Política
Planalto atua para esvaziar CPI do MST; oposição discute relator e vai mirar lideranças do movimento
A demora da articulação política do governo Lula em demover a instalação da comissão desagradou lideranças do movimento


Avalizada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), a CPI contra o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra colocou o Palácio do Planalto diante de uma encruzilhada. A demora da articulação política do governo em demover o deputado alagoano da instalação da comissão desagradou lideranças do movimento, aliado histórico do PT e do presidente Lula.
Logo após a leitura do requerimento – primeiro passo à criação do colegiado -, integrantes da base aliada passaram a articular estratégias para esvaziar a CPI ou, em última instância, impedir sua instalação. O movimento conta com o apoio “tardio”, segundo os sem-terra, do Planalto.
A primeira estratégia, apurou CartaCapital, é tentar atrasar a indicação dos parlamentares para integrar o colegiado. Depois que o requerimento é lido, os partidos precisam comunicar à presidência da Câmara quais os deputados permanentes e suplentes serão escolhidos para a CPI.
Há ainda a possibilidade de o MST acionar o Supremo Tribunal Federal contra a comissão. O argumento é o de que o requerimento apresentado pelo deputado federal Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS) não possui um objeto bem definido, conforme estabelece a Constituição – o discurso, vale lembrar, se assemelha ao que tem dito o ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário).
Entre parlamentares do PT ligado à questão agrária também existe uma crítica ao governo por “depositar as atenções apenas na CPMI do Golpe”. O colegiado deve mirar as ações bolsonaristas que desembocaram na invasão dos prédios dos Três Poderes, em 8 de janeiro.
“O governo não fez nada, a bancada do PT não discutiu nada. É claro que temos preocupação com a comissão [mista dos atos golpistas], mas ainda assim era esperado mais atenção”, afirmou à reportagem um parlamentar sob reserva. “Nós vamos enfrentá-los [os deputados da oposição] cara a cara, mas é bom lembrar que só o núcleo agrário do partido tentou barrar”.
Enquanto governistas tentam esvaziar a comissão, parlamentares da oposição, por outro lado, articulam-se para encorpar a ofensiva contra o movimento. A ideia é mirar lideranças do MST que têm anunciado as iniciativas em diversas localidades do País, a exemplo de João Pedro Stédile.
Atualmente, três nomes são cotados para a relatoria da CPI:
- Ricardo Salles (PL-SP): ex-ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro
- Evair de Melo (PP-ES): deputado federal no terceiro mandato, é ligado ao agro no estado
- Kim Kataguiri (União-SP): conhecido como fundador do Movimento Brasil Livre
Proponente da investigação, Zucco deve ficar com a presidência da comissão. O parlamentar disse à reportagem que espera iniciar os trabalhos na próxima semana e destacou que a CPI deverá seguir “uma linha técnica e responsável”.
“Nós vamos propor uma investigação coerente com o objeto do requerimento. Vamos analisar o que aconteceu nos últimos três meses. Tivemos invasões em vários estados, temos declarações irresponsáveis de lideranças do movimento, então eu acredito que iremos trabalhar para entender o que está por trás desta onda de ações”, pontuou.
Questionado sobre o movimento do Planalto para esvaziar a CPI, Zucco descartou a possibilidade de um recuo de Lira na instalação, para o qual tem “trabalhado com muito diálogo e compromisso com os parlamentares, independente se forem da oposição ou não”.
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