Política

Ramagem, fora da Abin, recebeu informações sobre operações da agência no Rio

Informação foi confirmada pelo próprio agente que repassou os dados internos da Abin ao deputado federal

Carlos Bolsonaro era o chefe político, diz a PF. Ramagem (acima), o gestor da bisbilhotagem – Imagem: Pablo Valadares/Ag. Câmara
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O deputado federal Alexandre Ramagem (PL) teria recebido, em 2023, informações sobre operações realizadas pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no Rio de Janeiro. As informações foram repassadas ao bolsonarista pelo oficial da inteligência Victor Felismino Carneiro, sucessor do deputado na agência. 

Ao jornal O Globo, Carneiro confirmou ter entregue ao parlamentar uma lista de operações que a Abin realizou no estado e uma relação aproximada dos custos de cada ação. 

Esse é o mais novo capítulo descoberto sobre o aparelhamento da Abin pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), sob a gestão do parlamentar, entre julho de 2019 e março de 2022.

Mesmo fora da gestão da agência, e atuando como deputado federal, Ramagem continuou exercendo certa influência na agência e mantinha sua rede de compartilhamento de informações. 

Uma das informações repassadas a Ramagem por Carneiro seria referente a Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso Nacional. Na ocasião, a Abin estava começando a levantar dados sobre a utilização de recursos da agência durante o governo do ex-capitão para pagar informantes. 

“Foi um fato específico. Eu estava na linha de tiro. Por isso, procurei Ramagem”, justificou Carneiro ao jornal.

Ramagem é investigado pela Polícia Federal por suspeitas de receber informações mesmo após deixar o cargo de dirigente da agência de inteligência. Durante as buscas realizadas no gabinete do parlamentar na Câmara, agentes encontraram informações que podem estar relacionadas com a Abin.

Ele pode, segundo o regramento da Abin, responder administrativamente e até criminalmente pela posse irregular dos itens. No segundo caso, o crime em questão seria o de violação de sigilo profissional. É preciso, no entanto, que se comprove, neste caso,  a entrega de informações de inteligência para terceiros.

Os terceiros mencionados podem ser membros do clã-Bolsonaro. A questão segue em aberto e ainda se busca responder se Ramagem tinha acesso a informações sigilosas para beneficiar a família Bolsonaro. 

Um dos vestígios que pode corroborar com a tese foi uma mensagem enviada por uma assessora do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) pedindo ao deputado dados de um inquérito da Polícia Federal “envolvendo PR e 3 filhos”. 

“A solicitação de realização de ‘ajuda’ relacionada a Inquérito Policial Federal em andamento em unidades sensíveis da Polícia Federal indica que o Núcleo Político possivelmente se valia do Del. Alexandre Ramagem para obtenção de informações sigilosas e/ou ações ainda não totalmente esclarecidas”, diz a PF em um relatório citado pelo jornal.

Carneiro, o agente que repassou os dados ao deputado, está também diante de outra polêmica. Na gravação da reunião que, segundo a PF, revelou a ‘dinâmica golpista’ no governo Bolsonaro, o agente da Abin é citado pelo general Augusto Heleno na exposição de um plano para infiltrar agentes de inteligência na campanha eleitoral.

Heleno, à época chefe do Gabinete de Segurança Institucional, ponderou que o aumento no número de “olheiros” poderia aumentar o risco da operação ser descoberta. Antes de terminar a sua exposição, Heleno foi interrompido por Bolsonaro, que pediu que o assunto fosse tratado em uma reunião particular. 

Carneiro admite ter falado com Heleno sobre o tema, mas diz que dará explicações sobre o caso somente à Polícia Federal.

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