Política
PT aposta nas redes para enfrentar narrativa bolsonarista da ‘anistia piedosa’
Para Éden Valadares, secretário de comunicação do partido, derrotar a defesa da anistia exige levar a mesma combatividade das ruas para a internet


A ultradireita tem um discurso político linha-dura contra o crime. Mas no caso dos condenados por tentativa de golpe – Jair Bolsonaro à frente – a atitude é outra. Quer anistia, ou quem sabe redução de penas, na hipótese de não haver votos suficientes no Congresso para aprovar o perdão.
Para o PT, não é difícil entender a contradição. “O pobre condenado por crimes menores não têm mobilização, não há tentativa de anistia”, diz Éden Valadares, secretário de comunicação do PT, ao programa Poder em Pauta.
“Quando poucos poderosos, alguns generais, um ex-presidente da República pela primeira vez são devidamente julgados, condenados e presos, o Parlamento vai se mobilizar para diminuir a pena? Está errado. O que vale para muitos pobres tem que valer para os poucos poderosos.”
Os protestos de rua de 21 de setembro ocorreram em mais de 70 cidades, conforme contabilidade feita pelo PT. Cobravam o enterro, no Congresso, das propostas de proteger parlamentar fora da lei e de anistiar golpista. A primeira exigência foi vitoriosa. E a segunda?
“Não será difícil mobilizar a sociedade brasileira caso a gente consiga fazer o cidadão e a cidadã brasileira entenderem que se trata de mais uma manobra para garantir privilégios”, afirma Valadares.
O monitoramento rotineiro das redes sociais feito pelo PT identificou um truque retórico do bolsonarismo: manipular a opinião pública por meio de sentimentos. “Há quem encara, ou foi levado a encarar, que anistia tem alguma correlação com perdão, misericórdia, piedade, valores cristãos”, conta o secretário.
As redes sociais, admite, são um terreno em que o adversário leva vantagem. Por isso, o PT quer levar para esse espaço a mesma combatividade das ruas. “Esse exército de argumentos que destrói mentiras e combate o ódio precisa ocupar as redes. Isso exige investimento, qualificação, e humildade para estudar e entender.”
Os monitoramentos detectaram também algo inusitado: mesmo entre eleitores de Bolsonaro há apoio à proposta do governo Lula de isentar salários de até 5 mil reais e taxar mais os milionários.
Para o secretário, é sinal de que está disseminada na sociedade a compreensão de há um abismo social no país e que as elites, sempre privilegiadas, precisam “financiar ou co-financiar” o combate à desigualdade.
Nos últimos dias, porém, o relator do projeto de anistia na Câmara, Paulinho da Força (SD-SP), tentou atrelar as mudanças no Imposto de Renda ao destino da anistia — que ele chama de “lei da dosimetria”, por reduzir penas em vez de extingui-las.
Para Valadares, trata-se de uma barganha ilegítima: “Ele tenta salvar alguns poderosos sequestrando o governo para um jogo que não tem condições de impor. A pauta da impunidade já foi derrotada pela sociedade, todas as pesquisas mostram isso.”
De fato, três levantamentos divulgados em setembro apontaram maioria contra a anistia: Datafolha (54% a 39%), Atlas (57% a 40%) e Quaest (41% a 36%).
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