Política
Porto Alegre: Vereador do PSOL volta a receber ameaça de morte e atribui ação a grupo da deep web
‘É gente que não quer ver negras e negros no exercício do poder legislativo, e isso é um ataque à democracia’, criticou Matheus Gomes
O vereador de Porto Alegre Matheus Gomes (PSOL) voltou a ser alvo de ameaças de morte. Em 27 de dezembro, o político recebeu uma mensagem em seu e-mail institucional na qual há menção a ‘um possível ataque a tiros ao conjunto da Bancada Negra’.
No texto, de autoria anônima e atribuída à sigla RWA, o remetente diz estar perto dos vereadores e cita particularidades sobre o funcionamento da Casa Legislativa. O responsável ainda debocha das investigações e declara aguardar os policiais para ‘servir um chimas’ – um chimarrão.
Não se trata de um caso isolado. Em 6 de dezembro, uma mensagem semelhante foi encaminhada à bancada negra da Câmara de Porto Alegre, composta também pelas vereadoras Daiana Santos (PCdoB), Karen Santos (PSOL), Bruna Rodrigues (PCdoB) e Laura Sito (PT).
“Não se trata de um ataque individual. Ali se reafirma um ataque contra a bancada negra, que tem a representação do movimento social negro da cidade de Porto Alegre – mas não só, [porque] temos ali uma série de coletivos, de representações de periferia, de lutas LGBT, culturais, de movimentos de meio ambiente. É um ataque conjunto a quem se vê representado por esses parlamentares”, afirmou Gomes a CartaCapital.
O psolista avalia que a autoria da mensagem pode estar relacionada ao grupo Dogolochan, fórum extremista que atua na chamada deep weeb. “O conteúdo das mensagens tem conotação neonazista, termos que remetem a expressões eugênicas. É gente que não quer ver negras e negros no exercício do poder legislativo, e isso é um ataque à democracia como um todo”, atesta o vereador, o 5º mais votado em Porto Alegre em 2020.
Gomes entende que o ataque se insere em um contexto político que favorece ameaças e perseguições, atitudes também capitaneadas pelo presidente Jair Bolsonaro. “Não tenho dúvidas de que seus discursos e ações de ataque à democracia, de desrespeito a mulheres, negros e negras, a LGBTs e a povos indígenas favoreçam esse tipo de violência”, prosseguiu, ao citar o episódio em que a Câmara de Porto Alegre foi invadida por um grupo antivacina. Alguns integrantes carregavam cartazes com símbolos nazistas.
A vítima das ameaças cobra celeridade nas investigações e afirma que já foram notificadas a Polícia Civil de Porto Alegre, a Câmara Municipal e a comissão de Direitos Humanos da Casa. “Precisamos de uma investigação profunda, séria e ágil por parte da inteligência da Polícia Civil, da secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul e até da Polícia Federal.”
“Precisamos defender nossos mandatos e nossas vidas, que é algo que extrapola qualquer tipo de diferença política”, completou.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul afirmou que o caso já está sob investigação da Polícia Civil na Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância (DPCI) da Capital. Ainda de acordo com a pasta, a recente ameaça ao vereador foi incluída na apuração em curso que já considerava o primeiro ataque à bancada negra da Câmara.
“Será tratado com a devida atenção, uma vez que a ameaça a parlamentares representa uma afronta ao regime democrático”, afirmou a SSP.
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