Política

O que pesa contra Filipe Martins, o ‘chanceler paralelo’ de Bolsonaro preso pela PF

As evidências da atuação de Martins no esquema, segundo a PGR, mostram que ele ‘exercia posição de proeminência nas tratativas jurídicas’ de cunho golpista

Foto: Divulgação
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A Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira 8, um dos principais conselheiros do presidente Jair Bolsonaro (PL). Filipe Martins, ex-assessor de assuntos internacionais do ex-capitão, foi detido na Operação Tempus Veritatis, que investiga tentativas de desestabilizar a democracia no Brasil.

Conhecido por suas posições extremadas, Martins era figura central da autoproclamada ‘ala anti-establishment’ do bolsonarismo, propositora das ideias mais amalucadas que guiaram o mandato do ex-capitão.

Entre as acusações que pesam contra Martins está a autoria do esboço da ‘minuta do golpe’, um documento apresentado a Bolsonaro com propostas para subverter a ordem democrática. Esse documento teria sido discutido até mesmo com os comandantes das Forças Armadas.

A operação que levou à sua detenção teve como ponto de partida a delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Na delação, Cid teria revelado detalhes cruciais sobre a participação direta do ex-presidente na redação da minuta, colocando Bolsonaro no centro das investigações sobre tentativas de golpe. Segundo informações da PGR detalhadas por Alexandre de Moraes na decisão que deu aval à operação, o trecho final do texto ‘decretava a prisão de diversas autoridades’, entre as quais o ministro Gilmar Mendes e o próprio Moraes, além do presidente do Senado Rodrigo Pacheco. 

As evidências da atuação de Martins no esquema, segundo a PGR, mostram que ele ‘exercia posição de proeminência nas tratativas jurídicas’, negociando com pessoas dispostas a redigir os documentos que atendessem aos interesses do grupo mais radical do bolsonarismo.

e-mails em poder da CPI do 8 de Janeiro e pedidos de Lei de Acesso à Informação, mostram que Martins esteve quatro vezes no Palácio da Alvorada em dezembro de 2022, após a derrota de Bolsonaro. 

Os investigadores suspeitam que em um desses encontros Martins levou o documento a Bolsonaro e aos comandantes das Forças Armadas do Brasil, que teriam pedido alterações no texto. A PF investiga se a minuta é a mesma encontrada na residência do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, também alvo da operação.

‘Chanceler paralelo’

Martins, também apelidado de Sorocabannon — uma referência a Steve Bannon, estrategista da campanha de Donald Trump e uma das figuras-chave da nova extrema-direita global — era parte de um grupo influente que incluía o ex-chanceler Ernesto Araújo, o filho de Bolsonaro, Eduardo, e o falecido Olavo de Carvalho, mentor intelectual desse círculo e grande fiador da indicação de Martins. 

O presidente Jair Bolsonaro, ao lado do ministro Ernesto Araújo e do assessor Filipe Martins. Foto: Reprodução/Facebook

Desde 2009, Martins acompanhava os cursos de Olavo e mantinha uma presença ativa nas redes sociais, liderando um grupo virulento de militantes pró-Bolsonaro. Em 2019, ascendeu ao posto de assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República, posição antes ocupada por figuras como o diplomata Frederico Arruda, na gestão de Michel Temer, e Marco Aurélio Garcia, durante os governos do PT. Seu protagonismo não se limitava ao aconselhamento; Martins dividia a mesa em jantares com chefes de Estado ao lado de Jair Bolsonaro e chegou a comprar briga com os militares, evidenciando sua influência dentro do governo.

Em 2021, Filipe Martins foi denunciado pelo Ministério Público Federal por ter feito gestos supostamente racistas ligados às ideias de movimentos supremacistas brancos dos Estados Unidos durante uma sessão pública no Senado. Posteriormente, contudo, foi absolvido das acusações.

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