Justiça

O que pode fazer o STF caso o Congresso reduza as penas de Bolsonaro e outros golpistas

Com a aprovação pela Câmara, o PL da Dosimetria segue ao Senado. Lula poderá vetar, mas a palavra final será do Legislativo

O que pode fazer o STF caso o Congresso reduza as penas de Bolsonaro e outros golpistas
O que pode fazer o STF caso o Congresso reduza as penas de Bolsonaro e outros golpistas
Deputados celebram a aprovação do PL da Dosimetria, em 10 de dezembro de 2025. Foto: Sergio Lima/AFP
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O projeto de lei que reduz as penas de Jair Bolsonaro (PL) e outros golpistas, aprovado pela Câmara dos Deputados na madrugada desta quarta-feira 10, não tende a ser declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, avalia Guilherme Dezem, professor de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da Universidade de São Paulo.

O próximo passo será a votação no Senado, onde a proposta tramitará sob a relatoria de Esperidião Amin (PP-SC), um defensor da anistia. Se a Casa Alta avalizar o texto — em votação que deve ocorrer na próxima quarta-feira 17 —, ele seguirá para a sanção ou o veto do presidente Lula (PT). Em caso de veto total ou parcial, contudo, a palavra final será do Congresso Nacional.

Se a lei da dosimetria entrar em vigor, caberá ao STF detalhar de que forma ela incidirá sobre cada um dos condenados por envolvimento na tentativa de golpe de Estado. Ou seja, o benefício não seria automático.

Segundo Dezem, a Corte poderá agir de ofício sem provocação prévia ou a pedido dos advogados. Na sequência, a Procuradoria-Geral da República emitirá um parecer sobre cada processo para, enfim, o ministro Alexandre de Moraes (relator) decidir de forma monocrática ou encaminhar  os autos para deliberação da Primeira Turma.

“A agenda é sempre do próprio Supremo, mas acredito que possa estabelecer um padrão que levaria em torno de dois a três meses para julgamento”, estimou o advogado, em contato com CartaCapital.

Dezem considera ser difícil contestar a constitucionalidade do PL da Dosimetria, ao contrário do que ocorreu quando a tropa de choque bolsonarista no Legislativo pressionava por uma anistia “ampla, geral e irrestrita”.

“É prerrogativa do Congresso Nacional definir crimes e penas. Portanto, como ele trata somente das penas, me parece que a inconstitucionalidade é de difícil aceitação”, diz o professor. “Podemos questionar politicamente esse projeto, mas a constitucionalidade dele me parece mais clara que a da anistia.”

No julgamento do núcleo crucial da trama golpista, em setembro, ministros da Primeira Turma alertaram ao Congresso que derrubariam qualquer perdão aos condenados. Não se pronunciaram, no entanto, sobre a diminuição das penas. “Não cabe indulto pelo presidente, não cabe anistia pelo Congresso e não cabe perdão pelo Judiciário em crimes contra a democracia”, disse Moraes na ocasião.

Uma dúvida central em caso de aprovação do PL da Dosimetria será o novo cálculo da pena de Bolsonaro. A Primeira Turma o condenou a 27 anos e três meses de prisão por cinco crimes: organização criminosa armada, golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

O relator do projeto na Câmara, Paulinho da Força (Solidariedade-SP), calcula que, de acordo com as regras atuais, o ex-presidente passaria seis anos e dez meses no regime fechado. A Vara de Execuções Penais do Distrito Federal, por sua vez, informou ao STF na semana passada que ele poderia progredir ao semiaberto  em tese  mais tarde, em abril de 2033.

Para Paulinho, mecanismos do PL da Dosimetria como a “absorção” do crime de abolição pelo de golpe e mudanças benéficas para o réu na remição da pena poderiam cortar para dois anos e quatro meses o período em que Bolsonaro permanecerá no regime fechado.

No cenário atual, portanto, o Partido Liberal, que ao longo dos últimos anos insistiu diuturnamente na cantilena da anistia, cedeu à correlação de forças e chancelou a mudança na dosimetria. A legenda alega, entretanto, que pode voltar à carga por um perdão a golpistas em 2026, o que voltaria a tensionar a relação entre o Congresso e o STF, em pleno ano de eleições gerais.

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