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Passo à frente

Os partidos progressistas projetam crescimento consistente, mas não extraordinário, no número de prefeitos

Padrinhos. Lula promete presença no palanque de Boulos. Ciro Gomes tem na reeleição de Sarto uma possibilidade de sobrevivência eleitoral – Imagem: Leandro Paiva e redes sociais
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Praticamente a três meses do fim do prazo de registro das candidaturas às eleições municipais, pairam incertezas nas negociações entre os partidos progressistas. Alguns palanques importantes estão, no entanto, consolidados em diversas capitais e centros urbanos. A tendência, segundo especialistas, é de crescimento no número de prefeitos ligados a legendas de esquerda, embora a extrema-direita também se movimente para estender seus tentáculos e eleger não só prefeitos, mas também um número recorde de vereadores.

Na segunda-feira 6, o diretório nacional do PT divulgou as candidaturas majoritárias e alianças em 64 municípios com mais de 100 mil eleitores, dentre os quais 14 capitais. Em 12 delas, os nomes são de petistas, como ­Maria do Rosário, em Porto Alegre, e ­Natália ­Bonavides, em Natal. As duas exceções são ­Guilherme Boulos, do PSOL, em São Paulo, e Marcus Alexandre, do MDB, em Rio Branco. “Não estabelecemos metas ainda, mas esperamos ter um crescimento significativo no nosso campo. Onde não houver consenso, vamos resolver na Federação nacional”, afirma o senador petista Humberto Costa, coordenador do grupo de trabalho eleitoral da agremiação, em referência a casos onde há mais de uma pré-candidatura na Federação Brasil da Esperança, formada por PT, PV e PCdoB. “Tínhamos uma expectativa inicial de que, com o advento da Federação, tivéssemos uma tática nacional capaz de servir de polo aglutinador das forças progressistas e, onde não tivéssemos condições de lançar candidato, pudéssemos isolar as forças de extrema-direita. O nosso objetivo principal deve ser criar condições de acúmulo político para o êxito do governo Lula e para viabilizar um avanço dos setores progressistas”, defende ­Davidson ­Magalhães, da direção nacional do PCdoB e coordenador do grupo de trabalho eleitoral da legenda. Os comunistas não devem lançar candidatos próprios nas capitais, mas estarão na disputa em municípios médios como Juazeiro, na Bahia, Campina Grande, na Paraíba, e ­Alcântara e Imperatriz, no Maranhão.

“A tendência é o campo progressista acumular forças, considerando que os partidos tendem a ser mais pragmáticos. Quando não for possível lançar um candidato competitivo, a esquerda deve apoiar outro nome. É possível ver isso em São Paulo, Salvador, Rio de Janeiro e Recife. Faz parte da tática eleitoral, de olho em 2026, para acumular forças e eleger mais deputados esta­duais, federais e mesmo fortalecer o projeto que dará sustentação a Lula numa eventual candidatura à reeleição”, ressalta o cientista político Cláudio André de Souza, professor da Universidade da Integração da Lusofonia Afro-Brasileira. “Pelo que se vê até agora nas pesquisas municipais divulgadas em todo o País, o campo progressista deve crescer nas prefeituras e câmaras municipais, mas não será um crescimento ‘espetacular’, como ocorreu em 2000 ou em 2004”, prevê o cientista político ­Antônio ­Lavareda, autor do livro De Bolsonaro a Lula III – Pesquisa, Eleição, Democracia e Governabilidade.

Uma das grandes apostas é a candidatura de Guilherme Boulos em São Paulo, em clima de terceiro turno

Há grande expectativa em torno do palanque de Boulos e da retornada Marta Suplicy na vice, pois a disputa de São Paulo tem sido descrita como o terceiro turno das eleições de 2022. De um lado, o campo democrático simbolizado no palanque PSOL/PT e, do outro, a extrema-direita personificada na candidatura à reeleição do prefeito Ricardo Nunes, apoiado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e, de maneira envergonhada, por Jair Bolsonaro e seus seguidores. A terceira via é encarnada por Tabata Amaral, uma das apostas do PSB. Mas a prioridade dos pessebistas é a reeleição de João Campos no Recife, que possivelmente vai liquidar a fatura ainda no primeiro turno e se consolidar como forte candidato ao governo de Pernambuco em 2026. O partido também almeja outras três capitais: Palmas, com Carlos Amastha, Curitiba, com Luciano Ducci, e São Luís, com Duarte Júnior.

Para a presidenta do PSOL, Paula ­Coradi, a prioridade do campo progressista deve ser derrotar o bolsonarismo. “Ainda não temos todas as candidaturas consolidadas, porque incentivamos nossa militância a fazer, onde for possível, alianças, tendo em vista que o bolsonarismo tem força social, tem articulação, e, assim como o Centrão, deve vir com força nessas eleições. Nossa prioridade é derrotar a extrema-direita, por isso, a gente ainda está na fase de muito diálogo.” Além de São Paulo, ressalta Coradi, o PSOL aprovou as candidaturas de ­Talíria Petrone, em Niterói, Tarcísio Motta, no Rio de Janeiro, e Edmilson Rodrigues, prefeito de Belém, candidato à reeleição. Belém, aliás, é a única capital governada pelo PSOL e o partido corre o risco de sair derrotado no pleito de outubro, diante da baixa aprovação da gestão de Rodrigues.

Trajetos. Campos é favorito em Recife, Tabata corre por fora em São Paulo. Maria do Rosário representa o PT em Porto Alegre – Imagem: Redes sociais

Lavareda cita o crescimento do PT e do PSB durante o período da janela partidária, em abril, quando as duas legendas filiaram prefeitos eleitos por outras forças em 2020. Também nesse período houve um esvaziamento do PDT, sobretudo no Ceará, pois muitos caciques municipais acompanharam o senador Cid Gomes e migraram para o PSB. A disputa no estado é um dos casos mais emblemáticos da divisão da esquerda. Desde o rompimento da aliança do PT com o clã Ferreira Gomes, dos irmãos Ciro e Cid, o campo progressista segue dividido. O racha começou na sucessão municipal de 2020, quando o PDT elegeu José Sarto prefeito de Fortaleza e o PT lançou Luizianne Lins, e se concretizou nas eleições gerais de 2022, momento em que as duas legendas estiveram em palanques opostos tanto para presidente da República quanto para governador.

Neste ano, o PDT pretende lançar cerca de 800 candidaturas a prefeito em todo o País, entre elas a de Duda Salabert, em Belo Horizonte, Luiz Roberto, em Aracaju, capital sob comando da legenda, Juliana Brizola, em Porto Alegre, Sergio Majeski, em Vitória, e Jesus Pontes, em Macapá. A prioridade do partido é, porém, a reeleição de Sarto em Fortaleza, embora a gestão do pedetista não esteja bem avaliada e o Capitão Wagner (União Brasil), bolsonarista, apareça em primeiro lugar nas pesquisas. Pelo PT, o candidato é o recém-filiado Evandro Leitão, presidente da Assembleia Legislativa, que migrou para o partido com a promessa de disputar a prefeitura de Fortaleza com o apoio do governador Elmano de Freitas e do senador e ministro da Educação, Camilo Santana.

Entre as metas do campo progressista está isolar o bolsonarismo

Cid Gomes, por sua vez, quer lançar um nome do PSB para a sucessão de ­Sarto, em aliança com os petistas. A tese do senador é a de que o PT tem a Presidência da República e o governo do estado e precisa abrir espaço para ampliar o arco de apoios na sucessão municipal. Sua sugestão é a ex-governadora Izolda Cela, aliada histórica do senador e braço direito de Santana no ministério. “O PSB passou de um partido pequeno para uma das maiores legendas do estado e tenta manter-se relevante na disputa. Cid não quer ser qualquer aliado. Quer ser um aliado de peso, com capacidade de decidir, de influenciar e de pressionar. As eleições deste ano vão ser muito importantes, dado o tamanho que Cid vai demonstrar, elegendo e reelegendo seus prefeitos, tudo mirando 2026”, avalia a socióloga ­Monalisa Torres, pesquisadora e professora da Universidade Estadual do Ceará.

A chegada de Cid no PSB azedou a aliança do PDT no Recife com o prefeito João Campos, que tem como atual vice a pedetista Isabela de Roldão. “O PSB estava conosco no Ceará e desembarcou da aliança. Como Fortaleza é a cidade mais importante para nós, não teria sentido estar com o PSB no Recife”, justifica o deputado federal André Figueiredo, presidente nacional do PDT. O partido, acrescenta o parlamentar, tende a reforçar o palanque de Túlio Gadelha, pré-candidato na capital pernambucana pela Rede, um problema posto para a Federação com o PSOL, na rua com a pré-candidatura de Dani Portela. •

Publicado na edição n° 1310 de CartaCapital, em 15 de maio de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Passo à frente’

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