Justiça

PF tenta ligar Palocci – e o PT – aos hackers que capturaram as conversas de Moro e Dallagnol

Documentos mostram que os métodos de coação e perseguição no inquérito da Operação Spoofing repetem o estilo consagrado pela Lava Jato

A “sobrinha” de Palocci, o tal elo apontado pelos policiais, não tem parentesco ou relações com o petista (Arte: Pillar Veloso)
Apoie Siga-nos no

Um grupo de agentes da Polícia Federal do Distrito Federal tem utilizado táticas similares àquelas da Operação Lava Jato para perseguir e atacar a reputação de seus inimigos políticos. Um arquivo de documentos secretos obtidos por CartaCapital referentes às investigações no âmbito da Operação Spoofing e mantidos sob sigilo pelo juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal Criminal de Brasília, revela os métodos espúrios adotados por esse segmento bolsonarista da PF, com o objetivo de manipular o debate político e, possivelmente, influenciar o resultado das eleições de 2022.

Os agentes tentam emplacar uma tese fantasiosa, segundo a qual os hackers que invadiram celulares dos procuradores da Operação Lava Jato e do ex-juiz Sergio Moro estavam a serviço de um mandante – na mais recente versão ensaiada, a mando do ex-ministro petista Antonio Palocci, que teria oferecido 300 mil reais em troca do acesso a informações que o favorecessem em processos. Não há a mais pálida evidência para sustentar a falsa acusação. O objetivo da investigação não é, porém, o de dar prosseguimento ao caso e denunciar formalmente Palocci – os investigadores sabem não existirem provas para sustentar a teoria –, mas vazar a alegação para a mídia, com o objetivo de levantar suspeitas a respeito de uma suposta conexão do PT com os hackers.

Baseada em notícias de jornais, a delação de Palocci foi usada contra o PT na eleição de 2018. (FOTO: Paulo Lisboa/Brazil Photo Press/AFP)

A trama baseia-se na delação de um estudante de 19 anos, Luiz Henrique ­Molição, o mais jovem dos seis indiciados pela PF na Operação Spoofing. Embora não tenha participado do hackeamento dos celulares, Molição afirmou, em novembro de 2019, ter ouvido de Walter ­Delgatti Neto e Thiago Eliezer, apontados pelo procurador Wellington Dias como chefes da “quadrilha”, que “as invasões tiveram início para obter material que pudesse beneficiar Antonio Palocci Filho em possível negociação de acordo de delação premiada que havia sido descartada pelo Ministério Público Federal e encontrava-se em negociação junto ao Departamento de Polícia Federal”. Em tempo: o procurador refere-se, no caso, à delação de Palocci que Moro tornou pública seis dias antes do primeiro turno das eleições de 2018, ancorada em requentadas acusações contra Lula e o PT. Em agosto de 2020, as declarações do ex-ministro acabariam descartadas pelo delegado Marcelo Daher por se basearem em notícias de jornais “não corroboradas pelas provas produzidas”.

Além do que “ouviu dizer”, o rapaz apontou o que seria a conexão entre o ex-ministro petista e Delgatti Neto, que havia confessado à Polícia Federal ser o único responsável pelas invasões nos celulares dos agentes públicos. Trata-se de “Luana, sobrinha de Palocci”, que mais tarde os investigadores da Spoofing descobririam ser Luanna Thayna Costa, de 21 anos, antiga colega de Delgatti Neto no curso de Direito da Universidade de Ribeirão Preto, conhecida pela sigla Unaerp. O problema é que a estudante não é sobrinha nem possui qualquer grau de parentesco com o ex-ministro. A única relação, se assim podemos defini-la, é o fato de Luanna Costa ser ex-namorada do filho de Artur Watanabe, secretário de Saúde de Ribeirão Preto no período em que Palocci foi prefeito da cidade, há 20 anos. Autor do relatório de três páginas sobre a “suspeita”, o policial Felipe Monteiro de Andrade relaciona cinco números de telefone e um e-mail atribuídos à jovem, mas acrescenta: “Não foram localizadas conversas com o ex-ministro Antonio Palocci Filho, mas todas as menções ao ex-ministro seguem junto desse ofício”.

A PF se fia no relato de um rapaz de 19 anos que ficou meses preso e recebeu o benefício da prisão domiciliar logo após delatar Palocci

Não era preciso ter devassado a vida da estudante para perceber os furos na história. Todos os investigados tiveram os sigilos bancários quebrados. Não há rigorosamente nada que indique o alegado pagamento de 300 mil reais. Recapitulando: Luanna não é “sobrinha de Palocci” e talvez nunca o tenha conhecido. Não existe um histórico de conversas dela com o ex-ministro e seu único “pecado” foi namorar o filho de um ex-secretário de Palocci, colaborador de duas décadas atrás. Da mesma forma, as investigações não encontraram o rastro do dinheiro supostamente enviado pelo ex-ministro à “quadrilha”. A mirabolante história baseia-se única e exclusivamente no relato de um jovem de 19 anos que passou meses encarcerado e conquistou o benefício da prisão domiciliar logo após delatar os amigos e o “mandante petista”. A história não para em pé e está tudo documentado. Por que, então, a PF mantém o inquérito aberto com essa absurda linha de investigação?

Após tentar incriminar, em vão, o jornalista Glenn Greenwald e a ex-deputada Manuela d’Ávila, os agentes mudaram o foco

Desde o início do inquérito sobre as invasões, a Polícia Federal — àquela altura sob o comando do então ministro da Justiça Sergio Moro — utilizou as mesmas táticas corruptas e abusivas empregadas pela Lava Jato durante anos. Alvos de prisões preventivas e de uma série de medidas cautelares, incluídos o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de acesso a equipamentos conectados à internet, quando beneficiados com a prisão domiciliar, os acusados foram pressionados a apontar como mandante uma figura politicamente conveniente para escapar de condenações superiores a 30 anos de reclusão ou ver parentes envolvidos na investigação. Primeiro, os agentes tentaram por meses forçar Delgatti Neto e os demais acusados a apontar o jornalista Glenn Greenwald e a ex-deputada Manuela d’Ávila, do PCdoB, como mandantes – alegação falsa rechaçada repetidamente em todas as etapas da investigação e negada pelos indiciados, mesmo sob ameaças. Diante do fracasso da linha inicial de investigação, a facção bolsonarista na PF mudou o foco para Palocci, modo conveniente de ligar o PT aos hackers.

A série de documentos sigilosos mostra que a Polícia Federal, previamente comandada por Moro e hoje aparelhada pelo bolsonarismo, levanta hipóteses absurdas para desvendar a suposta identidade de um mandante, ou financiador, da invasão do aplicativo de mensagens utilizado pelo ex-juiz e pelos procuradores da Lava Jato. Desde os primórdios da investigação, Delgatti Neto confessou ser o responsável pelo ataque e ter agido por conta própria, mas a PF insiste em procurar outro culpado. Advogados de defesa entrevistados para esta reportagem confirmam o jogo sujo dos agentes federais para extrair as delações. Um deles, Luís Gustavo Delgado de Barros, afirma que seu cliente, Thiago Eliezer, foi coagido a apontar “um mandante” sob a ameaça de que os agentes iriam acusar parentes por lavagem de dinheiro, uma vez que suas movimentações bancárias estavam atreladas a dois restaurantes de propriedade da família.

Walter Delgatti assumiu sozinho a autoria do crime. (Foto: Daniel Marenco/Agência O Globo)

Danilo Cristiano Marques, um dos indiciados, afirmou a CartaCapital que certa vez perdeu a paciência com o insistente assédio para fazer uma delação. “Entreguei uma folha em branco com a minha assinatura e disse: ‘Pronto, podem escrever o que quiserem’”, relata. “Eles não admitiam a possibilidade de um caipira do interior de São Paulo ter feito aquilo. Precisavam de algum mandante ilustre, só que não tinha. O próprio Delgatti confessou que fez tudo sozinho.” Marques foi preso por supostamente auxiliar Delgatti Neto nas invasões dos telefones. Ele nega e se declara apenas amigo do hacker.

Durante as audiências, que podem ser acessadas ­online, Delgatti Neto contestou a veracidade das afirmações feitas por Molição em seu acordo de cooperação. Em um trecho específico, revelado pela revista eletrônica O Sabiá, editada por Sofia Schurig, uma das autoras desta reportagem, o acusado afirma que a delação do colega “foi feita com alguma intenção, não sei qual”. O hacker acrescentou que o delator não apresentou prova alguma e fez “o que os investigadores queriam”. Afirmou ainda que o delegado Luís Flávio Zampronha, à época responsável pelo caso, havia oferecido a mesma delação “pronta” para outros presos da operação.

A “sobrinha” de Palocci, o tal elo apontado pelos policiais, não tem parentesco ou relações com o ex-petista

Além de coagir um jovem de 19 anos a fazer uma acusação ao que tudo indica falsa, a Polícia Federal utilizou de métodos antiéticos – e porventura ilegais – na busca incessante por um mandante das invasões. Investigadores plantaram uma escuta ambiental na cela de um dos indiciados, Thiago Eliezer, com o objetivo de captar conversas que pudessem levar ao suposto mandante e utilizar o material como evidência no inquérito.

No pedido formal para a instalação da escuta, Zampronha justifica que os acusados poderiam estar ocultando quem contratou o serviço. “A convivência em uma mesma cela por algum período pode gerar um ambiente de confiança entre os investigados, atribuindo voluntariedade e espontaneidade às informações reveladas longe da presença de agentes públicos.”

O estratagema não surtiu o efeito esperado. Assim que retornou à cela, Eliezer desconfiou da existência de um grampo ao reparar fios saindo de um cano. Passados 31 minutos, voltou a analisar o local e encontrou o equipamento: “Luiz, encontrei, encontrei…”, disse ao colega ­Molição, da cela ao lado. “Tá vendo esse cano aí? Olha dentro do buraco.” A descoberta deu-se quando o cronômetro da escuta ambiental marcava 4 horas, 9 minutos e 10 segundos. Cientes de que eram grampeados, os investigados continuaram a conversar, trocando informações sobre os valores de movimentações financeiras identificados pelo Coaf na conta de cada um deles. Em certo momento, Eliezer se cansa da falta de privacidade. “Pode arrancar?”, pergunta aos amigos. “Anrã”, responde Delgatti Neto. Autorizada judicialmente por um período de 15 dias, a escuta acabou destruída menos de cinco horas após a sua instalação. A escuta ambiental parece obra do Inspetor Clouseau.

Antes de Palocci, os agentes da PF tentaram incriminar Greenwald

Primeiro responsável pelo inquérito da Spoofing, Zampronha possui uma carreira brilhante na Polícia Federal, se for analisado por uma ótica lavajatista. Formado em Direito pela Universidade Federal de Goiás, ingressou na corporação como delegado em 1999. Antes de comandar a Spoofing, foi responsável por iniciar as investigações do chamado Mensalão no primeiro governo do ex-presidente Lula. Seu currículo é recheado de cursos no exterior. Em 2002, estudou Técnicas de Combate aos Crimes Financeiros no Federal Bureau of Investigation, o FBI. Em 2015, participou de um treinamento sobre investigação e fiscalização do comércio no Departamento de Segurança Interna dos EUA. Da mesma forma, envolveu-se em polêmicas. Em 12 de setembro de 2012, foi alvo de uma sindicância aberta pela Corregedoria-Geral da PF por emitir opiniões à mídia sobre quem deveria ou não figurar entre os réus da Ação Penal 470, o processo do “Mensalão” – a sua última grande investigação antes de enfrentar um longo período de “geladeira”, em postos burocráticos.

Recentemente, foi promovido. O novo diretor-geral da PF, Paulo Maiurino, nomeou Zampronha para comandar a Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado (Dicor). Os dois se conheceram durante as investigações do Mensalão. Maiurino foi nomeado como diretor-geral pelo atual ministro da Justiça do governo Bolsonaro, Anderson Torres, de quem é amigo e que serviu no Conselho de Segurança Pública do Rio de Janeiro na gestão do ex-governador Wilson Witzel.

Não há registro de conversas entre a “sobrinha” e o tio Palocci

Em depoimento sob a condição de testemunha nas oitivas da Operação S­poofing, Moro refutou ter exercido qualquer influência sobre a investigação, mas admitiu trocar informações com Zampronha. “Foi-me informado acerca do desenrolar das investigações, o estágio que ela estava ocorrendo por causa da minha condição de vítima, mas o delegado teve total autonomia para conduzir o caso da forma que ele entendia apropriada”, desconversou. “Pelo que me recordo, ele me reportou os fatos e o andamento das investigações”, acrescentou o ex-magistrado, que determinou a abertura do inquérito de ofício, como ministro da Justiça, e não como vítima.

O dano causado por Zampronha à vida dos investigados na Spoofing não foi dirimido após a sua saída. Foi ele quem determinou a abertura do inquérito para encontrar o suposto mandante ou financiador dos hackers, e quem abriu uma linha de investigação contra Palocci. No documento obtido por CartaCapital, a primeira citação ao ex-ministro surge na sequência de uma manifestação do procurador substituto João Gabriel Morais de Queiroz, que reafirma a falta de evidências no inquérito. O Ministério Público solicitou, então, mais 90 dias de prazo para dar andamento à investigação. Alguns meses após a manifestação, em setembro de 2020, Zampronha enviou um despacho ao Serviço de Operações de Inteligência da PF, no qual pede nova análise do material apreendido na operação com o objetivo de apurar as ligações do ex-ministro com o caso.

Naquele momento, o Núcleo de Análise da PF produziu o relatório de três páginas sobre Luanna Costa, a “sobrinha” de Palocci. Como mencionado anteriormente, a ligação da estudante com o ex-ministro é, na melhor das hipóteses, frágil. O médico Arthur Watanabe foi secretário de Saúde de Ribeirão Preto durante a administração de Palocci, em 2001. Seu filho, Leonardo Watanabe, foi namorado de Luanna na época das duas primeiras fases da operação – de julho a setembro de 2019, quase duas décadas depois da passagem do pai pela prefeitura. No período em que teve a vida esmiuçada pela polícia, a estudante estava em outro relacionamento.


Herdeiro do inquérito após a promoção de Zampronha para o Dicor, o delegado Fábio Shor, atual responsável pela investigação, não se deu por satisfeito. Enviou, em 28 de junho deste ano, o Despacho 2958263/2021, no qual determina que Luanna fosse intimada “para prestar esclarecimentos em relação aos fatos objeto do presente procedimento”.

O objetivo da intimação, segundo o delegado, seria “identificar possíveis elementos que evidenciem atos de embaraçar e/ou impedir investigações criminais de infrações penais praticadas por organização criminosa conduzidas pelos membros do Ministério Público e outras autoridades públicas que sofreram ataques a seus dispositivos informáticos”. Em razão da pandemia, o depoimento seria feito virtualmente. Após essa data, nenhuma atualização sobre o depoimento ou o andamento das investigações consta no documento.

Thiago Elizer descobriu o grampo na cela em 31 minutos. Cansado das pressões para delatar, Danilo Marques diz ter oferecido “uma folha em branco assinada” aos agentes da PF. (FOTO: Redes sociais)

Os investigadores plantaram escutas na cela dos acusados, mas o equipamento foi descoberto em quatro horas

O elo estabelecido com a ex-namorada do filho de um ex-secretário de ­Palocci, somado a uma delação supostamente falsa de um dos presos na operação e que não possuía envolvimento nas invasões, exemplifica materialmente a atuação política da operação. Ao que tudo indica, o nome de Palocci sempre esteve na ponta da língua dos investigadores. Por quê? Atualmente, o grupo político que se elegeu com o discurso da anticorrupção, mas que aparelhou a Polícia Federal, quer sobrepor o nome do ex-ministro na Operação Spoofing não somente para influenciar as eleições de 2022, mas para desacreditar o conteúdo das mensagens divulgadas pela mídia. Para justificar a existência da investigação, esta facção da PF recuou 20 anos para encontrar uma conexão extremamente distante entre Palocci e Delgatti Neto, a envolver um conto de fadas intrincado, confuso e distante baseado em um ex-secretário da administração de Palocci, seu filho e sua ex-namorada, que coincidentemente estudou na mesma universidade do hacker.

O delegado Zampronha foi promovido após conduzir a investigação. (FOTO: Lúcio Bernardo Jr./Ag. Câmara)

Nenhum esforço foi feito para acusar Palocci formalmente. Exceto pela delação que extraíram de um jovem assustado, o inquérito é completamente desprovido de qualquer evidência a ligar o ex-petista à trama. Mas, assim como aconteceu durante a Lava Jato, o objetivo não é acusar o ex-ministro criminalmente, uma vez que o caso contra ele não se sustenta. O objetivo do inquérito é construir uma versão que possa ser vazada para a mídia amiga na esperança de prejudicar o PT. A PF nunca terá de provar suas alegações em um tribunal real, mas apenas no tribunal da opinião pública.

Os métodos de coação e perseguição no inquérito repetem o estilo consagrado pela Operação Lava Jato

Desde o início, o objetivo da Vaza Jato era mostrar ao Brasil como os poderes da polícia, de promotores e de juízes podem ser gravemente distorcidos para fins políticos. Em nome de perseguir quem revelou essa verdade, essa facção bolsonarista da PF reproduz atualmente as mesmas práticas. •

ESCLARECIMENTO AOS LEITORES

Por que publicamos documentos sigilosos da Operação Spoofing

Como a matéria de capa desta edição deixa claro, CartaCapital obteve, de uma fonte anônima, um arquivo com documentos sigilosos referente às investigações da Operação Spoofing. Os documentos demonstram uma série de práticas abusivas e ilegais por parte de um setor da Polícia Federal aparelhado pelo bolsonarismo.

Esse setor da PF tem manipulado o inquérito que apura as invasões aos celulares de autoridades, com o objetivo de emplacar uma versão política e influenciar o debate eleitoral de 2022. O objetivo é empregar as mesmas técnicas lavajatistas de intimidação e ameaça para forçar os réus a fazerem delação premiada que permita fabricar uma ligação entre os hackers e o Partido dos Trabalhadores.

Como os documentos deixam claro, as evidências para sustentar essa tese são extremamente frágeis. A análise dos documentos e do que dizem as partes envolvidas deixa claro que o objetivo não é de fato obter uma condenação ou esclarecer definitivamente o caso, que já foi resolvido, mas manter o inquérito aberto indefinidamente e envolver nomes politicamente relevantes na investigação. Essas práticas, bastante similares às empregadas pela Operação Lava Jato, constituem um grave abuso do poder de investigação investido nas autoridades policiais.

Dallagnol e companhia devem voltar para a escolinha do MP . (FOTO: Rodolfo Buhrer/La Imagem/Fotoarena)

MPF PEDE REPARAÇÃO À UNIÃO PELOS DANOS CAUSADOS PELA LAVA JATO

O lavajatismo não para de colecionar derrotas. Na terça-feira 31, a Procuradoria da República em Mossoró, no Rio Grande do Norte, ajuizou uma ação civil pública contra a União por danos morais coletivos causados pela Operação Lava Jato e pelo ex-juiz Sergio Moro aos brasileiros. A peça destaca que o juiz atuou de forma inquisitiva e com finalidade política, influenciando o ­impeachment de Dilma Rousseff e as eleições de 2018.

Os procuradores Emanuel de Melo Ferreira e ­Luís Camões Lima Boaventura mencionam o fato de Moro ter levantado o sigilo da delação do ex-ministro Antonio Palocci, com acusações recicladas de jornais contra Lula, dias antes do primeiro turno das eleições. “É fato público e notório que o então juiz federal aceitou a indicação para o cargo de ministro da Justiça ainda no ano de 2018, fato que, analisado em conjunto com os demais, tem a aptidão de explicar a motivação por trás das mencionadas decisões, comprovando a reiterada e sistemática quebra da imparcialidade judicial.”

A ação civil pública pede que a Justiça obrigue a União a promover educação cívica para a democracia “no âmbito da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados e da Escola Nacional do Ministério Público, a partir da realização de cursos, pesquisas, congressos, seminários, palestras, encontros e outros eventos técnicos, científicos e culturais periódicos com magistrados e procuradores da República”.

O objetivo, segundo os procuradores, é abordar os temas da democracia militante e das novas formas de autoritarismo “que erodem a democracia e a Constituição brasileira, em parte causados pela Operação Lava Jato, a fim de qualificar os respectivos profissionais nas novas tarefas a serem desempenhadas em prol da proteção do regime democrático”.

Os signatários da ação acrescentam que não se basearam em nenhuma prova decorrente da Operação Spoofing, por entenderem que as mensagens foram obtidas de forma ilícita e, portanto, não serviriam para a responsabilização de Moro e dos procuradores da Lava Jato em Curitiba, liderados por ­Deltan Dallagnol – embora as mensagens vazadas pelos hackers indiquem que o verdadeiro chefe da força-tarefa era o próprio juiz.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar