Política

Relatório da intervenção no DF expõe graves falhas de Anderson Torres no 8 de janeiro

‘Esse conjunto de coincidências pode caracterizar algo muito pior que ausência de comando e responsabilidade’, afirmou Ricardo Cappelli

O interventor federal, Ricardo Cappelli, durante cerimônia em homenagem aos profissionais envolvidos na operação de garantia da democracia e preservação do estado de direito no país
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O interventor da União na Segurança Pública do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, apresentou, nesta sexta-feira 27, o relatório sobre falhas operacionais em 8 de janeiro, dia em que as sedes dos Três Poderes foram invadidas e depredadas por terroristas bolsonaristas.

Segundo Cappelli, não faltou informação prévia às ações golpistas. Ele mencionou um relatório da Secretaria de Segurança Pública do DF datado de 6 de janeiro, entregue naquela tarde ao gabinete do então secretário Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro. O documento já indicaria que a manifestação de extrema-direita era convocada com o objetivo de “tomada do poder”, mediante ameaça concreta de invasão de prédios públicos.

O interventor acrescentou que uma praxe da secretaria em relação a protestos é a produção de um plano de ações integradas. Essas diretrizes se desdobram em planos operacionais ou ordens de serviço, termos técnicos utilizados para definir a linha de ação da segurança pública.

“No evento do dia 8, isso não aconteceu”, apontou Cappelli. “Não há plano operacional, nem ordem de serviço, de forma que não há registro de quantos homens iriam a campo. Houve apenas um repasse burocrático do ofício recebido para algumas unidades pelo Departamento de Operações, e isso é central, porque quem faz esse planejamento é o DOP da Polícia Militar.”

Na prática, explicou Cappelli, o chefe em exercício do DOP, coronel Paulo José, encaminhou “burocraticamente” esse memorando a algumas unidades. “Não houve plano operacional ou ordem de serviço, apenas o memorando encaminhado, e esse memorando não acionou batalhões, nem chegou a batalhões importantes. Há uma falha operacional, porque o relatório de inteligência que existe não gera o desdobramento operacional adequado.”

Há outros indícios de graves falhas da Segurança do DF, segundo Cappelli:

  • A informação da PM é de que 555 homens estavam mobilizados no dia 8 para a área central e a Esplanada dos Ministérios. O interventor contesta: “Há um vídeo com as câmeras da Secretaria de Segurança Pública em que podem constatar que não tínhamos metade disso na Esplanada. A impressão é de que não tínhamos 150 homens na Esplanada naquele dia”;
  • Os bolsonaristas deixaram o acampamento em frente ao QG do Exército por volta de 13h. Ao longo do caminho, a polícia deparou com pessoas que portavam objetos suspeitos. Entre a a saída do acampamento e a quebra da linha de contenção na Avenida das Bandeiras, cerca de 103 minutos transcorreram, “tempo suficiente para que fossem acionadas tropas para dar suporte à linha”;
  • Grande parte dos comandantes dos batalhões mais importantes estava de férias no dia 8;
  • A posse de Anderson Torres, em 2 de janeiro, gerou instabilidade a partir das exonerações e das trocas promovidas na secretaria. Cappelli criticou o fato de o secretário viajar logo após a posse e a constatação de que o relatório de inteligência recebido pela pasta não gerou qualquer desdobramento. “Faltaram comando e responsabilidade no dia 8, na melhor das hipóteses”, avaliou. “A Justiça está apurando. Esse conjunto de coincidências pode caracterizar algo muito pior que ausência de comando e responsabilidade”.

Torres foi preso em 14 de janeiro, ao retornar dos Estados Unidos, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

A ordem de prisão foi publicada em 10 de janeiro, dois dias depois de bolsonaristas praticarem atos de terrorismo em Brasília. A decisão de Moraes foi, posteriormente, chancelada pelo plenário do STF. O documento menciona “descaso e conivência” de Torres “com qualquer planejamento que garantisse a segurança e a ordem no Distrito Federal”.

O comportamento de Torres, afirmou Moraes, “só não foi mais acintoso do que a conduta dolosamente omissiva do Governador do DF, Ibaneis Rocha”. O emedebista foi afastado do cargo por 90 dias ainda na noite do domingo 8, também por decisão de Moraes, confirmada pelo plenário.

Leia a íntegra do relatório:

1 RELATÓRIO FINAL

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