Política

PSB x PT: vitória do ‘peemedebismo’

O racha na base aliada enfraquece o campo progressista e favorece conservadorismo à moda do PMDB. Por André Barrocal

Eduardo Campos durante entrevista em Brasília, em abril. O governador de Pernambuco quer ser candidato à Presidência
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PT e PSB são as forças progressistas de maior peso eleitoral desde o fim da ditadura. A aliança ajudou a enfrentar o conservadorismo do Congresso e de setores da sociedade e a promover algumas mudanças sociais e econômicas a partir do governo Lula. Por isso, a decisão do PSB de deixar o governo Dilma Rousseff para lançar o governador Eduardo Campos à Presidência em 2014 é uma ruptura significativa no campo político progressista e tem um grande vitorioso à vista: o conservadorismo à moda do PMDB.

“Ficaremos cada vez mais dependentes do PMDB. E o PMDB é quem muitas vezes comanda a oposição e a resistência às mudanças”, afirma o secretário-geral do PT, deputado Paulo Teixeira. “Falando como cidadão, o rompimento é ruim para o Brasil. O PMDB fica mais forte”, diz um outro dirigente nacional petista, que prefere o anonimato.

O vínculo crescente com o PMDB é motivo de repúdio igualmente crescente no PT. A política de alianças tornou-se um tema central na eleição do próximo presidente da legenda, em novembro. Para a maioria dos seis candidatos no páreo – entre eles, Teixeira – os aliados são hoje o principal problema do PT e do governo. Unido a figuras como os senadores José Sarney (PMDB) e Renan Calheiros (PMDB), o PT desgasta a imagem, e o Palácio do Planalto não teria mais como patrocinar avanços, pois a coalizão conservadora não permitiria.

“Peemedebismo” é como o filósofo e cientista político Marcos Nobre, da Unicamp e do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), define essa aliança conservadora, observada também nas gestões Fernando Henrique e Lula. Ele defende o conceito no livro Imobilismo em Movimento, a ser lançado pela Companhia das Letras em 4 de outubro.

Ao analisar o Brasil desde a redemocratização até o governo Dilma, Nobre identifica um traço comum. O sistema político – e portanto os extratos da sociedade nele representados – faz de tudo para conter avanços sociais, econômicos e políticos. O símbolo da resistência seria o PMDB – embora partidos menores, como PP, PR e PTB, se comportem igual e estejam inclusos no conceito de “peemedebismo”.

O PMDB integrou todos os governos a partir de 1985, exceto o de Fernando Collor. Como é de “centro”, pode inclinar-se tanto à direita (administração FHC) quanto à esquerda (gestão Lula). “O ‘peemedebismo’ retarda a transformação do País. Qualquer mudança mais rápida e mais profunda esbarra nisso”, diz Nobre. Para ele, a candidatura de Eduardo Campos é uma “vitória histórica” do “peemedebismo”, pois reduz ainda mais a possibilidade de um governo progressista, como o atual, contornar o conservadorismo.

E se deixa o PT refém do conservadorismo “peemedebista”, a ruptura apresenta o mesmo risco ao PSB. Neste caso, pela aproximação com o conservadorismo neoliberal do PSDB. Campos planeja vencer a eleição de 2014 levando-a para o segundo turno contra Dilma e herdando os votos do candidato tucano, provavelmente o senador Aécio Neves, de Minas Gerais. Por isso, cultiva há tempos uma relação amistosa com o PSDB. Os dois partidos devem estar aliados em 21, dos 27 estados brasileiros, nas eleições para governador no ano que vem.

Entusiasta da candidatura própria, o líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS), também lamenta o fim da antiga parceria com o PT. Mas acredita que chegou a hora de enfrentar a lógica do “peemedebismo” que tem prevalecido nas alianças do governo federal. Mesmo que para isso o PSB precise se juntar a antigos adversários. “A reação das ruas em junho foi contra esse pacto velho do PT com o PMDB. Não tenho problema em abraçar alguns tucanos, mas com Sarney e Renan não dá mais”, diz.

O casamento PT-PMDB não é obra de Dilma, foi costurado por Lula, mas o estilo da presidenta agravou o descontentamento do PSB. Mais gerencial e menos inclinada a conversas políticas, Dilma dedica pouco tempo a líderes partidários. Prefere uma relação mais simples: canalizar energia para o diálogo com o PMDB, o partido dos presidentes da Câmara e do Senado. Em uma das reuniões com parlamentares depois das manifestações de junho, Dilma disse, segundo um dos presentes, que via o PMDB como o partido que influencia os demais.

Por causa da postura de Dilma, Campos e o PSB se consideram ignorados, em que pese a afinidade ideológica. Sentiram isso até na hora de entregar os cargos federais. Um dia antes da reunião da cúpula partidária que optou pelo afastamento, o governador ligou para Dilma. Queria pedir uma reunião para comunicar a decisão a ela previamente. Dilma não retornou. Ele fez o mesmo com Lula, que respondeu em seguida. É por esse tipo de situação que o governador só admite abortar a candidatura num improvável cenário de o ex-presidente tentar voltar ao Planalto.

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