Política
O que Carla Zambelli terá que esclarecer em depoimento à PF nesta terça-feira
Deputada é suspeita de contratar o hacker de Araraquara para invadir o sistema do CNJ


A Polícia Federal tomará o depoimento da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) na tarde desta terça-feira 14. Os investigadores, na oitiva, buscam esclarecer os detalhes da suposta contratação do hacker Walter Delgatti para uma invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça. O caso também impacta o clã Bolsonaro.
O caso em questão veio a público no início de agosto. Naquela ocasião, o hacker de Araraquara confessou ter invadido a plataforma do CNJ para incluir um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. A ação, segundo Delgatti, seria apenas uma de uma série de ‘serviços’ prestados ao bolsonarismo. Ele alega que também foi convidado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro a tentar provar uma fraude nas urnas e que Zambelli queria invadir e-mails e celulares de Moraes. Tudo, diz, intermediado por Zambelli.
Para comprovar as alegações, Delgatti forneceu detalhes dos encontros e conversas. Contra Zambelli, ele ainda apresentou aos investigadores os comprovantes de pagamentos que partiram das contas de assessores da deputada. O hacker alega que o dinheiro seria para custear a prestação do serviço criminoso. Ele sustenta que chegou a hackear o e-mail de Moraes, mas sem encontrar ‘algo comprometedor’. O celular, diz, não foi hackeado. Se obtivesse sucesso, contou, receberia um emprego fixo com a deputada.
Após as acusações, a deputada foi alvo da Polícia Federal em uma operação de buscas e apreensão no seu gabinete e em um apartamento funcional em seu nome. Assessores da deputada também foram alvos da ação policial, que terminou com a prisão preventiva de Delgatti.
À PF, Zambelli terá, portanto, que fornecer uma explicação para esses pagamentos encontrados na conta do hacker de Araraquara em nome de seus assessores. Inicialmente, ela afirmou que os valores entregues ao hacker seriam uma compensação para um serviço de redes sociais e site profissional. Segundo ela, apesar do pagamento, Delgatti nunca teria entregue o produto. Na ocasião, disse, não pediu ressarcimento por ‘dó’ da situação vivida pelo hacker.
Nos últimos dias, no entanto, Zambelli alterou a versão e passou a alegar que o valor depositado na conta de Delgatti seria o pagamento de uma compra de garrafas de bebida.
Uma outra ponta a ser questionada pelos policiais é a intermediação de Zambelli dos encontros do hacker com Bolsonaro. Segundo Delgatti, foi ela quem o levou até o ex-presidente, ocasião em que Bolsonaro teria o encorajado a arquitetar uma simulação de fraude nas urnas. Novamente, ela nega o teor das conversas e diz que levou o hacker até Valdemar Costa Neto e Bolsonaro após ele oferecer um serviço de auditoria das eleições de 2022. A oferta, segundo ela, não foi aceita pelo PL.
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