Política

PT do Rio tenta retirar o apoio a Freixo por insistência do PSB com Molon

A candidatura é vista pelo PT fluminense como uma quebra de acordo por parte do PSB, já que a aliança pressupunha a indicação de André Ceciliano

Lula e Marcelo Freixo lotaram ato de pré-campanha na Cinelândia, Rio de Janeiro. Foto: Ricardo Stuckert
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O barril de pólvora sobre o qual há meses está sentada a aliança entre Lula e o deputado federal Marcelo Freixo no Rio de Janeiro nunca esteve tão perto de explodir.

Na véspera da convenção do PT, marcada para quarta-feira 3, o presidente estadual do partido, João Maurício, apresentou à Executiva Estadual uma resolução propondo o rompimento formal da aliança com o PSB e seu candidato a governador.

Costurada com a maioria da direção do PT fluminense, a resolução deverá ser aprovada na convenção partidária e já é uma dor de cabeça para Lula, que reafirmou o apoio a Freixo em sua última passagem pelo Rio para um ato conjunto das duas candidaturas que reuniu  milhares de pessoas na Cinelândia, zona central da cidade.

O motivo alegado para o rompimento é a insistência do PSB em manter a candidatura ao Senado do deputado federal Alessandro Molon, posição que vem sendo confirmada pelo presidente nacional do partido, Carlos Siqueira, nos últimos três dias, para irritação dos caciques regionais petistas.

A candidatura de Molon é vista pelo PT fluminense como uma quebra de acordo por parte de Freixo e do PSB, já que a aliança pressupunha a indicação pelo PT do deputado estadual André Ceciliano como candidato a senador. Após o próprio Lula entrar em campo para, sem sucesso, pedir à família Arraes, liderança histórica do PSB, que enquadrasse Siqueira e Molon, o PT resolveu partir para o tudo ou nada no Rio.

“Na nossa boa-fé e na nossa crença na importância do cumprimento de acordos, sabendo da nossa responsabilidade na construção de uma coligação de oito partidos, aguardávamos até agora por uma definição final da Direção Nacional do PSB. Todavia, fomos surpreendidos pela defesa do presidente nacional do PSB da manutenção da candidatura divisionista e aventureira de Molon”, diz a resolução.

No atual cenário, afirma Maurício no documento, “infelizmente não é mais possível manter o apoio à candidatura Freixo ao governo do estado”. A direção do PT do Rio pretende levar a questão à Executiva Nacional do partido ainda nesta semana. “Vamos nos próximos dias debater alternativas de coligação majoritária com a Direção Nacional do PT e com os partidos da Federação para que tenhamos um forte palanque do Lula no nosso estado.”

Procurado por CartaCapital, Molon não respondeu até o fechamento desta reportagem. Em vídeos postados em suas redes sociais desde o fim da semana passada, no entanto, ele tem reafirmado sua candidatura.

“Vamos seguir firmes e fortes até a vitória”, diz o deputado pessebista, que também agradece à direção nacional do PSB pelo apoio. Em entrevista a uma emissora de rádio na segunda-feira 1º, Siqueira descartou uma intervenção no comando do partido no Rio. “O PSB não aceitou entrar na federação com PT, PCdoB e PV por não aceitar abrir mão de sua autonomia e da possibilidade de escolher os próprios candidatos.”

Freixo, por sua vez, prefere não comentar diretamente a discussão interna do PT, mas diz acreditar em uma saída para a crise. “Nós sempre trabalhamos pela união e temos a convicção de que o presidente Lula caminhará ao nosso lado”, afirmou.

O documento elaborado pelo presidente estadual do PT, no entanto, afirma que “a divisão na coligação majoritária inviabilizará um palanque forte para Lula e inviabilizará as nossas candidaturas majoritárias, tanto Freixo, como André”.

O dirigente se diz particularmente tocado com o tratamento dispensado a Ceciliano por apoiadores de Molon: “O descumprimento do acordo feito entre o PT e o PSB nos dividiu, com parte da esquerda atacando o nosso companheiro André, pré-candidato do PT ao Senado, numa campanha sórdida nas redes, como não se via faz anos”.

A CartaCapital, João Maurício afirmou que “a postura egoísta e divisionista de Molon está destruindo a maior aliança feita na esquerda nos últimos 20 anos”. Ao contrário de Freixo, ele indica considerar pouco provável um entendimento. “Não temos como seguir numa chapa onde querem excluir o PT”, diz.

Um quadro nacional petista avalia reservadamente que, independentemente do desfecho dessa novela, o prejuízo para a candidatura de Lula começará a se fazer sentir com o início de uma campanha dividida.

“Agora, às vésperas das eleições, o PT se vê refém de seus aliados. Não tem candidato ao governo do estado e tampouco consegue garantir Ceciliano como a candidatura da frente de esquerda fluminense.”

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