Política
Receita diz que governo Bolsonaro não fez pedido para incorporar jóias a acervo
O posicionamento do órgão vai contra nota divulgada pelo ex-ministro Bento Albuquerque, que já deu três versões ao caso


A Receita Federal informou que o governo do ex-presidente Bolsonaro (PL) não tentou regularizar nem apresentou um pedido fundamentado para incorporar ao patrimônio público as joias avaliadas em R$ 16,5 milhões que foram retidas no Aeroporto de Guarulhos (SP) em 2021.
“A incorporação ao patrimônio da União exige pedido de autoridade competente, com justificativa da necessidade e adequação da medida, como por exemplo a destinação de joias de valor cultural e histórico relevante a ser destinadas a museu. Isso não aconteceu neste caso”, disse a Receita em nota divulgada na noite do sábado 4.
O órgão completou ainda que o governo não regularizou a situação mesmo após receber orientações sobre o caso.
“Na hipótese de agente público que deixe de declarar o bem como pertencente ao Estado Brasileiro, é possível a regularização da situação, mediante comprovação da propriedade pública, e regularização da situação aduaneira. Isso não aconteceu no caso em análise, mesmo após orientações e esclarecimentos prestados pela Receita Federal a órgãos do governo”, diz a nota divulgada pelo órgão.
A versão da Receita vai contra a nota divulgada pelo ex-ministro Bento Albuquerque que dizia ter encaminhado “solicitação para que o acervo recebido tivesse o seu adequado destino legal”. Desde que o caso foi revelado, o ex-ministro de Minas e Energia deu três versões diferentes sobre o caso.
Primeiro, ao jornal o “Estado de S. Paulo”, ele disse que não sabia o que havia na mochila e que, quando viu o conteúdo, afirmou que as joias deveriam ser para a primeira-dama; depois ao jornal “O Globo”, disse que as joias foram devidamente incorporadas ao acervo brasileiro; por fim, em entrevista ao repórter Nilson Klava, da GloboNews, afirmou que o presente era para o Estado brasileiro e que Bolsonaro e Michelle não sabiam das joias.
O conjunto de peças – um colar, um anel, um relógio e um par de brincos de diamantes avaliados em 3 milhões de euros, o equivalente a 16,5 milhões reais – foi apreendido com a equipe do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, por não terem valor declarado à Receita Federal. As peças estavam na mochila de um militar, assessor de Bento Albuquerque.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Padilha considera ‘repugnante’ tentativas de governo Bolsonaro de recuperar jóias
Por CartaCapital
As tentativas do governo Bolsonaro em reaver as jóias apreendidas pela Receita
Por CartaCapital
Bolsonaro nega envolvimento com caso das jóias: ‘Nunca pratiquei ilegalidade’
Por CartaCapital
Michelle Bolsonaro ironiza denúncia sobre jóias ilegais: ‘Estou rindo’
Por CartaCapital