomei parte de qualquer ato preparatório ou executório”, disse o militar, sobre os ataques.

A base governista acusa Reis de ter ajudado a manter acampamentos golpistas em Brasília e de participação na tentativa de golpe em 8 de Janeiro. Naquela data, Reis contou a um amigo por celular que estava na Esplanada dos Ministérios em meio aos ataques e disse que estava “no meio da muvuca”, segundo um relatório da Polícia Federal publicado pelo portal G1 em junho.

“Eu estou no meio da muvuca! Não sei o que que está acontecendo! O bicho vai pegar”, escreveu o sargento, pouco antes das 18h30, a um primo. Ele também havia enviado vídeos em cima da cúpula do Congresso e mandado um áudio na mesma troca de mensagens, em que disse: “Entraram no Planalto, no Congresso, Câmara dos Deputados, entrou no STF. E quebrou, arrancou as togas lá daqueles ladrão. Arrancou tudo! Foi, foi. O bicho pegou hoje aqui”.

Além disso, o relatório divulgado pelo portal apontou que Reis participou de trocas de mensagens que incentivavam a “tomada de poder pelas Forças Armadas”.

Questionado pela relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), sobre as informações da Polícia Federal que tratam dessas conversas, o militar disse que foi aos atos “por curiosidade”.

“Eu estava morando num apartamento na 308 Norte e assisti acompanhando pela televisão. A minha esposa chamou para vir, eu falei sim, vamos lá, por curiosidade. Já era por volta de 16h30, mais ou menos, ela pediu um aplicativo 99”, relatou. “Saímos da 308 Norte para o Conjunto Nacional. Descemos do carro e descemos à pé pela Esplanada.”

Em seguida, o militar admitiu ter subido a rampa do Congresso e tirado fotos.

“Quando nós chegamos na Esplanada, a força de segurança pública, a PM, a Força Nacional, estavam ali do lado do Palácio da Justiça, mas já estava tudo dominado pela segurança pública. Onde estavam várias pessoas normais ali, com carrinho de bebê, pessoas de idade, até recém-nascido. E ali eu fiquei. Isso eu vejo o meu erro.”

“Cheguei por volta de 17 horas aqui na Esplanada. Subi a rampa, tirei foto, cruzei pela AM1, o Eixo Monumental, e subi em direção à minha casa andando a pé. Esse realmente foi um ato impensado. Se a senhora me perguntar se eu me arrependi, eu me arrependi. Mas não tinha ninguém ali embaixo falando ‘não pode subir’. Eu não pensei na hora. Estava ali, e eu subi.”

O ex-integrante da Ajudância de Ordens também admitiu ter feito visitas a acampamentos golpistas, mas negou ter envolvimento com a articulação dos movimentos.

Diante das alegações, os parlamentares governistas acusaram Reis de ter mentido na CPMI.

“O senhor não estava à toa passeando aqui, não. O senhor estava ali engajado no golpe”, disse o deputado Rogério Correia (PT-MG). “O senhor contribuiu muito pouco para a nossa Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, mentiu muito.”

O depoente, na condição de testemunha, também utilizou o direito ao silêncio concedido pelo Supremo Tribunal Federal, em questionamentos sobre se a Ajudância de Ordens lidava com movimentação de dinheiro vivo.

Na sessão, os parlamentares apontaram o recebimento de valores por meio de uma empresa contratada pelo governo Bolsonaro via Codevasf, a madeireira Cedro do Líbano. As cifras teriam sido repassadas para as contas da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Reis, no entanto, alegou que os valores haviam sido obtidos por causa de um “consórcio entre colegas”.

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