Política
Os planos de um órgão da Presidência para a área nuclear
GSI quer tirar do papel reator de US$ 500 milhões para uso na medicina e definir local do depósito do ‘lixo’ de Angra 3
Em 2009, o mundo enfrentou escassez de um elemento químico produzido com tecnologia nuclear, o molibdênio 99, que é bastante usado em exames de diagnóstico de câncer e risco de infarto, por exemplo. Usinas nucleares na Bélgica, no Canadá e na Holanda, trio que está entre os maiores fabricantes, pararam. O governo Lula daquela época resolveu apostar na construção de um reator aqui, para que o Brasil fosse autossuficiente. Coisa de 500 milhões de dólares. Quinze anos depois, será que o governo Lula de agora vai tirar a ideia do papel?
Se depender do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), órgão da Presidência, vai. Em 14 de março, o ministro do GSI, Marco Edson Gonçalves Dias, levou o assunto à colega da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos. É um das prioridades dele. A ministra teria sido receptiva. “Seria um salto de qualidade do Estado brasileiro”, diz Dias. Que tem mais planos para a área nuclear: negociar a localização do depósito que guardará o “lixo” (rejeitos) da futura usina de Angra 3.
O GSI é o coordenador do Comitê de Desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro, por força de um decreto de 2019. Caberia, porém, à pasta da Ciência e Tecnologia bancar financeiramente a construção do reator fabricante de molibdênio 99, por meio da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Juntos, ambos têm 41 milhões de reais no orçamento deste ano para a obra.
Pelo projeto de 2009, o chamado Reator Multipropósito Brasileiro ficará na cidade paulista de Iperó, a 125 km a oeste da cidade de São Paulo. No mesmo município, está o Centro Tecnológico da Marinha. Esta executa o projeto de desenvolvimento do submarino movido a propulsão nuclear, em parceria com a França, iniciativa que também vem dos governos anteriores de Lula.
Um reator nuclear pode ter duas funções. Uma é gerar energia. A outra é servir a pesquisas para aplicações diversas, como na medicina nuclear e em testes de combustíveis. É para esta segunda finalidade que a obra em Iperó foi idealizada. O molibdênio 99 dá origem a uma substância radioativa que é injetada numa pessoa em certos exames de diagnóstico por imagem (cintilografia) e permite obter “fotografias” precisas do interior dela.
O projeto em Iperó recebeu licença prévia do Ibama (ou seja, autorização para ser construído) em 2015. Era governo Dilma Rousseff, o qual havia incluído a obra no Plano Plurianual 2012-2015 e reservado para ela 400 milhões de reais. A obra toda é orçada em 500 milhões de dólares, cerca de 2,5 bilhões de reais hoje. De 2017 para cá, o orçamento federal destinou-lhe 17 milhões de reais.
A última versão do projeto é de 2021 foi feita pela empresa Amazônia Azul Tecnologias de Defesa [estatal criada no governo Dilma para ajudar a operar o programa nuclear brasileiro] e pela firma argentina Invap. É da Argentina que o Brasil importa a maior parte do molibdênio 99 que consome. Estima-se que seriam necessários cinco anos para que o reator multipropósito fique pronto, a partir do momento em que tiver início para valer.
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