Política

Os dados da Quaest que indicam a possibilidade de Lula vencer no 1º turno

Segundo Felipe Nunes, a pesquisa traz ‘um quadro bem negativo’ para Bolsonaro, que tem ‘cada vez menos armas para virar o jogo’

O ex-presidente Lula. Foto: Ricardo Stuckert
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O ex-presidente Lula (PT), apesar de ainda não aparecer com mais de 50% dos votos válidos na pesquisa Quaest desta quarta-feira 21, tem um cenário bastante favorável para vencer as eleições deste ano já no primeiro turno. A avaliação é do cientista político Felipe Nunes, CEO responsável pelo levantamento.

Segundo explica Nunes em sua análise, uma vitória de Lula no dia 2 de outubro, além de não ser ‘matematicamente impossível’, já que ele teria 48,9% dos votos válidos na eleição, bastando, portanto, 1,2% de votos válidos para vencer, é indicada em outra série de dados do levantamento desta quarta-feira. O primeiro deles, diz, é o alto percentual de eleitores de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) que ainda indicam possibilidade de mudança de voto.

“Quando questionados, 26% dos eleitores de Ciro, Tebet e outros candidatos dizem que mudariam o voto para que Lula vença no primeiro turno. Isso dá o dobro do que Lula precisa para ganhar – aproximadamente 3 pontos percentuais”, destaca. “Se essa simulação de fato vai acontecer, é outra história”.

Ainda neste quesito, o pesquisador chama a atenção para o fato de que, a despeito do que pede a campanha de Ciro, seus eleitores menos decididos estariam bastante propensos a apoiar Lula. A migração pode ser a chave do petista para sacramentar a derrota de Bolsonaro.

“Mesmo que Ciro não queira apoiar Lula, essa é uma decisão do seu eleitor, como se vê”, diz o pesquisador ao comentar os dados de que 33% dos apoiadores do pedetista podem optar por Lula se isso significar a derrota do ex-capitão. O percentual é ligeiramente maior do que o registrado entre indecisos ou eleitores de outros candidatos menos competitivos que Ciro.

Para além da migração, pesa ainda em favor de Lula o alto nível de eleitores que acreditam na vitória do petista, independentemente de suas preferências de voto. Este fato, segundo Nunes, pode favorecer Lula:

O clima de opinião vai se formando em favor de Lula, o que pode despertar ainda mais o voto útil de última hora“, destaca. “Por exemplo, 49% acham que Lula é quem vai ganhar a eleição, enquanto 37% acham que Bolsonaro vence”.

O ‘clima de opinião’ favorável também pode ser visto, de acordo com o cientista, na comparação de quem merece uma segunda chance. Neste caso, Lula tem o voto de confiança de 52% dos entrevistados, enquanto Bolsonaro recebe o apoio de 44%.

“Falta cada vez menos tempo para Bolsonaro mudar o clima de opinião e reverter esse quadro”, defende o pesquisador. “Se não ultrapassar Lula já no primeiro turno, fica praticamente impossível virar no segundo.

Ele explica que sua afirmação, neste caso, é pautada pelo volume de eleitores de Ciro e Tebet que defendem apoio a Lula em caso de segundo turno contra o ex-capitão. São 50% dos eleitores de Ciro e 35% de Tebet que fazem essa afirmação. Os grupos dão a Lula um fôlego de 10 pontos percentuais para enfrentar Bolsonaro em uma disputa direta, lhe rendendo, segundo a Quaest, 55% dos votos válidos.

‘Quadro bem negativo para Bolsonaro’

A pesquisa Quaest desta quarta é ainda cercada de ‘notícias ruins’ para a campanha do ex-capitão, conforme desta Felipe Nunes em sua análise.

Ele explica, por exemplo, que a oscilação positiva de Lula, de 42% para 44%, e a estabilidade de Bolsonaro, que se manteve com 34%, “revelam um quadro bem negativo para o presidente” não apenas pelo resultado em si, mas também por mostrar que suas principais ações de campanha vem tendo pouca efetividade no resultado final.

“Faltando 11 dias para o primeiro turno, o presidente passa a ter menos armas para tentar virar o jogo”, destaca. “O aumento no valor do Auxílio não gerou o resultado eleitoral esperado. E o apoio de líderes evangélicos, que fez Bolsonaro crescer significativamente, parou de gerar efeito, interrompendo assim a conquista de votos entre evangélicos antes de alcançar a marca dos 80% desejados pela equipe de campanha à reeleição”, avalia ainda o pesquisador.

Os dois fatores, diz, contribuem para a estagnação de Bolsonaro registrada nas últimas três pesquisas. Há ainda, segundo o cientista político, o fato de que o ex-capitão não conseguiu reverter sua alta rejeição entre as mulheres mesmo com a ampliação de agendas com o segmento e o uso da participação de Michelle nos eventos de campanha.

Outras explicações regionais também contribuíram para o ‘quadro negativo’ para o atual presidente. Há, por exemplo, resultados piores no Sudeste e no Nordeste quando comparados aos números obtidos em 2018.

“A virada esperada pelo governo no Sudeste também não veio. Bolsonaro tem 38% dos votos do Sudeste, ou seja, aproximadamente 43% dos votos válidos – 10 pontos percentuais a menos do que ele obteve em 2018”, destaca Nunes.

“No Nordeste, o presidente também tem desempenho abaixo do que obteve em 2018. Em votos válidos, ele teria hoje 23% dos votos do Nordeste, mas em 2018 ele obteve 26%”, completa o pesquisador.

Nunes defende ainda que a percepção da economia pelos entrevistados também influencia negativamente o quadro eleitoral de Bolsonaro a poucos dias do pleito. Segundo os dados, o percentual de quem acredita que a economia piorou no último ano ainda é muito alto. Ao todo, marcam esta opção 45% dos eleitores entrevistados, uma oscilação positiva quando comparado ao último levantamento.

Ainda no campo da economia, o volume de brasileiros que não viram redução no preço dos alimentos cresceu de 72% para 75% em apenas uma semana. Entre os eleitores mais pobres, a situação do preço dos alimentos é ainda pior: 80% não viram redução de preço, de acordo com a Quaest desta quarta.

“Para complicar mais as coisas [para Bolsonaro], todas as medidas econômicas adotadas pelo governo para tentar baixar os preços ainda são vistas pela maioria como jogada política para tentar reeleger o presidente (59%)”, reforça o pesquisador.

“A correnteza desta eleição também não parece favorável ao Bolsonaro. Embora a economia esteja perdendo espaço como o principal problema enfrentado pelo país hoje, em seu lugar, cresce a preocupação com os problemas sociais”, diz ainda o cientista.

E neste campo, indicam os dados, Lula tem vantagem. Entre aqueles que apontam a questão social como principal problema do Brasil, 56% votam no petista e só 19% em Bolsonaro. Entre aqueles que indicam que o problema é econômico, o ex-capitão tem 19% e Lula 46%.

Por fim, Nunes destaca que a propaganda negativa de Bolsonaro contra Lula no horário eleitoral também não surtiu o efeito esperado pela campanha do ex-capitão. “Quem assiste aos programas na TV vota muito mais em Lula (47 x 40) do que em Bolsonaro (36 x 34)”, explica. Os dados mostram ainda que a rejeição a Lula não cresceu entre quem assistiu os programas eleitorais.

“A rejeição de Lula não aumentou, mesmo que aproximadamente 80% dos eleitores dele e de outros candidatos já tenham visto propagandas negativas contra o ex-presidente”, avalia Nunes. “Não está funcionando”, conclui então o pesquisador.

A pesquisa

Foram entrevistados presencialmente 2 mil eleitores brasileiros entre os dias 17 e 20 de setembro. A margem de erro é de 2 pontos percentuais e o nível de confiança é de 95%. A pesquisa foi contratada pela consultoria de investimentos Genial e está registrada na Justiça Eleitoral como BR-04459/2022.

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