Justiça
Por que Aécio, Temer e Maia estão ressurgindo para falar sobre anistia
Com Bolsonaro enfraquecido, as velhas raposas tentam ocupar o assento vago e fortalecer Tarcísio como alternativa para 2026


Na política brasileira a máxima de não existe vácuo de poder que nunca envelhece. A cena recente da articulação em torno da chamada “dosimetria” para reduzir as penas dos golpistas de 8 de Janeiro recolocou três personagens conhecidos no centro do debate: Michel Temer (MDB), Aécio Neves (PSDB-MG) e Rodrigo Maia (PSDB).
Todos já foram protagonistas de momentos decisivos da história nacional e agora voltam a se mover em meio à fragilidade do bolsonarismo e à disputa antecipada pela sucessão de 2026.
O papel de cada um
Michel Temer busca retomar a imagem de bombeiro institucional, papel que desempenhou em crises passadas. Ao aparecer ao lado de ministros do STF e líderes do Congresso, tenta reafirmar sua marca de articulador;
Aécio Neves, outrora presidenciável, vê na dosimetria uma chance de se recolocar como moderado, capaz de oferecer saídas de “pacificação” num ambiente polarizado;
Rodrigo Maia, hoje fora do Congresso, aproveita o palco para lembrar que já comandou a Câmara em tempos turbulentos e, ao mesmo tempo, projetar-se como voz autorizada para discutir sucessão e reorganização da direita.
O pano de fundo para esse retorno é a erosão do capital político de Jair Bolsonaro (PL). Condenado pelo Supremo Tribunal Federal e sob risco de prisão, o ex-presidente perdeu condições de liderar sozinho a direita. Nesse vácuo, diferentes setores buscam espaço junto ao eleitorado conservador, e “raposas velhas” como Temer, Aécio e Maia se apresentam como pontes possíveis entre centro e direita.
A anistia como palco
A disputa em torno da anistia ou da dosimetria funciona como um teste de força. Para os bolsonaristas, é bandeira de sobrevivência. Para Temer, Aécio e Maia, é oportunidade de aparecer como mediadores racionais, que reconhecem os excessos do 8 de Janeiro, mas defendem algum gesto de pacificação.
Ao se posicionarem nesse debate, eles não falam apenas de lei: falam de futuro e se apresentam como possíveis interlocutores de uma direita órfã.
A discussão sobre a dosimetria, com Paulinho da Força (Solidariedade-SP), procura reduzir penas dos condenados pelo 8 de Janeiro, evitando uma anistia ampla e criando espaço para “pacificação” política. Essa ação concreta mostra que os veteranos não estão apenas reaparecendo simbolicamente, mas também atuando ativamente para ganhar relevância junto à direita, ao Centrão e a setores moderados, enquanto a eleição de 2026 se aproxima.
O fator Tarcísio
Rodrigo Maia deu um passo além. Em evento com empresários, na segunda-feira 22, afirmou que a oposição “ressuscitou Lula” com sua desorganização e defendeu que Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, seja o candidato natural contra o petista em 2026. Para Maia, uma disputa entre os dois traria menos radicalização e mais debate programático.
Esse movimento revela a tentativa de reorientar a direita para longe do “bolsonarismo radical”, reposicionando-a sob uma liderança considerada viável eleitoralmente.
Maia também aproveitou o contexto das manifestações de esquerda que lotaram capitais no último fim de semana para reforçar sua crítica: a desorganização da direita abriu espaço para que a base lulista retomasse o protagonismo nas ruas. O contraste entre mobilizações serve como alerta de que a direita corre o risco de perder não apenas no Congresso, mas também na arena social.
Com Bolsonaro fora de cena, Temer, Aécio e Maia mostram que, mesmo fora do protagonismo direto, ainda sabem movimentar as peças do tabuleiro político. Para 2026, o aviso é claro: quem não ocupar o espaço deixado pelo ex-presidente corre o risco de ficar de fora do jogo.
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