Política
Obituário/ O governador do Carandiru
Luiz Antônio Fleury Filho leva consigo o peso do massacre


Governador de São Paulo na época do massacre do Carandiru, que resultou no assassinato de 111 presos, Luiz Antônio Fleury Filho morreu na manhã da terça-feira 15, aos 73 anos. Filiado ao MDB, com cargo na direção executiva, Fleury governou São Paulo entre 1991 e 1994, depois de ter sido secretário de Segurança Pública na gestão de Orestes Quércia. O presidente da legenda, Baleia Rossi, lamentou o falecimento do aliado, assim como vários outros políticos. O atual governador paulista, Rodrigo Garcia, decretou luto oficial de três dias. Depois de deixar a administração estadual, foi deputado federal, promotor de Justiça e professor. Os eleitores tomaram a decisão de defenestrá-lo da vida pública e o ostracismo dos últimos anos caiu-lhe como um prêmio. O governador do Carandiru sempre negou ter ordenado a invasão do presídio e o massacre. Desnecessário. Os acusados pelo crime passaram de bandidos a heróis. Em 2016, a condenação de 23 policiais pela chacina foi anulada. No ano passado, um projeto de lei concedeu anistia aos PMs levados a julgamento. A causa da morte de Fleury não foi divulgada.
Toffoli e as ditaduras
Ficou claro agora: quando José Dias Toffoli, ministro do STF, chamou o golpe de 1964 de “movimento”, não se tratava de um deslize semântico, oportunismo ou simples medo dos militares. Pelo visto, o ex-advogado do PT, integrado por inúmeras vítimas da repressão, acha que os crimes cometidos durante as ditaduras, perdão, movimentos, não só no Brasil, devem ser relevados, superados, embora delitos contra a humanidade nunca prescrevam, pontuam as leis internacionais. O ministro voltou a tratar do assunto. Foi além. Decidiu meter-se nos assuntos internos da vizinha Argentina. Segundo o ministro, a punição a mais de mil torturadores e mandantes manteve os argentinos presos “no passado, na vingança, no ódio e olhando para trás”. A declaração soa como antecipação de voto: o magistrado é o relator no Supremo de uma ação que questiona a validade
Sentença/ Deus, família e sangue
A ex-deputada Flordelis é condenada pelo assassinato do marido
A ex-deputada bolsonarista pegou 50 anos – Imagem: Bruno Dantas/TJRJ
Após uma semana de julgamento, a ex-deputada federal bolsonarista Flordelis dos Santos de Souza foi condenada a 50 anos e 28 dias de prisão pela morte do marido, o pastor Anderson do Carmo, assassinado em 2019. O resultado do julgamento foi apresentado no domingo 13 pelo Tribunal do Júri da Comarca de Niterói: a ex-parlamentar foi declarada mandante do homicídio qualificado, crime considerado cruel, cometido por motivo torpe e que impossibilitou a defesa da vítima. Ela e o pastor eram casados e viviam numa casa com 35 filhos, a maioria adotada. O crime aconteceu na garagem da residência do casal, onde foram feitos vários disparos contra Carmo. A ex-deputada também foi considerada culpada por tentativas de envenenamento da vítima, falsidade ideológica e associação criminosa armada. A filha de Flordelis, Simone Rodrigues, foi igualmente condenada no caso à pena de 31 anos, 4 meses e 20 dias de reclusão. Outros filhos da ex-parlamentar e uma neta acabaram inocentados. A defesa vai pedir a anulação do julgamento, sob a alegação de que o Ministério Público teria utilizado prova que não constava nos autos do processo. Seria este o protótipo de família de bem?
Geopolítica/ Adeus às armas?
Em primeiro encontro presencial, Biden e Jinping acenam com distensão
Jinping e Biden: a desconfiança é a base da relação – Imagem: Saul Loeb/AFP
Cercado de expectativas, devido às crescentes disputas comerciais e diplomáticas entre EUA e China, o primeiro encontro presencial de Joe Biden e Xi Jinping desde a eleição do democrata, em 2020, terminou com sinais de distensão de ambos os lados. O presidente americano e o líder chinês reuniram-se na segunda-feira 14, em Bali, na Indonésia, às vésperas do encontro de cúpula do G-20. Anteriormente, eles participaram apenas de videoconferências, marcadas por hostilidades e ameaças veladas.
Após três horas de conversa, Biden enfatizou não estar disposto a travar uma “nova Guerra Fria”, desta vez com os chineses. “Vamos competir vigorosamente, mas não estou buscando conflito. Essa competição deve ser levada de forma responsável.” Embora Pequim tenha alertado que Taiwan é uma “linha vermelha” que não deve ser cruzada pelos norte-americanos, Jinping também sinalizou estar empenhado em acalmar as tensões.
Ao discursar na cúpula do G-20 no dia seguinte, o líder chinês criticou o “uso de questões alimentares e energéticas como armas”. A declaração ecoa críticas da comunidade internacional à Rússia, parceira de Pequim, pelo fato de o presidente Vladimir Putin ter interrompido o fornecimento de gás para a Europa e dificultado a exportação de grãos em retaliação ao apoio das potências ocidentais a Kiev na Guerra da Ucrânia.
Trump em campanha
Sem combinar com as lideranças de seu partido, Donald Trump anunciou, na terça-feira 15, que vai se candidatar mais uma vez à Presidência dos EUA. A declaração ocorre uma semana após as eleições de meio de mandato, que renovaram parte dos assentos no Congresso norte- -americano. Havia a expectativa de uma “onda vermelha” republicana que daria maioria à legenda no Legislativo, mas o resultado das urnas ficou muito aquém da expectativa. Os democratas conseguiram manter maioria no Senado e, na Câmara, a situação segue indefinida. O desempenho decepcionante é atribuído justamente a Trump, que não conseguiu eleger seus candidatos em estados essenciais para o controle do Parlamento: Pensilvânia, Arizona, Nevada e Geórgia. Com isso, cresce a resistência ao seu nome no Partido Republicano.
Ucrânia/ Fogo contra fogo
Após perder o controle de Kherson, a Rússia retoma ataques
Os ucranianos retomam a cidade ao leste – Imagem: AFP
Depois de oito meses de ocupação russa, as tropas da Ucrânia conseguiram retomar o controle de Kherson praticamente sem resistência na sexta-feira 11. A cidade portuária foi invadida logo nos primeiros dias de guerra e Vladimir Putin planejava anexar a região, por meio de um referendo fajuto, convocado sob a mira de tanques. Milhares de civis saíram às ruas para celebrar o recuo dos moscovitas, enquanto o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, se vangloriava da façanha e classificava a retomada como um ponto de inflexão no conflito. A seu favor, claro.
A celebração durou pouco. Na terça-feira 15, a Rússia retomou os ataques com mísseis, atingindo a capital Kiev e deixando diversas cidades no escuro. As operações miraram instalações de infraestrutura e causaram quedas de energia em diferentes partes do país. Na vizinha Polônia, integrante da Otan, um míssil de fabricação russa causou uma explosão e matou dois moradores da pequena cidade de Przewodow, a 6 quilômetros da fronteira com a Ucrânia. A Rússia negou a autoria do ataque e o governo polonês convocou uma reunião de emergência, mas pediu calma à população por não ter provas de quem disparou o artefato. Varsóvia pode invocar o artigo 5º do Tratado da Otan, a prever a defesa coletiva dos integrantes da aliança militar em caso de agressão externa.
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1235 DE CARTACAPITAL, EM 23 DE NOVEMBRO DE 2022.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “A Semana”
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