Política

Provável presidente da CPI da Covid ignora pressão de Bolsonaro e confirma Renan na relatoria

Em entrevista exclusiva a CartaCapital, o senador Omar Aziz (PSD-AM) garantiu não temer qualquer interferência da gestão federal

Os senadores Omar Aziz e Renan Calheiros. Fotos: Geraldo Magela/Agência Senado e ROQUE DE SÁ/AGÊNCIA SENADO
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Provável presidente da CPI da Covid, que tem como alvo principal a omissão do governo de Jair Bolsonaro na pandemia, o senador Omar Aziz (PSD-AM) não teme pressão da gestão federal ou de figuras ligadas ao chefe do Palácio do Planalto. O parlamentar tampouco vislumbra a possibilidade de o senador Renan Calheiros (MDB-AL) ser preterido para o cargo de relator da comissão.

“Se eu me eleger presidente, ele será o relator da CPI. Ponto pacífico”, afirmou Aziz em entrevista exclusiva a CartaCapital nesta sexta-feira 23.

Já há um acordo finalizado para que Aziz assuma a presidência na próxima terça-feira 27 e Renan ocupe a relatoria. Apesar disso, a tropa de choque bolsonarista não poupa esforços para impedir Calheiros de ascender ao comando. A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), uma das mais ferrenhas defensoras de Bolsonaro, acionou até a Justiça Federal para jogar Renan para escanteio.

Segundo a bolsonarista, “a presença de alguém com 43 processos e 6 inquéritos no STF evidentemente fere o princípio da moralidade administrativa”.

Na tarde desta sexta, o provável relator foi às redes sociais para anunciar que, mesmo antes do início dos trabalhos, declara-se suspeito para analisar qualquer tema eventualmente ligado ao governo de Alagoas, comandado por seu filho, Renan Filho (MDB).

“Não relatarei ou votarei. Não há sequer indícios quanto ao estado, mas a minha suspeição antecipada é decisão de foro íntimo”, publicou Renan.

Omar Azis, no entanto, não vê razões para que o emedebista perca a relatoria. A responsabilidade, diz isso, recai sobre o partido e sobre o próprio governo Bolsonaro.

“O Eduardo Braga [líder do MDB no Senado] seria o relator. O MDB tem a maior bancada do Senado e o PSD, a segunda. Quem ficou com a presidência é o PSD. Por isso, o MDB escolhe a relatoria. Como o Eduardo não quis ser o relator, ficará com o Renan”, explicou.

“Se você olhar os membros do MDB, tem o líder do governo no Congresso, que é o Eduardo Gomes (MDB-TO), e tem o líder no Senado, que é o Fernando Bezerra (MDB-PE). Se escolheram o Eduardo [Braga] e o Renan [para compor a CPI], você tem de perguntar ao líder do governo por que não foram outros nomes”, acrescentou Aziz.

Para além do ‘fator Renan’, Aziz garantiu não temer qualquer pressão do governo Bolsonaro sobre o desenvolvimento dos trabalhos da CPI. “Eu nunca recebi um telefonema, nem do líder do governo, muito menos do governo federal para tratar desse assunto”.

O provável presidente garante que conduzirá a comissão de forma técnica, a fim de evitar que se “tente fazer política com 380 mil mortes no Brasil, seja da esquerda, da direita ou do centro”.

“A CPI precisa encontrar as verdades, sem se vingar de A ou B, mas fazendo justiça”.

Entre as perguntas mais importantes a serem respondidas pela CPI, avalia Aziz, estão:

  • Por que o Brasil não fez uma barreira sanitária [para conter a entrada e a disseminação do vírus]?
  • Como o Brasil se planejou quando tomou conhecimento da pandemia?
  • Por que não entramos nos consórcios para comprar vacinas no momento certo?
  • Por que não compramos 70 milhões de doses da vacina da Pfizer [em  agosto de 2020]?

A CartaCapital, Aziz preferiu não detalhar o cronograma de convocações de testemunhas, já que ainda não recebeu o plano de trabalho do relator Renan Calheiros. Ele confirmou, no entanto, que a comissão chamará os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich e Eduado Pazuello.

“Todos os que passaram pela pasta terão de colaborar com a comissão”, disse o senador.

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