Política

Pressão, parlamentar no ‘rolo’ e promessa de Bolsonaro de acionar a PF: a oitiva dos irmãos Miranda

Os depoentes reforçaram que o presidente se comprometeu a acionar a Polícia Federal, mas o órgão não tem registro de investigação aberta

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
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Em depoimento à CPI da Covid nesta sexta-feira 25, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda e o irmão dele, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), repetiram ter alertado o presidente Jair Bolsonaro sobre possíveis irregularidades na negociação do governo pela vacina indiana Covaxin.

Segundo o deputado, Bolsonaro citou o nome de um parlamentar ao ser informado sobre os indícios de fraude, revelados em encontro no dia 20 de março deste ano. “O que eu percebi, sem querer proteger, o presidente demonstrou atenção ao que estávamos falando. Ele cita para mim assim: ‘você sabe quem é, né? Que ali é foda, se eu mexo nisso ai, já viu a merda que vai dar. Isso é fulano, vocês sabem que é fulano né'”, relatou Miranda.

Instado por senadores a fornecer o nome do parlamentar em questão, Luis Miranda disse não se lembrar. Adiante na sessão, informou se tratar de um congressista da base do governo e que tem ligação com Bolsonaro. Repetiu, porém, que não se recordava do nome.

A suposta ‘falha de memória’ irritou o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM). “Vossa Excelência tem obrigação de dizer o nome do deputado. Se não vai ficar no lenga-lenga. Se o presidente citou nome de deputado, o certo era o presidente ter expulso ele da base e denunciado o deputado. Ele tem a mania de ir para live e acusar nós aqui que temos diferenças (com ele) de ladrões, sem ter prova nenhuma”, afirmou.

Na oitiva, veio à tona o nome do líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR), citado pelo vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP). O senador disse que a fiscal do Ministério da Saúde responsável por dar o aval ao procedimento de importação da Covaxin foi nomeada por Barros, quando ele ocupava o posto de Ministro da Saúde no governo de Michel Temer.

O deputado Luis Miranda também disse ter explicado, “de forma resumida”, as suspeitas de fraude no caso Covaxin ao então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. “Aí ele olhou para a minha cara com uma cara de descontentamento e falou assim: ‘Luis, no duro, mas nessa semana, é certeza, eu vou ser exonerado. Eu tenho conhecimento de algumas coisas, tento coibir, mas, exatamente por eu não compactuar com determinadas situações, é que, assim, eu vou ser exonerado’.”

Já o servidor Luis Ricardo Miranda, o primeiro a identificar os indícios de irregularidades, declarou à CPI ter sido pressionado por superiores no Ministério da Saúde para agilizar a documentação de compra do imunizante indiano. Ele classificou como “atípica’ e “excessiva” a pressão recebida.

Os irmãos Miranda reforçaram que Jair Bolsonaro, ao ser informado das possíveis irregularidades, disse que acionaria a Polícia Federal. “Ele se comprometeu a chamar, através do DG (diretor-geral) da Polícia Federal, apresentar uma investigação para investigar se tinha algo ilícito”, disse Luis Ricardo.

Nesta sexta, durante viagem a Sorocaba (SP), Bolsonaro afirmou que “é lógico que vai abrir inquérito”, ao ser questionado se a PF investigaria o suposto esquema de corrupção.

“Hoje, ele diz que vai investigar a partir de agora. Significa que desde então não foi feita a investigação”, concluiu Luis Miranda no depoimento.

Até aqui, de fato, a Polícia Federal não informou ter encontrado qualquer registro de inquérito aberto sobre a compra da vacina.

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