Política

Pedro Serrano: “Não é a oposição que está criando a crise. A esquerda está catatônica”

Em entrevista a CartaCapital, o advogado e professor da PUC descreveu os principais conflitos do governo Bolsonaro, travados internamente

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Para o doutor em Direito e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Pedro Serrano, as forças de esquerda não têm se mostrado capazes de criar crises ao governo do presidente Jair Bolsonaro. Em entrevista nesta segunda-feira 31, ao diretor de redação de CartaCapital, Mino Carta, Serrano afirmou que “a esquerda está catatônica”, e que os principais conflitos do Palácio do Planalto ocorrem por disputas internas.

“Hoje, não é a oposição que está criando crises. Infelizmente, a esquerda democrática está meio catatônica. A centro-direita no Brasil, os verdadeiros liberais, são poucos os articulados, essa é a verdade. Não existe liberalismo no Brasil, no sentido clássico da expressão. Tanto que as bandeiras liberais somos nós que temos que carregar. A liberdade política, quem defende hoje é a esquerda democrática”, disse o advogado.

O primeiro conflito mais aparente ao governo, segundo o professor, é entre o “bolsonarismo jurídico” e o “bolsonarismo político”.

 

Para Serrano, quem fundou o bolsonarismo não foi Jair Bolsonaro, mas a Operação Lava Jato. Este bloco criado a partir da Lava Jato, no olhar do professor, é composto por frações.

Uma delas trata do bolsonarismo político, composto pelo próprio Bolsonaro, parcela das Forças Armadas, policiais militares e milícias.

Outra fração é composta por parte do sistema de Justiça que se juntou a meios de comunicação relevantes, o que constituiu o bolsonarismo jurídico. Entre os seus principais representantes, estariam o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro e o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC).

“Há um conflito entre frações do bloco de poder que estão disputando a hegemonia. O primeiro conflito é exatamente entre os bolsonarismos político e jurídico: Moro conflitando com Bolsonaro. Hoje, outro conflito é no interior do bolsonarismo jurídico: Witzel e Moro disputam a hegemonia dentro desse bloco”, afirmou o professor.

Ascensão da extrema-direita pode resultar em reformas constitucionais

Serrano destaca, portanto, que nenhuma das forças progressistas teve atuação determinante para oferecer riscos ao governo federal: nem os movimentos populares, nem pela esquerda democrática, nem pela oposição liberal.

“A extrema-direita se tornou muito forte, infelizmente, aqui no Brasil. Então, eles têm um campo político grande e essas disputas internas surgem. E os democratas ficam assistindo. Não estamos conseguindo organizar, as lideranças não sensibilizam”, disse.

Neste caminho, o advogado aponta como maior preocupação a perda da ideia de haver um poder político não-livre, mas sim, submisso a valores políticos humanistas, atrelados a direitos universais.

O professor considera que as constituições surgidas após a 2ª Guerra Mundial eram “sementes antifascistas”, mas hoje estão em crise.

“Se a extrema-direita continuar crescendo, nós vamos ter reformas constitucionais à direita, no mau sentido. Vamos ter uma degradação cada vez maior do humanismo”, analisa Serrano.

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