Política
O saldo do primeiro dia de depoimentos na CPI da Braskem
A oitiva teve participação de especialistas que acompanham a exploração das minas feita pela Braskem e os impactos na população de Maceió
A Comissão Parlamentar de Inquérito da Braskem ouviu, nesta terça-feira 5, três especialistas sobre o processo de exploração das minas de sal-gema que causaram o afundamento de bairros inteiros em Maceió (AL).
São eles:
- José Geraldo Marques, doutor em ecologia e pós-doutor em meio ambiente;
- Abel Galindo, professor, engenheiro e geotécnico;
- Natallya de Almeida Levino, engenheira e professora da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).
Estas são as primeiras três oitivas realizadas pelo colegiado que tem a relatoria do senador Rogério Carvalho (PT-SE) e a presidência do senador Omar Aziz (PSD-AM).
O professor José Geraldo Marques, além de ser uma das vítimas do colapso, foi secretário executivo de controle da poluição de Maceió durante a instalação da Braskem na cidade.
Marques relatou ter sido ameaçado de morte por telefone após alertar as autoridades sobre os riscos da mineração. “Foi uma tortura, ameaças de morte e mortes morais. Quase perco a cabeça”, declarou.
Morador de um dos primeiros bairros afetados, Pinheiro, o professor acrescentou que as consequências da exploração de sal-gema na região devem perdurar até a próxima década.
“Algumas regiões de Maceió terão que conviver pelos próximos 10 anos com rachaduras e tremores até que surja a possível estabilidade defendida pela ciência, mas pelos próximos 10 anos teremos que conviver”.
Galindo, por sua vez, destacou que os dados técnicos mostram que as fissuras no solo de Maceió, decorrentes da exploração no local, são observadas desde 2008 e foram negligenciadas.
O professor e engenheiro ficou conhecido na capital alagoana por seus alertas sobre possíveis desabamentos nas minas da Braskem em Maceió, ainda em 2018.
Naquele ano, Galindo diz que chegou a ser chamado de “doido”, ao apontar a culpa da empresa e os possíveis danos.
“O terreno era bom. Por que estava rachando? Tínhamos desconfiança que era a mineração, mas não tinha, ainda, certeza absoluta”, afirmou. “Comecei a desconfiar que era a mineração, mas não tinha certeza absoluta, até porque não é fácil acusar uma empresa poderosa como a Braskem. Eu só acusei em 2018 e foi aí que me chamaram de doido”.
Já Natallya de Almeida Levino, coordenadora de pesquisa “sobre as dimensões econômica, social e ambiental da subsidência que atinge cinco bairros de Maceió” na UFAL, expôs os impactos da tragédia nas dimensões econômica, social e ambiental.
Mais de 14 mil imóveis nos bairros Pinheiro, Mutange, Bom Parto, entre outros, foram afetados e cerca de 40 mil pessoas foram diretamente prejudicadas com os danos ambientais na capital alagoana.
“Houve um comprometimento financeiro depois da desocupação dos bairros, e isso é fato. Além dos fatores econômicos, é importante lembrar dos fatores sociais. Então, existe a frustração, mesmo que a indenização os contemplasse financeiramente, mas foi forçada. As pessoas se sentem frustradas”, pontuou.
Os senadores devem ouvir na quarta-feira 6, Thales Sampaio, servidor aposentado da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), e Mauro Henrique Sousa, diretor-geral da Agência Nacional de Mineração (ANM).
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