Política

O PT em queda livre

O que falta à maioria dos homens públicos é adotar um discurso condizente com uma nova realidade

Apoie Siga-nos no

por René Ruschel

 

Uma pesquisa realizada na cidade de São Paulo pelo Instituto Datafolha indica que a preferência dos eleitores paulistanos pelo Partido dos Trabalhadores caiu de 35% para 26%. De acordo com o instituto, essa variação negativa se deve a um fato pontual: a intensa repercussão na imprensa ao julgamento do chamado “mensalão” pelo Supremo Tribunal Federal. Esse mesmo movimento já havia sido detectado pelas consultas internas do partido na atual campanha à prefeitura de São Paulo. Dados mais recentes do mesmo Datafolha, que cruzou informações das eleições presidenciais de 2010 no município com os números de intenção de votos obtidos até agora na campanha de 2012, mostram que nesse período a votação do PT, em termos absolutos, encolheu na ordem de 1,08 milhão de votos. Vale ressaltar que o fenômeno se deu também com o PSDB. O surpreendente é que o cenário acontece no momento que a economia brasileira, apesar das oscilações de mercado, permanece em alta, assim como a avaliação pessoal e do governo da presidenta Dilma Rousseff. 

Para analistas e políticos essa analogia pode sugerir uma contradição, afinal, os números avaliados dizem respeito a eleições distintas: uma a presidência da república e outra à prefeitura de São Paulo. Ou seja, a cabeça do eleitor raciocina de forma diferenciada quando se trata de decidir questões nacionais daquelas que abrangem seus problemas domésticos, mais imediatos. Teoricamente o argumento é válido, no entanto, essa perda de densidade eleitoral justamente na capital do Estado onde o partido nasceu, cresceu e solidificou sua estrutura pode ser um sintoma que há algo errado em sua relação com a sociedade.

No Brasil, a escolha dos candidatos acontece de forma independente às questões partidárias. O eleitor costuma decidir por razões pessoais, simpatia ou laços de parentesco e amizade. A questão ideológica ou a avaliação das políticas públicas de governo tem pouca influência. A explicação é lógica: os partidos políticos jamais valorizaram seu conteúdo programático. As siglas servem apenas para cumprir o ritual legal, abocanhar espaços na mídia e no horário eleitoral ou servir de moeda de troca nas eleições. Nos Estados Unidos, onde o voto não é obrigatório, mas apenas um direito, o cidadão avalia a postura dos homens públicos – presidente, senador ou deputado – a partir da opção pelo partido Democrata ou Republicano.

O PT, como partido, foi incompetente para se aproximar da sociedade. Na última década, a partir dos dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os quase dois anos da presidenta Dilma Rousseff, o Brasil deu um enorme salto qualitativo em termos econômicos e socais. Não cabe aqui discutir as razões ou motivos e muito menos detalhar tais ganhos. Sem dúvida houve erros e acertos. Pela primeira vez em meio século de história o governo adotou um rol de políticas públicas que privilegiou sobremaneira as classes mais necessitadas e mudou a cara desse país. As provas são os índices de popularidade que o presidente Lula atingiu ao deixar o Palácio do Planalto, além de eleger sua sucessora – uma mulher que jamais havia disputado um cargo público.

Não obstante todos esses dividendos, o PT foi incapaz de intensificar e aprimorar o debate político, de buscar uma relação mais próxima com o eleitor para expor e discutir os projetos de governo e justificar o que deixou de realizar. Essa tática é parte de qualquer estratégia política e cabe aos partidos executá-la. Caso tenha realizado, foi ineficaz na execução – salvo um ou outro ponto factual. Não fez a lição de casa que qualquer aluno de primeiro grau faria. Deitou em berço esplêndido e acreditou na força de suas lideranças.

Os partidos políticos brasileiros, sem exceção, são arcaicos e autoritários em sua estrutura formal, dominados por velhos caciques que pressupõem poderes para adestrar a sociedade e o próprio partido. Felizmente a dimensão de mundo não está mais restrita aos espaços geográficos nem aos interesses de uma minoria que subestima e minimiza a capacidade de decisão da população. A era da informação, da comunicação tecnológica cada vez mais integrada mudou radicalmente o panorama da história. O que falta a maioria dos homens públicos é adotar um discurso, uma postura ética condizente com essa nova realidade.

Mas isso só acontece às vésperas das eleições.

por René Ruschel

 

Uma pesquisa realizada na cidade de São Paulo pelo Instituto Datafolha indica que a preferência dos eleitores paulistanos pelo Partido dos Trabalhadores caiu de 35% para 26%. De acordo com o instituto, essa variação negativa se deve a um fato pontual: a intensa repercussão na imprensa ao julgamento do chamado “mensalão” pelo Supremo Tribunal Federal. Esse mesmo movimento já havia sido detectado pelas consultas internas do partido na atual campanha à prefeitura de São Paulo. Dados mais recentes do mesmo Datafolha, que cruzou informações das eleições presidenciais de 2010 no município com os números de intenção de votos obtidos até agora na campanha de 2012, mostram que nesse período a votação do PT, em termos absolutos, encolheu na ordem de 1,08 milhão de votos. Vale ressaltar que o fenômeno se deu também com o PSDB. O surpreendente é que o cenário acontece no momento que a economia brasileira, apesar das oscilações de mercado, permanece em alta, assim como a avaliação pessoal e do governo da presidenta Dilma Rousseff. 

Para analistas e políticos essa analogia pode sugerir uma contradição, afinal, os números avaliados dizem respeito a eleições distintas: uma a presidência da república e outra à prefeitura de São Paulo. Ou seja, a cabeça do eleitor raciocina de forma diferenciada quando se trata de decidir questões nacionais daquelas que abrangem seus problemas domésticos, mais imediatos. Teoricamente o argumento é válido, no entanto, essa perda de densidade eleitoral justamente na capital do Estado onde o partido nasceu, cresceu e solidificou sua estrutura pode ser um sintoma que há algo errado em sua relação com a sociedade.

No Brasil, a escolha dos candidatos acontece de forma independente às questões partidárias. O eleitor costuma decidir por razões pessoais, simpatia ou laços de parentesco e amizade. A questão ideológica ou a avaliação das políticas públicas de governo tem pouca influência. A explicação é lógica: os partidos políticos jamais valorizaram seu conteúdo programático. As siglas servem apenas para cumprir o ritual legal, abocanhar espaços na mídia e no horário eleitoral ou servir de moeda de troca nas eleições. Nos Estados Unidos, onde o voto não é obrigatório, mas apenas um direito, o cidadão avalia a postura dos homens públicos – presidente, senador ou deputado – a partir da opção pelo partido Democrata ou Republicano.

O PT, como partido, foi incompetente para se aproximar da sociedade. Na última década, a partir dos dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os quase dois anos da presidenta Dilma Rousseff, o Brasil deu um enorme salto qualitativo em termos econômicos e socais. Não cabe aqui discutir as razões ou motivos e muito menos detalhar tais ganhos. Sem dúvida houve erros e acertos. Pela primeira vez em meio século de história o governo adotou um rol de políticas públicas que privilegiou sobremaneira as classes mais necessitadas e mudou a cara desse país. As provas são os índices de popularidade que o presidente Lula atingiu ao deixar o Palácio do Planalto, além de eleger sua sucessora – uma mulher que jamais havia disputado um cargo público.

Não obstante todos esses dividendos, o PT foi incapaz de intensificar e aprimorar o debate político, de buscar uma relação mais próxima com o eleitor para expor e discutir os projetos de governo e justificar o que deixou de realizar. Essa tática é parte de qualquer estratégia política e cabe aos partidos executá-la. Caso tenha realizado, foi ineficaz na execução – salvo um ou outro ponto factual. Não fez a lição de casa que qualquer aluno de primeiro grau faria. Deitou em berço esplêndido e acreditou na força de suas lideranças.

Os partidos políticos brasileiros, sem exceção, são arcaicos e autoritários em sua estrutura formal, dominados por velhos caciques que pressupõem poderes para adestrar a sociedade e o próprio partido. Felizmente a dimensão de mundo não está mais restrita aos espaços geográficos nem aos interesses de uma minoria que subestima e minimiza a capacidade de decisão da população. A era da informação, da comunicação tecnológica cada vez mais integrada mudou radicalmente o panorama da história. O que falta a maioria dos homens públicos é adotar um discurso, uma postura ética condizente com essa nova realidade.

Mas isso só acontece às vésperas das eleições.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo