Política

Por que o 1º de Maio fracassou e como retomar a capacidade de mobilização, segundo as centrais

Da escolha do local à desmobilização dos trabalhadores, entidades reconhecem falhas e admitem a necessidade de mudanças

Ato no 1º de Maio de 2024, em São Paulo, com a presença do presidente Lula. Foto: Miguel Schincariol/AFP
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Lideranças sindicais admitem falhas na organização do ato de 1º de Maio em São Paulo e defendem mudanças no formato para retomar a capacidade de mobilização a partir do ano que vem.

Entre os pontos listados para justificar o baixo público na zona leste da capital paulista estão um erro na escolha do local, distante do centro da cidade, a desmobilização dos trabalhadores, questões climáticas e até a falta de tempo hábil para fazer a convocação.

O Monitor do Debate Político, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, coordenado por Pablo Ortellado e Márcio Moretto, calcula que o ato reuniu 1.635 pessoas. A margem de erro do estudo é de 12% para mais ou para menos.

Principal atração, Lula (PT) se irritou com a falta de público e afirmou não ter havido o esforço necessário “para levar a quantidade de gente que era preciso levar”. O presidente também repreendeu o ministro Márcio Macêdo, da Secretaria-Geral da Presidência, responsável pelo diálogo com os movimentos sociais.

Essa avaliação é compartilhada por sindicalistas ouvidos por CartaCapital, para os quais o modelo atual é “engessado”. Segundo eles, será necessário atualizar as plataformas políticas das centrais, para atrair um público mais jovem e se adaptar à nova relação capital-trabalho.

Para Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores, a organização dos próximos atos deve levar em consideração as mudanças tecnológicas no trabalho, algo importante para garantir a sobrevivência dos movimentos sindicais.

“Precisamos ter sensibilidade de compreender o mundo em que estamos vivendo e buscar alternativas para nos qualificarmos diante das novas formas tecnológicas”, pontua. “Deveríamos ter convocado [o ato] com mais antecedência, demoramos muito para planejar. Existem várias questões de que já tínhamos consciência e não vamos cometer esses equívocos no ano que vem.”

Outro a mencionar a necessidade de reivenção é o secretário-geral da Força SindicalJoão Carlos Gonçalves, o Juruna. “Nós, sindicalistas, temos que rever o formato, repensar como fazer esse evento. Sinto que o estilo do 1º de Maio implementado não dá para continuar. Não dá para manter o evento tão engessado como está.”

O sindicalista ainda relembra edições anteriores, com sorteios de carros e apartamentos e shows de artistas famosos. Não existe, por ora, qualquer discussão sobre a retomada desse formato, mas o entendimento é que os próximos eventos têm de ser mais atraentes.

“Neste momento, o principal é discutir a forma como chamar os trabalhadores e as trabalhadoras, como atualizar as plataformas relativas ao momento em que estamos vivendo, às bandeiras que defendemos e queremos construir”, acrescenta Juruna.

Presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros, Antonio Neto entende que houve falhas no planejamento do ato, mas faz um balanço positivo. Ele concluiu que a manifestação demonstrou a unidade dos trabalhadores na defesa de suas pautas e a necessidade de “lutar com as ferramentas disponíveis”.

“O ato mostrou a classe operária unida, e isso é fundamental. Tivemos um público aquém do que esperava, mas foi bastante razoável, nós gostamos muito. Vamos agora avaliar para os próximos anos”, afirma. “Já fizemos atos que tinham 700 mil pessoas, mas envolviam sorteios, outros tipos de atrativos que não eram efetivamente políticos. É mais uma questão conjuntural.”

As centrais sindicais também fizeram questão de isentar integrantes do governo Lula da responsabilidade pela falta de público. Por meio de um comunicado à imprensa, as principais organizações reconheceram o momento de dificuldade do sindicalismo, falaram em adversidades e admitiram uma “jornada de lutas cada vez mais desafiadora”.

Além de UGT, CSB e Força Sindical, o texto é assinado por representantes da Central Única dos Trabalhadores, da Central dos Trabalhadores do Brasil, da Nova Central Sindical do Brasil, da Intersindical e da Pública.

No Palácio do Planalto, auxiliares de Lula avaliam que sua presença no evento representou uma exposição desnecessária. O esvaziamento de público é o principal ponto de incômodo entre membros do governo, já que as imagens áreas deram margem a comparações com mobilizações recentes do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

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