Política
Randolfe: Pazuello usou HC para proteger Bolsonaro, mas estará sozinho na hora da sentença
‘E, quando tem provas materiais cabais de crimes cometidos, evidentemente a sentença será por condenação’, disse o vice-presidente da CPI
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI da Covid, afirmou nesta quinta-feira 20 que o depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello à comissão, realizado em dois dias, fortalece a impressão de que houve grave omissão do governo no caso do colapso de oxigênio nos hospitais do Amazonas, no início deste ano.
Para o parlamentar, Pazuello tentou conter danos à imagem do presidente Jair Bolsonaro. Foi para isso, segundo Randolfe, que serviu o habeas corpus concedido pelo ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal.
“Ele [Pazuello] se utilizou do habeas corpus para proteção do presidente da República. Nós o advertimos que, em última instância, alguns que agora estão ao lado dele não ficarão. Ao contrário do que alguns colegas do governo disseram, não é o relator que proferirá uma sentença. Não são os membros da CPI. É um juiz. E, quando tem provas materiais cabais de crimes cometidos, evidentemente a sentença será por condenação”, disse Randolfe em entrevista coletiva. “E na hora dessa sentença o senhor Eduardo Pazuello estará sozinho. Alguns que hoje procuraram socorrê-lo não o socorrerão no momento final”.
O senador da Rede também afirmou que Pazuello poderia ter “contribuído mais” com a CPI e, principalmente na quarta-feira, “fez uma ação de contorcionismo de fatos”. A oitiva, porém, deixou “evidente a questão da omissão em relação à vacina”.
Randolfe Rodrigues também avalia que os últimos dias de depoimento evidenciaram que os moradores do Amazonas “foram utilizados como cobaias para o chamado ‘tratamento precoce'”.
Quase um mês após o início dos trabalhos, o vice-presidente da CPI afirma há três hipóteses sobre as quais os senadores “estão navegando”:
- “O negacionismo foi responsável por uma estratégia equivocada e, no meu entender, criminosa, de que a melhor forma de enfrentar a pandemia seria a infecção coletiva, a chamada ‘imunidade de rebanho'”;
- “Ocorreu uma grave omissão do Poder Público no caso do Amazonas. O governo brasileiro negligenciou e deixou seus compatriotas morrerem por asfixia”;
- “Uma decorrência dessa estratégia era negligenciar as vacinas. Ocorreu isso com a Coronavac, com o consórcio Covax e com a Pfizer”.
Na sessão desta quinta, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, voltou a pedir a contratação de “um serviço para fazer uma procura online, uma varredura das mentiras ou verdades pronunciadas”. A solicitação foi feita diretamente ao presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM). Calheiros afirmou que Pazuello mentiu ao colegiado.
“Já tivemos uma primeira amostragem das contradições. O depoente em 14 oportunidades mentiu flagrantemente”, declarou. “Ousou negar suas próprias declarações. Só se é uma nova cepa que estamos vendo aqui: a negação do negacionismo. Deve ser uma nova cepa”.
“Porque negar tudo aquilo que está posto, que a sociedade conhece e acompanha, não dá. É tripudiar da investigação e da CPI, imaginar que palavras são jogadas ao vento. É preciso respeitar a Comissão Parlamentar de Inquérito”, acrescentou.
Após a sessão da quarta-feira 19, Calheiros já havia afirmado que o general “mentiu muito” e anunciou pela primeira vez a proposta de contratação de uma agência de checagem.
“Amanhã daremos prosseguimento e ele pode, evidentemente, mudar. Mas ele fez um exercício para não responder às perguntas que foram colocadas. Quando respondia, respondia com imprecisão”, afirmou o relator em entrevista coletiva.
Segundo o senador, o ex-ministro “mentiu muito, muito, tanto que pedirei amanhã que o presidente contrate, pela CPI, uma agência checadora de fatos, para que a gente tenha a negativa desses fatos online, à disposição da CPI. Esta comissão é totalmente nova, há um envolvimento enorme das redes sociais, a comissão tem uma aprovação popular enorme”.
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