Justiça

Por que o governo Lula resiste a decretar GLO no Rio de Janeiro

Interlocutores do Planalto avaliam que o uso de força militar poderia transformar o Rio em um campo de guerra e projetar para o mundo uma imagem de colapso

Por que o governo Lula resiste a decretar GLO no Rio de Janeiro
Por que o governo Lula resiste a decretar GLO no Rio de Janeiro
O presidente Lula (PT), o comandante do Exército, general Tomás Ribeiro Paiva, e o Comandante da Marinha, Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen, durante celebração do Dia do Exército, em solenidade no Quartel-general do Exército, em Brasília. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Após a operação mais letal da história do Rio de Janeiro, que deixou ao menos 132 mortos nos complexos da Penha e do Alemão, o governo Lula (PT) enfrenta crescente pressão, inclusive interna, para decretar uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no estado. No entanto, o Palácio do Planalto resiste à medida, avaliando que a presença das Forças Armadas nas ruas poderia agravar a violência e gerar forte desgaste político.

A avaliação de Lula e de seus principais ministros é que o uso da GLO – instrumento que autoriza militares a atuarem em tarefas de segurança pública – poderia transformar o Rio em um campo de guerra, com tanques e soldados enfrentando civis, e projetar para o mundo uma imagem de colapso. O presidente e sua equipe consideram que uma operação militar nesse contexto, marcado por denúncias de execuções e mais de uma centena de mortos, teria um custo humanitário e simbólico alto demais.

O tema foi debatido em reunião emergencial realizada na terça-feira 28 no Palácio do Planalto, com a presença do presidente em exercício Geraldo Alckmin, e dos ministros Rui Costa (Casa Civil), Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública), Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), Macaé Evaristo (Direitos Humanos) e Sidônio Palmeira (Secom). No encontro, o governo decidiu reforçar a cooperação policial e prisional, mas descartou o uso de militares.

Nos bastidores, interlocutores de Lula apontam que a GLO não resolveria o problema da segurança e poderia gerar novos confrontos e mortes, ampliando a crise. Além disso, o governo teme assumir a responsabilidade direta por eventuais abusos cometidos pelas Forças Armadas

O governo federal busca alternativas: o reforço da inteligência policial, transferência de presos de alta periculosidade para presídios federais e apoio técnico e logístico às forças locais, sem protagonismo militar.

Enquanto a gestão Lula tenta conter a escalada de tensão, imagens de dezenas de corpos sendo levados por moradores às ruas do Rio de Janeiro seguem repercutindo no País e no exterior.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmou nesta quarta-feira 29 que o presidente Lula ficou “estarrecido” com o número de mortos e “surpreso” com o fato de uma operação “dessa envergadura ter sido desencadeada sem conhecimento do governo federal”. Segundo ele, o presidente determinou que uma comitiva do governo, composta por ele e pelo diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, vá ao Rio ainda hoje para se reunir com o governador Cláudio Castro (PL) e avaliar formas de apoio.

Lewandowski também descartou que o governo federal possa decretar a GLO sem um pedido formal do estado. “A operação GLO primeiro tem que ser requerida pelo governador. Não é ação espontânea do governo federal”, disse. O ministro destacou ainda que, até o momento, “essa hipótese não foi abordada porque não se colocou na mesa essa questão. Não há pedido”. Ele classificou a ação no Rio como “cruenta e violenta” e afirmou que será necessário avaliar se esse tipo de operação “é compatível com os princípios do Estado Democrático de Direito”.

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